sábado, 1 de agosto de 2015

INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES Mestrado em Ciências Militares, Segurança e Defesa 2014/2015 TII PARA DISSERTAÇÃO DO MCMSD INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES A GUERRA EM MOÇAMBIQUE (1964-1974): O IMPACTO DA FRENTE DE CABO-DELGADO NA LUTA PELA INDEPENDÊNCIA NACIONAL MAJ INF Silva Anli Trabalho de Investigação Individual para dissertação do MCMSD – 2014/2015 Pedrouços 2015 INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES A GUERRA EM MOÇAMBIQUE (1964-1974): O IMPACTO DA FRENTE DE CABO-DELGADO NA LUTA PELA INDEPENDÊNCIA NACIONAL MAJ INF Silva Anli Orientador: Tenente-Coronel INF (Doutor) Francisco Proença Garcia Coorientador: Tenente-Coronel INF (Doutor) Samuel Luluva Trabalho de Investigação Individual para dissertação do MCMSD 2014/2015 Pedrouços 2015 Agradecimentos Agradeço antecipadamente todos aqueles que se dedicam aos estudos estratégicos militares no IESM, da Guerra e Paz no IESM, da Doutrina de conduta das Operações no IESM, convista a contribuir para que as nações tendem para uma opção da defesa coletiva. Os meus agradecimentos são extensivos à todos camaradas da turma de MCMSD 2014-2015, em especial àqueles camaradas que constituíram a turma do CEMC 2013-2014, com particular atençăo ao Excelentíssimo Director do CEMC-2013-2014, senhor coronel Ribeiro que, com muita humildade fez-nos ser o que hoje somos. Seria impossível esquecer o meu agradecimento aos funcionários do IESM que quão contribuíram para que o nosso Curso fosse concretizado de forma global. Dedico com gratidão ao Diretor do Curso do MCMSD 2014-2015, que mostrou grande capacidade de direcção em áreas académicas. Não posso também esquecer o grande desempenho e reforço intelectual que me foi prestado pelo senhor Tenente- coronel Lousada, por sinal, foi o mentor desta dissertação, ele, (Tenente-Coronel Lousada do IESM), foi o meu primeiro orientador nesta dissertação, os meus sinceros agradecimentos, jamais o esquecerei nesta linhagem académica internacional. Devo agradecer a humildade académica do senhor Tenente-coronel Eugénio do IESM-ISEDEF, que prontamente se dispôs a prestar-me acervos académicos de carácter transversal, para que esta dissertação, toma-se um rumo racional. Ao meu orientador, o senhor Tenente-Coronel Garcia do IESM, que de forma incansável e firmeza académica, soube prestar uma orientação objetiva e profunda até que esta dissertação se tornou uma realidade académica proeminente. Aproveito também o ensejo, para agradecer ao meu Coorientador, senhor Tenente-Coronel Samuel Luluva do ISEDEF, que face-a-face me prestou uma ajuda acompanhada de discussões inteligentes que encaminharam esta dissertação à uma finalidade aceitável. Imprescindivelmente, aproveito o ensejo, para agradecer aos meus familiares que passo a passo, souberam me encorajar, com uma atitude de apoio multidimensional, por forma a concretizar a presente dissertação, muito obrigado, pois, a ciência é incentivadora de continuidade multidisciplinar…! Índice Introdução 1 a. Tema 6 b. Enquadramento e relevância do tema 7 c. Delimitação do tema 8 d. Metodologia de estudo 8 e. Amostra 10 f. População de Pesquisa 11 g. Estado da arte 11 h. Problematização do objeto de estudo – Modelo de análise 12 i. Pergunta de partida 12 j. Perguntas Derivadas 12 k. Hipóteses de Trabalho 13 1. Da guerra de guerrilha - Enquadramento conceptual 14 2. Moçambique no contexto das guerras de libertação africanas 35 3. A Frente de Combate de Cabo-Delgado na Luta de Libertação Nacional 50 3.1.Análise sócio militar da Frente de Combate de Cabo-Delgado 52 3.2.Caraterização político-militar da FRELIMO 56 3.3.Organização do Exército Português e metodologia de emprego de forças 67 4. Duas vontades em confronto – Descrição analítica do desenvolvimento da guerra 83 4.1.Análise e discussão de dados 99 Conclusão 103 Bibliografia 108 Anexo 114 Índice de Apêndices Apendice 1 - Corpo de Conceitos 111 Índice de Figuras Figura n° 1-Estratégia da guerrilha 31 Figura n° 2 -Mapa dos países de movimentos de libertação nacional 39 Figura n° 3-Disposição das Forças da guerilha da FRELIMO 52 Figura n° 4-Organização Politica Militar da FRELIMO 57 Figura n° 5-Armamento do exército português 73 Figura n° 6- Artilharia do exército português usada contra a guerrilha da FRELIMO 74 Figura n° 7- Armamento usado pela guerrilha da FRELIMO contra o exército português. 76 Figura n° 8- Minas usadas durante a guerra de libertação nacional. 79 Figura n° 9 - Explosão de uma mina na frente de Cabo-Delgado. 80 Índice de Tabelas Tabela n° 1. Caraterização de amostra segundo a categoria funcional dos guerrilheiros 10 Tabela n° 2. resultados dos inquiridos sobre o impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional (1964-1974) 100 Tabela n°3. opinião dos entrevistados, antigos guerrilheiros da frente de Cabo-Delgado. 101 Resumo As teorias sobre a guerra, guerrilha, guerra de guerrilha, subversão e insurgência, mostram garantidamente que todos os estados não têm capacidade, sozinhos de fazer face às ameaças de ciberguerra. As teorias sobre a guerra e similares, têm na sua maioria aplicabilidade contingencional, servem para os movimentos inpendendistas para levarem a cabo os seus ideiais de liberdade dos territórios em crise. A nossa pesquisa foi centrada na frente de Cabo-Delgado, onde se registou os confrontos decisivos entre a guerrilha da FRELIMO e o exército português. A concentração de esforços militares dos dois beligerentes no planalto de Mueda ou planalto dos makondes, transformou a frente de Cabo-Delgado, como sendo o “centro de gravidade” da guerra em Moçambique, (1964-1974). Sendo assim, a nossa dissertação centrou-se no estudo do comportamento dessa frente durante as hostilidades, em particular trazer o enfoque do desenvolvimento da guerra de guerrilha nessa frente. A discussão cingiu-se em perceber como a guerrilha da FRELIMO da frente de Cabo-Delgado, concebeu a sua estratégia para rechaçar a superioridade militar do exército português, em efectivos, materiais de guerra, visto que, a guerrilha da FRELIMO, estava numa situação de inferioridade em todos aspectos no início da guerra em Setembro de 1964. Foi muito valiosa esta discussão, ficamos a saber melhor como a guerrilha da FELIMO na frente de Cabo-Delgado desenvolveu mecanismos da guerra de guerrilha a partir de simples armas sem grande poder de fogo até conseguir a vitória no campo de batalha contra os soldados portugueses. Em síntese, podemos corroborar com as teorias de guerra e paz, porque traduzem aspectos similares das expêriências vividas em situações de guerra e de paz. Todavia a guerra em Moçambique (1964-1974), foi um fenómeno precurssor da unidade dos moçambicanos, para alcançarem a liberdade contra o jugo colonial. Decorridos dez anos de luta armada contra o invasor, proclamou a sua independência a 25 de Junho de 1975, foi o Abstract Theories about the war, guerrilla, guerrilla warfare, subversion and insurgency, show guaranteed that all states are unable by themselves to address the threat of cyberwar. Theories about the war and the like, have mostly applicability contingencional serve for inpendendistas movements to carry out their ideals of freedom of the territories in crisis. Our research was focused in front of Cabo Delgado, where there was the decisive clashes between the guerrillas of FRELIMO and the Portuguese army. The concentration of military efforts of the two beligerentes in Mueda plateau or plateau of the Makonde, turned the front of Cabo Delgado, as the "center of gravity" of the war in Mozambique, (1964-1974) . Thus, our thesis focused on this front the study of behavior during hostilities, particularly to bring the focus of the development of guerrilla warfare that front. The discussion girded up to understand how the guerrillas FRELIMO front of Cabo Delgado, has designed its strategy to fend off the military superiority of the Portuguese army in effective, war materials, since the guerrillas FRELIMO, was in a situation inferiority in all aspects at the beginning of the war in September 1964. It was very valuable this discussion, we learn better how to guerrilla FRELIMO in front of Cabo Delgado has developed mechanisms of guerrilla war from simple weapons without much firepower to achieve victory on the battlefield against the Portuguese soldiers. In short, we can corroborate the theories of war and peace, because they represent similar aspects of the experiences in war and peace situations. However the war in Mozambique (1964-1974), was a precursor phenomenon of unity of Mozambicans, to achieve freedom from the colonial yoke. Ten years of armed struggle against the invader, proclaimed its independence on 25th June. Palavras-chave FRELIMO, Frente de Cabo-Delgado, Guerra, Guerra de Guerrilha, Exército Português, Luta Armada. Lista de abreviaturas ALN Ação Libertador Nacional A/P Anti-Pessoa A/C Anti-Carro COFI Comando das Forças de Intervenção CTN Comando Territorial Norte CS Comando Setorial CEMGFA Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas CEMC Curso do Estado-Maior Conjunto DN Defesa Nacional DD Departamento de Defesa EUA Estados Unidos da America FRELIMO Frente de libertação de Moçambique FARC Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia FNLA Frente Nacional de Libertação de Angola INDE Instituto Nacional do Desenvolvimento de Educação IESM Instituto de Estudos Superiores Militares ISEDEF Instituto Superior de Estudos de Defesa INAM Instituto Nacional de Metrologia INE Instituto Nacional de Estatistica IRA Exército Republicano Irlandês MANU União Africana Nacional de Moçambique MPLA Movimento Popular de Libertação de Angola MCMSD Mestrado de Ciências Militares Segurança e Defesa MIC Metodologia de Investigação Cientifica MR8 Movimento Revolucionário 8 de Outubro MAE Ministerio de Administraçao Estatal NATO Organização do tratado Atlântico Norte ONU Organização das Nações Unidas PIDE Policia Internacional de Defesa do Estado PAIGC Partido Africano para Independência da Guiné e Cabo-Verde PQG Programa Quinquenal do Governo PM Pistola Metralhadora RFA República Federativa de Alemanha TII Trabalho de Investigação Individual TNT Explosivo de fabrico Russo URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas UNITA União Nacional da Independência Total de Angola UDENAMO União Democrático Nacional de Mocambique UNAMI União Nacional para Moçambique Independente UPA União das Populações de Angola Introdução A nossa dissertação sobre o tema “ a guerra em Moçambique (1964-1974). O impacto da Frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional ”, visa estrategicamente, trazer novos reportórios sobre a decorrência dos 10 anos da luta armada de libertação nacional entre a guerrilha da (FRELIMO) Frente de Libertação de Moçambique e o exército português. Portanto, a resistência aos colonialistas portugueses em Moçambique, inicia desde a sua presença em 1498, isto é, nos finais do século 15. A opressão colonial desenvolveu mecanismos de escravatura, ou seja, o comércio de escravos, trouxe uma insegurança permanente no seio da população moçambicana. A penetração colonial em Moçambique, foi sempre difícil para o colonizador, nos séculos 16, 17, 18 e 19 chegaram muitos portugueses a Moçambique com intenções comerciais, pois, Portugal estava interessado em explorar diretamente as riquezas moçambicanas, por exemplo, o ouro, o marfim, o algodão, o tabaco e a cana-de-açúcar e cuja politica agrícola era pouco inteligente, ou quase desinteligente, pois se limitava em obrigar os moçambicanos a cultivar esses produtos com métodos opressivos e desumanos. Nos finais do século 19, o colonizador vendo cada vez mais agudizada a resistência popular contra o agressor, Portugal enviou para Moçambique mais soldados e um poderoso armamento na tentativa de conquistar e dominar, ou seja planeando uma ocupação efetiva de 1895-1920, tendo não conseguido, porque na verdade, Portugal nunca ocupou efetivamente o território moçambicano. Estamos assim perante um período em que Portugal desenvolve ocupações insignificantes, simplesmente de âmbito militar, por exemplo, na zona sul de Moçambique, a resistência era dita como terminada nos meados de 1897 com a derrota das tropas do general moçambicano Maguiguana. Seguidamente, as tropas regulares de Portugal, até finais de 1902 tinham destruído o último estado de base Zambeziano, isto é, a tentativa de ocupação já estava no centro de Moçambique, por exemplo, Gorongosa em 1897, Macanja da Costa em 1898 incluindo o estado de Bárué em 1902. Estamos aqui perante uma conquista apenas militar e parcial e que como veremos nos desenvolvimentos desta dissertação, vai culminar no salto qualitativo: de simples resistência popular à luta armada de libertação nacional, como consequência dos antecedentes de uma colonização opressora e desumana. Indo já para a zona norte de Moçambique, que compreende, Nampula, Niassa e Cabo-Delgado, a conquista não foi fácil, apesar de muitos reforços recebidos, ao ponto de o seu comandante na altura Mouzinho de Albuquerque ter se demitido a 10 de Julho de 1898. Até Junho de 1910, Nampula já tinha sido ocupado militarmente pelo colonizador. Portanto, em 1912, as zonas de Niassa e Cabo-Delgado, era já conquistada militarmente, embora parcial. Ainda assim, no decurso da 1ª Guerra Mundial, a situação militar se deteriorou para Portugal com as revoltas constantes dos makondes do planalto de Mueda em Cabo-Delgado, como veremos nesta dissertação. Porém, apesar do avanço impetuoso das tropas Portuguesas, usando metralhadoras contra lanças e setas dos revoltosos Moçambicanos, o colonizador sempre sofria baixas de vária ordem, devido ao descontentamento geral da população Moçambicana. Um general do contingente Português durante as incursões de conquista do território moçambicano, é citado pelo INDE, (1986, p.46), dizendo”: …aqui o inimigo é muito conhecedor das armas de fogo e esconde-se no mato de onde atira para as nossas tropas, ora ataca num lugar ora noutro, por isso a nossa táctica de quadrado não da bons resultados aqui”. Ora, as resistências contra o colonizador eram diversas, por exemplo, enquanto as lutas travadas no sul de Moçambique, se caracterizaram pelo confronto direto entre os guerreiros e as tropas Portuguesas, dando sempre uma relativa vantagem as tropas Portuguesas, já no norte de Moçambique os guerreiros usavam a tatica de emboscadas, em que as tropas Portuguesas eram surpreendidas por ataques de surpresa. Esta tática consistia numa maior movimentação dos guerreiros em pequenos ou grandes grupos, que ora atacavam ora se dispersavam habilmente e com maior rapidez, aproveitando as montanhas, as florestas, o capim alto, facilitando-lhes o acervo combativo. Ademais, a tática de emboscadas, cansava e atrapalhava frequentemente as tropas Portuguesas, conduzindo-os a sucessivas derrotas, por isso, nunca conseguiram uma ocupação efetiva em Moçambique, essencialmente no norte de Moçambique. Foi com esta tática de emboscadas que os guerrilheiros da FRELIMO desenvolveram as suas ações durante a luta armada de libertação nacional contra o exército Português, como veremos nas discussões durante esta dissertação. Como dissemos acima, a resistência dos Moçambicanos caraterizou-se de várias formas, tais como a recusa ao pagamento de impostos, a fuga para países vizinhos, greves, destruição de máquinas e formação de movimentos políticos para lutar contra o colonialismo Português. A partir de 1959, já havia muitos Moçambicanos com a ideia de se organizarem em grupos para a constituição de uma luta armada contra o colonialismo. Por isso, entre 1959 e 1961, formaram-se três movimentos, a saber: a (MANU) União Africana Nacional de Moçambique, a (UDENAMO) a União Democrática Nacional de Moçambique, e a (UNAMI) União Nacional para Moçambique Independente, (Machungo, 2010, pp.59-61). Diferentemente dos modelos de resistência popular dos reinos e impérios antigos, onde a contradição, a desunião, o ódio, a escravatura entre eles, foram fenómenos dominantes, o que facilitou a penetração colonial no território moçambicano. O colonialismo estava confiante no fim da resistência do povo moçambicano, eis que surgem por toda parte moçambicanos que formaram grupos inteligentes continuando a luta dos seus antepassados. Assim, alguns dirigentes desses movimentos nacionalistas, contactaram o governo colonial Português, exigindo a independência de Moçambique e melhores condições de vida para os moçambicanos, eis aqui a resposta do governo Português, segundo INDE, (1986,p.62), citando Alberto Joaquim Chipande que conta o que aconteceu no planalto de Mueda no dia 16 de Junho de 1960: “Alguns desses homens tinham entrado em contacto com as autoridades coloniais e pedindo maior liberdade e melhor salário…, Tempos depois, quando o Povo começava apoiar estes chefes, os Portugueses mandaram a polícia às aldeias, convidando as pessoas para uma reunião em Mueda”. Vários milhares de pessoas vieram ouvir o que os Portugueses iriam dizer. Enquanto isto decorria, o administrador de Mueda pedia ao governador da província de Cabo-Delgado que viesse de Porto Amélia (actual Pemba), e trouxesse uma companhia de soldados. Mas estes esconderam-se quando chegaram a Mueda. De princípio não os vimos. Então o governador convidou os nossos chefes a entrar no gabinete do administrador de Mueda. Eu esperei de fora. Estiveram lá durante quatro horas. Quando surgiram na varanda, o governador perguntou à multidão se alguém queria falar. Muitos quiseram fazê-lo e o governador mandou que todos passassem para o mesmo lado. Então sem mais palavras, ordenou à polícia que amarrasse as mãos de todos os que tinham sido separados e a polícia começou a espancá-los. Eu estava perto. Vi tudo. Quando o povo viu o que estava acontecer manifestou-se contra os Portugueses e por seu turno, os portugueses ordenaram pura e simplesmente aos carros da polícia que avançassem e reunissem os presos. Isso desencadeou mais manifestações. Nessa ocasião as tropas estavam ainda escondidas e o povo correu para a polícia na tentativa de impedir que os presos fossem levados. Então o governador impaciente com a situação, chamou as tropas e quando apareceram mandou abrir fogo contra a população. Foram mortas cerca de seiscentas pessoas.” No entanto, o massacre de Mueda, incentivou que os moçambicanos se organizassem e tomassem uma consciência, de modo a que o desencadeamento de uma luta armada fosse determinante para a aquisição da independência nacional. Portanto, a libertação de Moçambique da dominação colonial Portuguesa exigia que os moçambicanos estivessem unidos entre si. Para a união dos moçambicanos muitos compatriotas se destacaram, dentre eles, o nacionalista Eduardo Chivambo Modlane, (Machungo, 2010, pp.60-64). Com a intenção de unidade nacional, Eduardo Chivambo Mondlane, em 25 de Junho de 1962, em Dar-Es-Salaam, uniu todos movimentos nacionalistas, em uma só frente, em uma só luta, e funda a Frente de Libertação de Moçambique, contra o colonialismo Português. INDE, (1986, p.65), cita Eduardo Chivambo Mondlane, na sua visita que efectuou à Moçambique em 1961, na altura trabalhador da (ONU) Organização das Nações Unidas dizendo: “ Depois desta viagem, decidi deixar definitivamente a ONU e regressar a África para organizar o movimento de libertação Nacional, incitando o povo de Moçambique a lutar pela sua independência. Nessa época já tinha travado conhecimento com o Dr. Julius Nyerere e que me assegurou que, se fosse para Tanganiyka depois da independência, o seu governo facilitar-me-ia o trabalho de organização de um movimento para a independência de Moçambique. Eu tinha estabelecido contactos com todos movimentos e partidos que tinham se formado nessa altura para lutar contra o colonialismo em Moçambique, mas tinha recusado entrar para qualquer deles, colocando-me entre os que procuravam, por todas as formas conseguir a sua Unidade no período de 1961 a 1962…”. Eduardo Chivambo Mondlane, foi uma figura incansável na luta pela unidade do povo moçambicano e pela libertação da sua pátria. Foi o construtor da Unidade Nacional. Ele definiu correctamente o inimigo como sendo o colonialismo Português e decidiu combate-lo por todos os meios, incluindo a luta armada. Definiu a unidade como arma fundamental a luta contra o colonialismo Português, e provou que a divisão dos moçambicanos era a causa maior do fracasso da resistência histórica dos nossos antepassados ao colonialismo português. Ele, inclui a luta armada porque? Como dissemos acima, nesta discussão introdutória, antes da fundação da FRELIMO, os moçambicanos tinham já procurado obter a independência por meios pacíficos, contactando várias vezes o governo colonial, este sempre se recusou a dar a independência aos moçambicanos, respondendo com massacres, por exemplo, dos vários massacres perpetrados contra o povo, recordamos o de Mueda em Cabo-delgado, no planalto de Mueda, onde mais de 600 moçambicanos foram mortos, (Pelembe, 2011). Como podemos já depreender, a nossa dissertação, sobre “ a Guerra em Moçambique (1964-1974). O impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional ”, nos oferece um rico reportório do centro de conflitualidade como sendo o “planalto de Mueda”, conhecido também como “o planalto dos Macondes”. Assim, para a concretização da luta armada, Eduardo Chivambo Mondlane, conforme cita INDE, (1986, p.67), em 25 de Setembro de 1964, declara: “Hoje, face à constante recusa do governo Português em reconhecer o nosso direito à independência, a FRELIMO reafirma que a luta armada é a única via que permitirá ao povo moçambicano realizar as suas aspirações à Liberdade, Justiça e Bem-Estar Social”. Foi com este apelo que muitos jovens moçambicanos aderiram à FRELIMO, muitos deles foram enviados para os países amigos, por exemplo, Tanzânia, Argélia, China, a Ex-União Soviética, onde foram treinados como guerrilheiros da FRELIMO. Como aqui vimos, o levantamento do nosso tema, para a dissertação, “ a guerra em Moçambique (1964-1974). O impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional” , há uma clara relação dos cenários de guerrilha, como sendo o centro de gravidade quer das operações militares das tropas portuguesas, tanto da guerrilha da FRELIMO. Assim, para fazer face ao desenvolvimento da nossa dissertação, que nos propomos a apresentar, alinhamos com quatro Capítulos e obedecemos à seguinte estrutura de agenda: Introdução; Cap. 1 – Da guerra de guerrilha - Enquadramento conceptual; Cap. 2 – Moçambique no contexto das guerras de libertação Africanas; Cap. 3 – A frente de combate de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional; Cap. 4 – Duas vontades em confronto – Descrição analítica do desenvolvimento da guerra; Conclusão; Bibliografia. a. Tema O tema proposto “ A Guerra em Moçambique (1964-1974) ”: O impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional” surge na sequência do cumprimento do programa do IESM no contexto curricular do Mestrado em Ciências Militares, Segurança e Defesa (MCMSD) 2014-2015, para a dissertação que visa capacitar os discentes na elaboração de uma pesquisa individual para a verificação de aprendizagem no capítulo de Metodologia de Investigação Científica (MIC). Daí a elaboração do presente Trabalho de Investigarão Individual (TII) para a dissertação, como condição de aquisição do grau de Mestre em Ciências Militares-Segurança e Defesa. O grande interesse do desenvolvimento do nosso tema para a dissertação, visa profundamente, usando métodos descritivos transversais, procurar explicar, como foi o desenrolar das hostilidades dos dois beligerantes, a FRELIMO e o Exército português durante os 10 anos de Batalhas constantes. Priorizar a frente de Cabo-Delgado, em especial no Distrito de Mueda, ou seja, o planalto de Mueda, como sendo o centro de gravidade dos confrontos dos dois atores, onde de fato os cenários operacionais nos parecem terem atingido maior amplitude em termos de guerra de guerrilha entre os dois atores, (FRELIMO e o exército português). Muitos autores dão grande relevância as hostilidades entre os guerrilheiros da FRELIMO e o exército português, na frente de combate de Cabo-Delgado, no Distrito de Mueda, como sendo aquelas que definiram realmente a luta armada de libertação nacional, contra o colonialismo português. Tanto a FRELIMO quanto o exército português, tinham focalizado o impato da luta armada em Mueda, ou seja, um todo, a partir dum ponto estratégico militar. b. Enquadramento e relevância do tema Fez cinquenta anos desde que se iniciou a guerra em África travada entre as Forças Armadas Portuguesas e os movimentos de libertação das antigas províncias ultramarinas portuguesas. Em Moçambique, a guerra deflagrou precisamente há meio século, quando a FRELIMO executou a primeira ação em 25 de Setembro de 1964, com um ataque à localidade de Chai, na Província de Cabo- Delgado, estendendo depois a sua ação ao Niassa, a Tete e ao centro do território moçambicano. Atualmente, os estudos sobre a origem das guerras em África têm contribuído para que os Estados Africanos façam uma reflexão profunda, para evitar guerras. Atualmente a dinâmica do conceito de guerra, ou da Luta Armada, tem sofrido transformações, almejando-se uma segurança coletiva das Nações. No plano Nacional, é importante dar contribuições de entendimento relativamente às motivações da luta armada no mundo, em África e aos movimentos independentistas em particular, na antiga colónia Portuguesa de Moçambique, concretamente analisar a luta armada em Moçambique (1964-1974), em particular na frente de Cabo-Delgado, em especial, no seu centro de gravidade no planalto de Mueda. As contribuições deste tema poderão ser assumidas como relevantes no aspeto do esforço multissetorial feito pelo exército Português naquela frente, quer em termos político-sociais, militares ou de infraestruturas, o mesmo acontecendo com a atividade de guerrilha da FRELIMO e as formas de luta armada desenvolvidas pelos atores em confronto militar, no período (1964-1974). Portanto, este tema, cuja dissertação levanta variáveis que poderão nos ajudar a compreender melhor em que consistia a frente de Cabo-Delgado na luta armada de libertação nacional (1964-1974) e pela independência nacional. Ademais, os estudos sobre as áreas da nossa formação contribuem bastante para o treino das nossas capacidades, como oficiais do Estado-Maior, e sobretudo como agentes de coordenação para a tomada de decisão ao nível do Estado-Maior, quer da Marinha, da Força Aérea e do Exército. Por isso, o nosso tema é assaz pertinente e a sua dissertação poderá trazer alguns complementos práticos conducentes às capacidades de um oficial do Estado-Maior Conjunto. Convém ainda referir que a guerra de África em geral e o teatro de Moçambique em particular é estudado quase sempre do ponto de vista do lado português e da sua componente militar, ignorando a especificidade da guerrilha moçambicana, concretamente os objetivos, os meios humanos, organização político-militar, a capacidade combativa e a forma de fazer a guerra de guerrilha. Em resumo, esta dissertação de Mestrado procura analisar a guerra em Moçambique no espaço de uma década (1964-1974), orientada para a frente de Cabo-Delgado e dando especial referência à guerrilha da FRELIMO, sem ignorar a componente militar portuguesa e as suas capacidades combativas decorrentes nos dez anos de Batalhas. c. Delimitação do tema O tema aborda, em termos gerais, a guerra travada em Moçambique entre o exército português e o movimento de libertação Moçambicano da FRELIMO, entre 1964-1974, e desenvolve e analisa as caraterísticas da guerra da Frente de Cabo-Delgado, com especial incidência nas ocorrências do Distrito de Mueda. Esta escolha, se explica pela grande importância que o Distrito de Mueda desempenhou durante a luta armada de libertação nacional e pela facilidade de encontrar testemunhos que participaram nos confrontos com o exército português em suas campanhas, contra a resistência dos guerrilheiros da FRELIMO. d. Metodologia de estudo As áreas do conhecimento que utilizamos para estudar o tema de tese são a História e a variante da História Militar, sem ignorar a importância da Estratégia. Com a História percorrem-se os acontecimentos de forma cronológica e factual, com a História Militar analisamos o contexto de guerra e com a Estratégia enquadramos os factos a nível da conjuntura de Portugal, de África e do mundo em geral. O principal instrumento de recolha de dados que usamos durante a nossa pesquisa, será a confrontação documental, revisão bibliográfica que versa sobre a guerra de guerrilha, depoimentos dos antigos combatentes que participaram na frente de Cabo-Delgado, quer de Portugal e de Moçambique, entre outros que podem nos ajudar a esclarecer, “ a Guerra em Moçambique (1964-1974). O impacto da Frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional.” Sendo uma pesquisa eminentemente do campo, nos propomos a priorizar uma metodologia descritiva qualitativa transversal. Segundo Godoy (1995, p. 58), “com a abordagem qualitativa, exploratória e descritiva transversal, é possível partir de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve”. Ela também possibilita o envolvimento de dados descritivos e o contato direto do pesquisador, que é o instrumento fundamental, procurando entender o fenómeno estudado de acordo com os sujeitos da pesquisa (Godoy, 1995, pp. 58-68). Desta maneira, num primeiro momento vamos reunir os dados necessários que possam nos ajudar a desenvolver a nossa pesquisa, por exemplo, inquéritos. Em segundo lugar, identificar os aspetos relevantes conducentes ao “impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional ”. Desta maneira, vamos procurar sinalizar e examinar as estratégias usadas durante os confrontos dos dois atores – a guerrilha da FRELIMO e o exército profissional português. Neste aspeto, Trivinos (1994, p. 128), recortda que a “pesquisa qualitativa é essencialmente descritiva, sendo que a interpretação dos resultados é a totalidade de uma especulaçao que tem como base a perceção de um fenómeno num dado contexto”. Por isso não é vazia, mas coerente, lógica e consistente” (Trivinos, 1994, p.128). Num último momento, porventura o mais importante da nossa dissertação, pretendemos apresentar contribudos concretos no concernente ao ideal de ausência de guerra no contexto nacional e internacional, almejando uma defesa coletiva das nações. Em termos de técnicas e instrumento de recolha de dados, serão diretas e indiretas, por exemplo, a técnica direta consiste no estabelecimento do inquérito ou questionários com vista a recolha de algumas informações para a elaboração da pesquisa. Também será feita a técnica de análise documental, como acima nos referimos, através da recolha bibliográfica que tem como objetivo a recolha de abordagens já realizadas no âmbito da nossa pesquisa. Quanto a considerações éticas, vamos atender os objetivos do estudo. Inicialmente foi estabelecido o contato no sentido de se mobilizar os antigos guerrilheiros da FRELIMO de modo a que aceitem as entrevistas, os inquéritos ou questionários que decorrerão nos princípios de Dezembro de 2014. Ora, esclarecido a situação dos inquéritos e questionários, não há necessidade de identificação dos inquiridos. De seguida, os efetivos dos ex-guerrilheiros da FRELIMO, vão receber os questionários para os devidos procedimentos. O trabalho está organizado em 4 (quatro) Capítulos, como já referimos na nossa introdução, obedece a seguinte estrutura: Introdução; Cap. 1 – Da guerra de guerrilha - enquadramento conceptual; Cap. 2 – Moçambique no contexto das guerras de libertação Africanas; Cap. 3 – A frente de combate de Cabo-Delgado na luta de libertação nacional; Cap. 4 – Duas vontades em confronto – Descrição analítica do desenvolvimento da guerra; Conclusão; Bibliografia e Apêndice. Esta estrutura obedece à uma exigência holística, de modo a que a nossa dissertação corresponda uma expetativa crescente, facilitando o seu desenrolar, tornando-a mais simples na sua compreensão e sequência lógica. e. Amostra Segundo Godoy, (1995, p. 58), a amostragem faz parte do processo de seleção e escolha dos elementos de uma população. Para construir uma amostra, julgamos pertinente trabalhar com 15 guerrilheiros com grau de soldado, dos quais 11 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, 16 sargentos de guerrilha, dos quais 12 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, 20 oficiais de guerrilha, dos quais 17 do sexo masculino e 3 do sexo femenino, 19 civis que ajudavam os guerrilheiros, dos quais 18 do sexo masculino e 1 do sexo feminino. No total são 70 elementos a inquirir. A escolha desta amostra, visa perceber até que ponto “ a guerra em Moçambique (1964-1974), o impacto da Frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional ”, pode ser explicado a este nível de dissertação. Tabela n° 1. Caraterização de amostra segundo a categoria funcional dos guerrilheiros Sexo Categ Masculino Feminino Total Total Geral Nr % Nr. % soldado 11 15.7 4 5.7 15 21.4 Sargent 12 17.2 4 5.7 16 22.9 Oficiais 17 24.3 3 4.3 20 28.6 Civis 18 25.7 1 1.4 19 27.1 Total 58 82.7 12 17.1 70 100% Fonte: Dados recolhidos pelo autor durante a pesquisa Ora, observando bem a tabela número 1, referente aos indivíduos inquiridos, segundo a categoria e de acordo com o sexo, podemos verificar que do total da amostra setenta (70), 15 representam o universo dos soldados que correspondem a 21,4%, 16 fazem do universo dos sargentos perfazendo 22,9%, 20 são os de universo de oficiais totalizando 28,6% e 19 são do grupo de participantes da guerrilha civis, representando cerca de 27,1%. Porém, em relação ao sexo, podemos afirmar com atenção, segundo a tabela acima descrita, que dos indivíduos inquiridos, 58 são do sexo masculino, o que nos sugere 82,7%, e apenas 12 elementos do sexo feminino, representando 17,1%, o que nos leva a entender que existe um número bastante elevado de indivíduos do sexo masculino a nível da amostra devido a natureza do contexto da guerra de guerrilha, pois considerava-se que a participação da mulher nas actividades de frente de combate em Cabo-Delgado, era de teor secundário, salvo em casos de natureza não combativa. f. População de Pesquisa Em fase das constatações no terreno, trabalhamos com uma população constituída por ex-guerrilheiros, desde soldados, sargentos, oficiais e civis que participaram lado a lado com os guerrilheiros da Frente de Cabo-Delgado, com faixa etária entre 50- 75 anos de idade, num total de 70 indivíduos, preferencialmente os residentes no Distrito de Mueda em Cabo-Delgado, incluindo o centro de antigos combatentes da luta de libertação nacional de Magaia-Mocimbua da Praia e Mueda. g. Estado da arte É nossa intenção analisar a guerra de guerrilha ocorrida em Moçambique entre 1964-1974 e na frente de Cabo-Delgado na ótica dos guerrilheiros da FRELIMO. E isso porque é “o outro lado da guerra” menos explorado e conhecido. Realmente, os estudos existentes sobre este tema são escritos maioritariamente por investigadores portugueses, que deram à estampa algumas obras importantes e interessantes, presentes na bibliografia que selecionámos. Mas por isso a guerra é quase sempre analisada do ponto de vista de Portugal e do seu exército. Do mesmo modo, as principais fontes documentais existentes estão em arquivos portugueses. Ao pretendermos encaminhar a tese para uma abordagem da guerrilha moçambicana, sem ignorar as forças regulares e de contraguerrilha portuguesas, estamos a emprestar originalidade ao assunto, porque menos debatido e conhecido, ao mesmo tempo que estamos a contribuir para o desenvolvimento e conhecimento da história recente do povo moçambicano. h. Problematização do objeto de estudo – Modelo de análise O farol da nossa dissertação se materializa no seu objetivo geral (OG) que é: “ estudar o impacto da frente de Cabo-Delgado, durante a luta armada pela independência nacional (1964-1974) ”, em que medida constituía um alicerce do alargamento de outras frentes. Decorrem deste os seguintes objetivos específicos (OE): OE1 - Identificar elementos básicos da frente de Cabo-Delgado durante a luta armada de libertação nacional contra o exército português; OE2 - Analisar as variáveis que determinaram o avanço e alargamento da luta armada de libertação nacional (1964-1974); OE3 – Apresentar as propostas que ajudem a evitar as guerras em Moçambique. i. Pergunta de partida Definir uma pergunta central ou de partida, permite-nos criar um fio condutor, orientador para todo o processo de investigação. A nossa pergunta de partida (PP) é: “Durante a luta armada de libertação nacional, que impacto teve a frente de Cabo-Delgado no contexto da guerra de guerrilha, perpetrada pela FRELIMO (1964-1974), contra o exército português? j. Perguntas Derivadas Elas escoltam a pergunta de partida, por isso são denominadas de perguntas derivadas (PD) a saber: PD1 – Que conceitos doutrinais políticos, militares e sociais de guerra de guerrilha implementados pela FRELIMO, explicam o “impacto da frente de Cabo-Delgado na luta armada de libertação nacional contra exército português”? PD2 – De que forma os” combates do exército português”, no contexto da guerra de guerrilha, contribuíram para o alargamento da luta armada de libertação nacional (1964-1974), na frente de Cabo-Delgado? PD-3 – Que lições podem ser tiradas em doutrinas de guerras de guerrilha, visando contribuir para uma reflexão de contexto nacional e internacional? k. Hipóteses de Trabalho Para melhor darmos resposta às nossas perguntas de investigação para a nossa dissertação, formulamos as seguintes hipóteses: H1 - A Frente de Cabo-Delgado durante a guerra de guerrilha contra o exército português, teve influência significativa no alargamento de outras frentes. H2 - O grande esforço multissetorial do exército português, em combate contra a guerrilha da FRELIMO, no planalto de Mueda, estava na origem do seu desempenho nesta frente. H3 - Existem contributos de atores internacionais para a guerra em Moçambique, (1964-1974). 1. Da guerra de guerrilha - Enquadramento conceptual A reflexão sobre as teorias que debatem os processos de guerra, é pertinente no sentido multidisciplinar, porque estes debates podem de certa maneira ajudar o mundo sociopolítico, na concepção de novos modelos, de se chegar ao consenso entre os estados ou nações. Atualmente, temos assistido vários atores estatais e não-estatais, a assumirem posições de verdadeiras máquinas de guerra, no contexto internacional. Para minimizar este pragmatismo internacional, é necessário que se adote medidas coletivas de caráter internacional a favor do Direito Humanitário Internacional, de acordo com os protocolos de Haia, de protocolos adicionais de Genebra, da Carta das Nações Unidas, do Tribunal Internacional da Justiça, entre outros organismos que potencia a segurança humana. Com efeito, as teorias de “guerra”, constituem problemas de desenvolvimento em termos da sua utilidade sociopolítico, ou seja, não só de caráter simplesmente teórico, mas também do desenvolvimento harmonioso do mundo em geral. É preciso entendermos que também no passado existiram guerras que afectaram sobremaneira as populações prejudicando os seus interesses vitais. Na nossa época, as guerras alcançaram uma dimensão sem precedentes ao acenderem pelos diferentes escalões do seu progresso histórico e social. A humanidade tem arrastado atrás de si uma longa sequência de guerras e de conflitos, de invasões e de incursões, mas nunca tinham conhecido guerras tão devastadoras como as ocorridas no século XX e nunca esteve sujeita a uma ameaça de guerra de tamanha envergadura como a da “guerra nuclear”. Na atualidade, tem-se procurado solucionar as disputas entre estados, as querelas entre as tribos e os conflitos entre as nações, entre as raças e entre as religiões, recorrendo à força das armas cada vez mais demolidoras e com métodos cada vez mais sofisticados. As duas grandes guerras mundiais e o ataque terrorista nos EUA no dia 11 de Setembro de 2001, são claros exemplos disso. Os analistas e profissionais em teorias de guerra, consideram que nos últimos 5.500 anos, a humanidade sustentou mais de 14.000 guerras, tendo perecido mais de 4000 milhões de pessoas, quase o correspondente à atual população mundial. Nas duas grandes guerras mundiais do século XX pereceram mais de 60 milhões de pessoas e destruíram-se enormes valores materiais e culturais frutos do trabalho abnegado e dos esforços criadores de muitas gerações, (Viegas et al, 2002,p.168). Por exemplo, a guerra em Moçambique(1964-1974), e após o alcance da independência política no dia 25 de Junho de 1975, conhecemos os efeitos da guerra que nos foi movida pelos antigos regimes da Rodésia do Sul de Iam Smith, (Zimbabwe), e, do Apartheid da Africa do Sul. Estas guerras ceifaram muitas vidas humanas e destruiram grandes emepreendimentos e projetos de desenvolvimento do país. Também deslocaram populações, dispersaram familias e provocaram traumas psicologicos irreparáveis, sobretudo nas gerações mais jovens. As teorias que focalizam os aspetos da “guerra”, são tantas, por exemplo, a discussão sobre as teorias Belcistas, as teorias normativas e entre outras que tanto focalizamos nesta dissertação. Segundo Aron, (2002,p.71), “a guerra é um ato de violência destinado a obrigar o adversário a realizar nossa vontade”. Assim, apoiando-se nesta definição de Aron, (2002), a guerra em Moçambique, no período (1964-1974), foi desenvolvida pela falta da vontade política do governo português, dado que da parte moçambicana, os nacionalistas ou movimentos independentistas, já se dispunha para uma conversação pacífica para a independência de Moçambique. Continuando com as proposições sobre o conceito de guerra, Aron, (2002,pp.71-72), refere que “a guerra, enquanto ato social, pressupõe a contraposição de vontades, isto é, coletividades politicamente organizadas, cada uma das quais quer sobrepor-se às outras”. Por outras palavras, há coexistência de violência física, não há portanto, a violência moral em situação de guerra.. A guerra é um meio pelo qual se impõe à vontade dos indivíduos. Em Moçambique a guerra colonial (1964-1974) teve maior impato na vida do povo moçambicano, era a vontade colonial submeter aos moçambicanos uma vasta exploração a partir da guerra, como instrumento politico colonial. Outros autores especializados na matéria, afirmam que a “guerra é um acto de violência, e não há limites à manifestação desta violência, porque cada um dos adversários legisla para o outro, de onde resulta uma ação recíproca que, sufoca o outro e chega a um extremo.” Desta feita, o povo moçambicano estava ao extremo, e a guerra de (1964-1974), era resposta da legislação colonial opressora e desumana, de acordo com Mondlane (1968, pp.23-30). “Aquele que se recusa a recorrer a certas brutalidades teme que o adversário faça disto uma vantagem, afastando qualquer escrúpulo, porque a causa profunda da guerra é a intenção hostil, não é o sentimento de hostilidade” (Aron, 2002,pp.71-74). Neste caso, a guerra perpetrada pelos dois beligerantes, a FRELIMO e o exército português (1964-1974), tratava-se de uma intenção hostil dos dois atores e era notório o ódio dos combatentes de ambas as partes. Como referem certos autores, especializados em matéria do conceito da “guerra”, “o objetivo das operações militares numa “guerra”, de um modo geral, é desarmar o adversário, ou seja, como queremos obrigar o adversário, por um ato de guerra, a cumprir a nossa vontade, é necessário, ou desarmá-lo realmente ou então pô-lo numa situação em que ele se sinta ameaçado por esta via provável”, (Aron e seguidores, 2002.pp.172-179). Foi nestas circunstâncias, que o exército português tentou fazê-lo contra os guerrilheiros da FRELIMO, esquecendo-se que o adversário não é uma “massa morta”, no entanto, a guerra de (1964-1974), foi um choque entre duas forças vivas. Por exemplo, enquanto o exército português não derrotava a guerrilha, ele (o exército português), temia que fosse abatido. Porém, deixou de ser dono de si mesmo, pois impunha a lei ao povo moçambicano, e então, a guerrilha lhe impunha uma lei da luta armada pela independência nacional, em especial na frente de combate de Cabo-Delgado. Em Portugal, um dos autores que no século XX mais se notabilizou pelo estudo da Guerra e da Estratégia foi Abel Cabral Couto. Este estrategista definiu a guerra como a “violência organizada entre grupos politicos, em que o recurso a luta armada constitui pelo menos, uma possibilidade potencial, visando um determinado fim politico, dirigida contra as fontes de poder do adversário e desenrolando-se segundo um jogo contínuo de probabilidades e azares”, (Couto, 1988, pp.148-153). Segundo o dicionário Porto Editora, (1979), “a guerra é a Luta mão armada entre nações ou partidos”. Para H.Bull, (1977), “a guerra é a violência organizada e levada a cabo entre unidades politicas”. Na acepção de Malinowsky, (1968), “a guerra é contenda entre unidades politicas independentes através de força militar organizada, para atingir objetivos da tribo ou da politica nacional”. No continente Europeu, o fundador da Polemologia, o francês Gaston Bouthol, entende a guerra como “la lutte armee et sanglante entre mouvements organises”, (Bouthol, 1991, pp.35-41). Como podemos perceber, dos conceitos acima citados sobre “a guerra”, ela somente é ganha, quando o adversário submete-se à nossa vontade. Para isso acontecer, avaliam-se os meios de que ele dispõe, proporcionando-se em consequência o esforço a ser feito para o alcance da sua derrota. Neste caso, há de salientar que, a vontade de resistência não pode ser medida, por isso mesmo, a luta armada pela independência nacional em Moçambique (1964-1974) contra o exército português não tinha limite, pois se tratava duma vontade do povo. Como dissemos na introdução, a resistência secular contra o opressor, foi determinante em Moçambique, porém, a FRELIMO tinha uma vontade imensurável, e, essa vontade, se transformava numa liberdade de lutar para a liberdade. Sendo assim, o adversário agia do mesmo modo, pois, cada um aumentava a sua pressão para fazer face à vontade hostil do seu inimigo, e como regra, a competição levava a extremos, para a derrota dum dos adversários (FRELIMO e o exército português). Um dos precursores dos estudos sobre a Guerra pelo método científico, Quincy Wright, no seu A Study of War, editado em 1945, entendia a guerra como “A state of Law and a form of conflict involving a high degree of legal equality, of hostility, and of violence in the relations of organized human groups, or, more simply, the legal condition which equally permits two or more hostile groups to carry on conflict by armed force (…)”, (Wright, 1965, pp.7-16). Na definição mais clássica de Clausewitz (1976), considera que a guerra, “não é somente um ato politico, mas um verdadeiro instrumento politico, uma continuação das relações politicas, uma realização destas por outros meios”, acrescentando este autor que , apenas uma parte das relações politicas, e por conseguinte de modo algum qualquer coisa de independente”e destina-se a forçar o adversário a submeter-se a nossa vontade”,(Clausewitz, 1976,pp.73-97). Assim, é preciso recordarmos que certas dimensões de guerra, nos traduzem proposições que podem ser estudadas, nesta dissertação, por exemplo: A teoria normativa: tem uma perspectica juridica, afirmando que a guerra corresponde sempre um ato de declaração. Neste caso, ela, ( a guerra), deve respeitar os parâmetros da declaração de guerra no âmbito do direito internacional, no âmbito da convenção de Haia de 1907, parte III ( abertura das hostilidades); leva ao estado de guerra entre dois ou mais paises; existe limitação de uso da força por parte dos estados, pela recomendação da carta da ONU. Sendo assim, quem deve declarar a guerra? A guerra civil pode ser considerada uma guerra na perspectiva dos normalistas? O normativismo internacional sobre a guerra, foi inspirado nos pensamentos de Santo Agostinho, (século V) e de São Tomas de Aquino (seculo XIII), ainda existe, mas ninquém lhe confere muita relevancia. Ora, com esta alteração, os Estados ou entidades, e mesmo os indivíduos já não sentem a necessidade de assumir posições claras perante os conflitos, bem como também já não sentem a necessidade de adptar o amplo “normativismo” internacional, criado para conter ou limitar a guerra e os seus efeitos. Nos conflitos das últimas decadas, não houve qualquer declaração formal de guerra ou de neutralidade feita por um único Estado, assim como também não houve qualquer tratado de paz formal. Pois, a maior parte dos Estados ou entidades, limitaram-se a definir uma política geral perante o recurso a força militar, que variava ao longo do tempo (Telo,2002, pp.225-231). por exemplo, em alguns casos, legitima-se o exército, bombardea-se primeiro o adversário, como uma “disuassão”. Ora, a guerra em Moçmbique (1964-1974), não foi um ato isolado, que ocorrreu bruscamente, pois há uma relação com a vida anterior, da governação colonial portuguesa. Portanto, a guerra, como se pode constatar, na opinião da teoria normalista, não reside em uma única decisão ou várias deciõses simultâneas e não implica uma decisão em si mesma. Os adversários se conhecem, podem avaliar respetivamente os recursos de que dispõem, talvez até mesmo a vontade de cada um. As intenções do inimigo, em caso de vitória não traduzem sempre um desastre irreparável para os inimigos, (Clausewitz,1976, pp.79-101). Sendo assim, a guerra é um jogo incalculável. Mesmo assim, exige dois factores: coragem e cálculo inteligentte da manobra do inimigo, portanto, sem excluir os riscos em todos os niveis das operações militares, (Telo, 2002, p.217). Neste caso, a aceitação do perigo, deve-se manifestar como prudência e audácia combativas para aguerra de guerrilha, (Telo, 2002, p.218). Foi o que fizeram os guerrilheiros da FRELIMO, durante a guerra em Moçambique (1964-1974), dando maior impacto na frente de Cabo-Delgado, contribuindo assim, o avanço das outras frentes na luta copntra o exército português. A teoria funcionalista: “a guerra enquanto fanómeno disfuncional na sociedade, corresponde a um ato de violência organizada, sistemática para atingir os fins políticos”. Então se é sistemática e organizada, porque ela é disfuncional? Alinhando-se na visão funcionalista, certos autores afirmam que “a guerra é um ato politico, surge de uma situação política e resulta de uma razão política. Pertence por natureza ao diálogo puro, por tratar-se de um instrumento da política, (Aron,2002, p.72-79). O elemento passional interessa ao povo, enquanto que o elemento aleatório interessa ao exército e ao seu comandante, por seu turno o elemento intelectual interessa ao governo, pois, o governo é o elemento decisivo que deve ordenar o conjunto dos fenómenos”, (Aron, 2002, pp.73-79). Vejamos agora a teoria analista: tendo em face os resultados, “a guera” corresponde a uma classificação com base nos efeitos, desde o nivel de violência, por exemplo, quantos mortos, o ano da decorrência da guerra, quantos participantes, (Gleditsch,2002, pp.619-630). Ainda assim, podemos encontrar certas situações em que seja utilizada a violência organizada, e não seja vista como uma guerra. Por exemplo, quando a força é usada para provocar a dor ou para persuadir um adversário a abandonar um determinado efeito comportamental, estas acções podem ser consideradas apenas como (operações militares) de não-guerra ou da diplomacia coerciva, (Thomas Sheling,1966, p.123-129). Como se pode constatar, o conceito de “guerra” é polisémico, varia da visão do autor, do tipo da corrente, do tipo da escola, do modelo que se pretende afirmar, quer seja qualitativo ou quantitativo. No caso da guerra em Moçambique (1964-1974), começou por ser uma violência opressiva contra os autoctonos, transformando-se em operações militares contra os movimentos independentistas e gradualmente ganhou o seu estado final, quando os guerrilheiros da FRELIMO iniciam ataques nos postos militares do exército português, em 25 de Setembro de 1964. Assim, nesta dissertação, propomos o nosso conceito de “guerra”. Para nós, dissertentes “a guerra é a capacidade de manobra temporal e danosa, fazendo o uso racional calculativo de recursos disponiveis, impondo o inimigo constrangimentos dolorosos que enfraquezam a sua moral combativa, corte total da sua iniciativa belcista, imobilizando-o, recorrendo às táticas militares convencionais, eficazes e transversais”. Discutido o conceito de “guerra”, não encontramos aqui algo novo, apenas procuramos trazer um debate nesta dissertação que possa nos encaminhar aos esclarecimentos da nossa fundamentação teórica que sustente o nosso tema: “a guerra em Moçambique (1964-1974). O impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional”. Assim, é-nos fundamental apresentar nesta dissertação a discussão sobre o conceito de “guerrilha”, dado que as teorias sobre “a guerrilha” podem nos ajudar, a estudar melhor as motivações da “guerra de guerrilha” como um factor decisivo para os movimentos independentistas, na sua luta pela independência nacional. Por exemplo, em Moçambique, a guerra de 1964-1974, se caracterizou por ser uma “guerra de guerrilha” nos combates entre os guerrrilheiros da FRELIMO e o exército português. Então o que é “a guerrilha”? Para o senso comum, que abrange a maioria das pessoas, a palavra “guerrilha” pode ser traduzida como um agrupamento de poucos homens em comparação às Forças Armadas, e que os tais homens, estão dispersos, camuflados e escondidos na selva, nas montanhas ou na floresta ou misturados dentro da população local, etc.Ora, estes homens ou guerrilheiros que pertencem a esta imagem, são insurgentes, não pertencentes às Forças Armadas locais, que tentam derrubar um governo considerado legitimo. Podemos abstrair detalhes forçosos da imagem dos guerrilheiros em geral: não têm limites, traduzem uma atitude de violência, estão contra a “ordem e o bem”, ou seja, são maus, e querem a todo custo causar danos aos seus inimigos, que são as Forças Armadas locais, que estão prontos para restaurar a ordem e proteger as populações locais que não fazem parte dos insurgentes, (Rezende, 1996, pp.234-242). É importante percebermos que a guerra de guerrilha tem suas raízes na antiguidade, por exemplo, no Império Romano, na derrota dos Americanos no Vietname, entre outras, foram usadas táticas de guerrilha. Porém, a forma como se luta ou guerreia, é diferente do significado que vigora aos combatentes ou guerrilheiros. Por exemplo, a guerra em Moçambique (1964-1974), os guerrilheiros da FRELIMO, tinham uma imagem que traduziam serem mentores de desordem e insegurança territorial, e, cuja nomenclatura era a de (Turra). Para discutir e tentar elucidar este propósito, uma visita à literatura histórica torna-se pertinente e necessária. Por exemplo, no (século II a.c.), período em que Roma fazia guerras contra os Cartago, tiveram maiores dificuldades de invadir a Península Ibérica onde residiam povos Celtas, dos quais os portugueses e espanhóis são descendentes. “Na altura, o Viriato foi considerado o grande herói militar da história lusitana, pois, narrado pelos historiadores romanos como a figura mais temida pelos romanos. O Império Romano, não conseguiu derrotar Viriato em combate, porque ele usava táticas de guerrilha e confundiam e atrapalhava os romanos. A dificuldade de conquistar esta região foi tão imensa, a ponto do Viriato (o herói) só ter sido morto por traição, enquanto dormia, por seus próprios camaradas, pois Roma teve que subornar os guerreiros do Viriato”, (Rezende, 1996,pp.354-363). A recuperação histórica parece-nos importante, como enfatiza Robert B. Asprey que escreveu uma vastíssima obra sobre a história da atividade guerrilheira de todo mundo, desde as guerrilhas citas que se defendiam das investidas de Alexandre, no século IV a.c., à guerra do Vietname, onde o uso da guerrilha era fundamental. Desde 1975 Asprey se dedica sobre histórias de guerrilha, para evitar uma potencial repetição dos erros cometidos pelos militares e estrategistas norte-americanos no Vietname, no momento em que forem encarar uma futura guerra de guerrilha; “The pages that follow emphasize the cost to any country when its civil and military leaders fail to consider yesterday while dealing with tomorow. In this sense this book is also a warning: America can afford one Vietnam, but not another”, (Asprey, 1975, pp.13-39). Para este autor, que temos vindo a citar, a guerrilha significa: “ a type of Warl-fare characterized by irregular forces fighting small-scale, limited actions, generally in conjuctino with a larger political-military strategy, against orthodox military forces” (Asprey, 1975, pp.10-41). Este autor, ainda acrescenta que a palavra ou termo na lingua inglesa guerrilha, entrou no dicionário deste idioma graças aos escritos do duque de Wellington participante das campanhas de libertação nacional contra a França, tanto na Espanha como em Portugal (1808-1814). Pois, nesta época, a Inglaterra deu apoio logistico, material e humano a estes países contra a invasão de Napoleão Bonaparte. No entanto, este mesmo autor, vai além do entendimento gerado no século XX, de que Guerrilha não significava apenas uma eficiente forma de se defender contra um inimigo ou atacante externo, que possuísse uma força de combate, seja em homens, armas ou logística, esmagadoramente superior ao defensor. No entanto, este autor, acredita que o conceito evoluiu para uma força de combate para satisfazer as aspirações das classes menos abastadas, ou um instrumento de realização social política e económica:” This is so patently true that we may be witnessing a transitivo to a new in warfare, na era as radically different as those which followqed the writings of Sun Tzu, Machiavelli, Clausewitz and Mahan” (Asprey, 1975,pp.13-18). Porém, como referimos acima, pensa-se nesta dissertação, que não há uma nova era transformadora de natureza da guerra, que influencie a transformação do conceito de guerrilha, por exemplo, quando se considera como atos subversivos, no caso da guerra em Moçambique (1964-1974) pela luta da independência nacional. Vejamos aqui, da sua origem etimológica, Guerrilha (em espanhol: guerrilla, que significa,”pequena guerra”) é um tipo de guerra não convencional, no qual o principal estratagema, é a ocultação e extrema mobilidade dos combatentes, chamados de guerrilheiros, incluindo os civis armados, não se limitando apenas a civis armados ou irregulares”, (Rezende, 2010,pp.76-123). Como dissemos, presume-se que tenha sido utilizada a palavra guerrilha (guerrilla), pela primeira vez na guerra Peninsular contra a invasão napoleónica a Portugal e Espanha entre 1808 e 1814, embora as técnicas guerrilheiras remontem à antiguidade. Portanto, o termo passou a ser utilizado a partir da sua origem ibérica, tendo sua grafia original preservada em muitos idiomas. Por exemplo, no Brasil, data da invasão Holandesa a Salvador entre 1624 a 1625, quando o Sargento-mor António Dias Cardoso, Mestrado em emboscadas, aplicou as técnicas para conter o invasor. E voltaria a empregar nos Montes das Tabocas seguindo com ações nas Batalhas dos Guararapes respectivamente em 19 de Abril de 1648 e em 19 de Fevereiro de 1649, (Rezende, 2010,pp.149-182). A guerra de guerrilha, também recebeu outras denominações, na América Latina por exemplo, foi chamada de “demontorena” no Rio da Prata é “bola” no México, entre outras nomenclaturas que não prevaleceram. Na América do Norte, foi Franscis Marion, “Raposa do Pantano”, seu precursor com uso de armadilhas e emboscadas durante a luta pela independência dos Estados Unidos de América, (Asprey, 1975,p.118-159). Assim, segundo Asprey, (1975,pp.161-167), “a guerrilha, trata-se de levar um adversário, por muito mais forte que seja, a admitir condições frequentemente muito duras, não engajando contra ele senão por meios extremamente limitados”. “ É então que entra em jogo, em toda a sua plenitude, a fórmula das variáveis complementares que já encontramos: a inferioridade das forças militares deve ser compensada por uma superioridade crescente das forças morais, à medida que a ação se prolonga. Portanto, a operação desenvolve-se simultaneamente em dois planos, o plano material, das forças militares, e o plano moral, da ação psicológica continuada, disse”(Asprey, 1975,p.123-184). Este conceito de guerrilha, tem sido referido por vários líderes das lutas armadas de libertação nacional, por exemplo, a guerra em Moçambique (1964-1974), tinha sido decidido por Eduardo Chivambo Mondlane, no seu livro “Lutar por Moçambique”, como sendo uma guerra de guerrilha, prolongada, cuja intenção era a incorporação moral e psicológica das massas populares, que levou a derrota do exército português em 1974. Outro exemplo, logo após o triunfo da revolução Cubana, pela via guerrilheira, Che Guevara se preocupou em sistematizar e teorizar para generalizar essa experiência. Dedicou-se sobretudo a analisar e a escrever a cerca do processo revolucionário cubano, enfatizando a estratégia da guerra de guerrilha. Das reflexões de Che Guevara, surgiu à chamada teoria do”foco guerrilheiro”, conhecido também por “Guevarismo”. A guerrilha como estratégia de luta causou um grande impacto nos movimentos de libertação nacional, (Debray 1980,pp.11-13). Historicamente, Cuba deu a arrancada para a revolução armada na América Latina, boa parte das autoridades cubanas e líderes de movimentos políticos do todo continente latino-americano, também passaram a optar pela via armada guerrilheira para alcançar o poder político nacional almejado. Diante desta realidade, Guevara apareceu como o mentor intelectual da guerra de guerrilhas, como o seu principal teórico e sistematizador. Os objectivos de Guevara eram evidentes. Em seus escritos deixava claro que a revolução cubana havia sido apenas o prelúdio de uma onda revolucionária que varreria o continente latino-americano. Com efeito, a sua principal preocupação era” encontrar as bases em que se apoia este tipo de luta, as regras a seguir pelos povos que buscam sua libertação, teorizar o facto, estruturar e generalizar esta experiência para o aproveitamento de outros movimentos independentistas” (Guevara, 1982, pp.15-18). Continuando esta discussão, é no livro “a guerra de guerrilhas” que se encontra a principal contribuição de Che Guevara, à sistematização dessa forma de luta. Trata-se, pois, de um manual de carácter político-militar, de orientação prática para os homens que se dedicassem pela via guerrilheira. Nessa obra se encontra detalhes relativas a organização interna de uma guerrilha, a destacar as três principais contribuições que Che Guevara aponta: 1) As forças populares podem ganhar uma guerra contra um o exército; 2) Nem sempre há que se esperar que dêem todas as condições para uma revolução contra o invasor, o foco insurreccional pode criá-las; 3) Em países subdesenvolvidos, o terreno da luta armada, deve ser fundamentalmente o campo, (Guevara, 1982, pp.13-15). Como podemos perceber, estes princípios expressam em síntese os elementos centrais da teoria da “guerra de guerrilhas”, que durante a guerra em Moçambique (1964-1974) dominaram no seio dos guerrilheiros e líderes militares ou políticos da FRELIMO contra o exército português. Segundo Guevara (1982),” a primeira lição da revolução cubana é um factor subjectivo, pois, ela demonstrou que mesmo em condições adversas a vitória é possível. Trata-se da tomada de consciência de que a vitória do povo em armas contra um exército bem treinado e armado, não é simplesmente tentativa de suicídio ou ilusão”, (Guevara, 1982,pp.17-21). Na acepção de Samora Moisés Machel, no seu livro “Impermeabilizemos as manobras subversivas do inimigo”, preconizando a sua teoria de guerra de guerrilhas, (imobilização do espinho dorsal do inimigo), apontava que a arma essencial para a derrota do inimigo, durante a guerra em Moçambique (1964-1974), é a participação popular nas fileiras da guerrilha, ou seja, a militarização das massas populares para a auto-defesa contra o exército português (Machel, 1976, pp.4-7). A teoria Machelista de guerra de guerrilhas, baseada em imobilizar o inimigo a partir do seu “espinho dorsal”, traduzia uma estratégia usada pelos guerrilheiros da FRELIMO, que culminou a moralização dos combatentes da FRELIMO e desmoralização do inimigo, abrindo um campo de manobra favorável a FRELIMO, na guerra de Moçambique (1964-1974), em especial com maior impacto na frente de Cabo-Delgado, para atingir o efeito desejado a partir do centro de gravidade das hostilidades. Estes princípios Machelistas sobre a guerra de guerrilha, podem ser relacionadas com aqueles que Che Guevara debateu, por exemplo, Guevara (1982, pp.66-88), observou que :”No inicio, há um grupo mais ou menos armado, mais ou menos homogéneo, que se dedica quase exclusivamente a esconder-se nos lugares mais seguros, mantendo raros contactos com os camponeses”. Portanto, o primeiro momento de guerra de guerrilhas, se caracteriza pelo isolamento de um grupo pequeno de homens escondidos na mata, (Guevara, 1982,p.68-77). Guevara, (1982), contínua afirmando que, “a luta não pode avançar sem o apoio dos camponeses, os guerrilheiros não podem alcançar o triunfo se permanecerem apenas se escondendo na floresta, nas montanhas, sem estabelecer contacto com a população local”. Como vimos, a teoria Machelista sobre a guerra de guerrilhas, enfatiza a militarização popular, como um meio de alcance da derrota sobre o inimigo, em que Samora ironiza, dizendo:”estas são as armas”, ou seja, a guerrilha em si mesma, vai produzir as condições revolucionárias. Por seu turno, a teoria Guevarista, dá ênfase na mobilização dos camponeses, como alicerce da implantação da guerra de guerrilhas em toda a sua dimensão combativa. Sendo assim, Guevara, (1982), recomenda que é “preciso um constante trabalho político com os camponeses, seria a partir desse contacto que Guevara propunha o desenvolvimento do factor subjectivo do estado final da guerrilha contra os belicistas. É preciso um trabalho popular intensivo, explicando os motivos da guerra de guerrilhas, os fins desta mesma guerra, disseminando a verdade, de que não se pode vencer o povo de maneira definitiva, (Guevara, 1982,pp.20-29). Ademais, reforça esta posição afirmando que “ é necessário um trabalho que consiga promover a identificação entre camponeses e guerrilheiros. Destaca dizendo que “a luta guerrilheira é uma luta de massas, é uma luta popular, a guerrilha como núcleo armado é a vanguarda combatente do mesmo, sua grande força reside na massa da população” (Guevara, 1982,pp.15-23). Porque razão os camponeses deveriam aderir à luta guerrilheira? Guevara, (1982) e Machel (1976), afirmam que” os guerrilheiros deveriam agir como um catalisador politico, pois, só conseguiriam êxito se fossem capazes de incorporar à luta guerrilheira, como o factor social dos trabalhadores rurais para alcançar o efeito desejado, (Guevara, 1982 e Machel, 1976). Estes autores, afirmavam que” o guerrilheiro é um reformador social que empunha as armas respondendo ao protesto irado do povo, derrotar seus opressores, numa luta firme, para mudar o regime social, que mantém todos seus irmãos oprimidos, na ignorância e na miséria”, (Guevara, 1982, p.18 e Machel, 1976,pp.7-11). Assim, a guerrilha não é necessariamente um tipo de guerra de resistência, onde os insurgentes se opõem a uma força de ocupação, como no Iraque ocupado pelos aliados ou como na União Soviética invadida pelos nazis. Ela é também comum em guerras revolucionárias, como factor político, que pode ocorrer entre partidos ou fações de um mesmo povo. Por exemplo, o MMCD, El Salvador, guerrilha do Araguaia; Acção Libertador Nacional (ALN); Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8); Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC); Exército Republicano Irlandês (IRA), etc, (Debray et al 1980,pp.34-56). Neste sentido, Asprey, (1975), reafirma na sua teoria de guerra de guerrilha, que”as guerras de guerrilha, quase em sua totalidade buscam a independência de uma determinada região ou grupos. Utilizam armamentos leves e de fácil porte durante o deslocamento. Actualmente se mantém com recursos financeiros advindos de impostos cobrados de populares da área dominada pela guerrilha, bem como operações militares,” (Asprey, 1975,pp.49-62). Esta acepção, de que faz referencia Asprey (1975), já se usava durante a guerra em Moçambique (1964-1974), a teoria de” zonas libertadas”, em que se fazia a manutenção dos guerrilheiros da FRELIMO com base em contribuições dos populares, abertura de campos agrícolas, onde se criava o “homem novo”, a partir da afirmação de que “estas são as armas”conforme Machel, (1976,pp.11-19). Na opinião de Rezende (2010), recorda que” em geral, os grupos guerrilheiros tendem a apoiar soluções progressistas, pois, sendo oriundos de grupos locais, mantém contactos estreitos com a população da região onde actuam, ao contrario das Forças Armadas regulares do regime dominante”, (Rezende, 2010,pp.67-80). Assim, na opinião de Rezende, (2010),” é muito comum a estes grupos de guerrilha, serem liderados por personalidades também locais, por exemplo, governo sombra, por interesses da classe, “dupla-face”, desenvolvendo trabalhos tanto de um lado, assim como do lado da guerrilha”, (Rezende, 2010,p.51-59). A discussão sobre o conceito de guerra de guerrilha, nos leva a procurar outras opiniões sobre este conceito. Assim, na visão de Mao Tse-Tung (1961,pp,136-148), apresenta-nos a “guerrilha como sendo uma guerra prolongada”, que deve ser defendida como estratégia defensiva de longa duração, conduzida em flagrante inferioridade de forças e sob cerco estratégico do adversário, ou seja, em linhas interiores”. Para Mao, (1961), o objectivo “da guerrilha como guerra prolongada”, seria o desgaste estratégico do adversário em todos os campos do poder, quer seja, político, económico, psicossocial e militar”. Podemos recordar que Mondlane, (1960), já almejara uma guerra prolongada usando a guerrilha da FRELIMO contra o exército português (1964-1974). Este modelo, implicaria no desespero total do exército português, não tendo alternativas de fazer parar os combates guerrilheiros, quer na frente de Cabo-Delgado, no planalto de Mueda, quer em Niassa, quer em Tete e mais tarde para a Zambézia, Manica e Sofala, e, o sul de Moçambique. Assim, Mao Tse-Tungo (1961,pp.243-261), afirma, “ a guerrilha prolongada”, no contexto do conflito, debilitaria progressivamente o inimigo, invertendo a relação inicial de forças, e abalando a sua determinação de prosseguir na luta contra os guerrilheiros, até oferecer-se a oportunidade de contra-ofensiva estratégica”. Para obter o efeito do desgaste estratégico, Mao, (1961), recomendava, no nível táctico, a realização de operações ofensivas de decisão rápida, com a finalidade de aniquilar o inimigo. Ainda assim, Mao, (1961), repara que “para isso seria necessário obter uma esmagadora superioridade local, e realizar combate a cada uma das colunas inimigas que estejam dispersas, cercando-as e destruindo-as”, (Mao, 1961,pp.227-239). Podemos recordar aqui, Machel, (1976), afirmava que “os guerrilheiros da FRELIMO, preconizavam destruir o (espinho dorsal do inimigo) ”, numa clara alusão de frequentes emboscadas e deslocalizáveis ataques contra exército português nas suas colunas, na tentativa mortal de deslocações, em especial na frente de combate de Cabo-Delgado, onde se verificou o maior impacto combativo. Sendo assim, Mao, (1961,pp.228-254), reforça esta posição guerrilheira da luta prolongada dizendo que “ a acumulação de sucessivas vitórias tácticas de aniquilamento do inimigo, acarretaria desgaste estratégico desejado contra o inimigo”. Por exemplo, Mao, (1961), mostra claramente a validade da sua teoria, dizendo que”mais vale arrancar um dedo do adversário do que ferir seus dez dedos; afugentar dez divisões não é tão eficaz quanto aniquilar uma delas”, (Mao, 1961,pp.231-243). Para Mao, (1961), é confiante que” o engajamento em uma batalha decisiva, em que estivesse em jogo o destino da nação, estava descartada, ou seja, simplesmente quando não a empreendemos, isto pode levar frustração o plano do inimigo, pois, é preciso uma decisão rápida, e este se verá obrigado a sustentar uma guerra prolongada, (Mao, 1961,pp.168-188). Neste caso, a obtenção de indiscutível superioridade local, implicava na concentração de forças e na manutenção da iniciativa estratégica, embora o lado mais fraco (guerrilheira) estivesse lutando em desvantagem e em uma postura estrategicamente defensiva, no caso da guerra em Moçambique (1964-1974), mas o cenário invertera a favor da FRELIMO. Mao Tse-Tung, reconhecia a dificuldade de manter a iniciativa em uma guerra defensiva, mas propunha a guerra defensiva, `ainda que passiva quanto à forma, podia compreender a iniciativa quanto ao conteúdo. Uma acepção típica da teoria Machelista de “estas são as armas”. “A concentração de forças poderia transformar a superioridade estratégica do inimigo em superioridade táctica ou operacional para o lado mais fraco”, (Mao, 1961,p228). A máxima do Mao, (1961,pp,230-234), era: nossa estratégia é “um contra dez”, enquanto nossa táctica é” dez contra um”. O mesmo enfoque do Machel, (1976), em: “estas são as armas”. Mao, (1961), insiste no aspecto sobre a concentração de forças, dizendo que “podemos transformar a superioridade estratégica do inimigo em superioridade nossa sobre ele, de um ponto de vista táctico e operacional. Podemos reduzir a posição estrategicamente forte do inimigo, a uma posição fraca no sentido operacional e táctico. Ao mesmo tempo podemos reduzir a nossa fraqueza estratégica conseguindo uma forte posição operacional e táctica, (Mao, pp.230-239). “Isto é o que chamamos operações de linhas exteriores dentro de linhas interiores, cerco e aniquilamento dentro de cerco e aniquilamento, bloqueio dentro do bloqueio, ofensiva na defensiva, superioridade na inferioridade, força na fraqueza, vantagem na desvantagem, e iniciativa na passividade. Portanto, obter vitória numa defensiva estratégica depende assim, fundamentalmente, de fazer um simples movimento – concentrar as forças de guerrilha”, (Mao, 1961, pp.227-233). Em situação de grande inferioridade de meios, não se pode esperar sobreviver senão recusando combater o inimigo, e empregando uma táctica de fustigamento para manter vivo o conflito, de forma prolongada, (Mao, 1961,pp.231-237). Este enfoque táctico do Mao, coincide com o de Machelismo, “estas são as armas”. Porém, esta táctica, há mais de quarenta anos é objecto de condições estratégicas muito importantes, as quais permitem conduzir tal género de operações segundo conceitos racionais que lhe aumentam consideravelmente a eficácia, e, consequentemente, permitem reduzir bastante o desequilíbrio de forças materiais guerrilheira contra o inmigo, (Mao, 1961,pp.271-283). Segundo Rezende, (2010), existem duas noções capitais que servem para garantir a liberdade de ação da guerrilha. “A primeira, é de origem Soviética, aplicada pelos Irlandeses, visa a impedir a repressão, dissuadindo a população de informar o inimigo, mediante a prática do terrorismo sistemático. A segunda, tem por princípio estender em superfície, ao máximo, a ameaça da guerrilha, sem, no entanto, incitar o inimigo a retrair-se, de forma a criar para ele um problema de proteção cada vez mais difícil. A aplicação desta última noção, tem como efeito, levar o inimigo a despender mais e mais forças para a guarda de um número crescente de pontos, em larga medida, é capaz de modificar o equilíbrio prático das forças em presença”, (Rezende, 2010, pp.94-131). Enfim, as forças de guerrilha, cujo desgaste é terrível, devem ser mantidas e constantemente desenvolvidas para que a pressão seja crescente. Isto exige um sistema inicial de contrabando de armas ou de lançamento de pára-quedas, por exemplo, na França em 1944, seguido, desde que possível, do estabelecimento de bases próximas do território em conflito, cuja inviolabilidade será assegurada pelos meios de dissuasão da manobra exterior, na opinião de (Rezende, 2010,pp.134-147). Tal foi o papel das bases da china para a guerra da Indochina, das do Egipto, inicialmente, e, depois das Tunísia e do Marrocos, para a guerra de Argélia, do Congo ex-Belga e para Angola Portuguesa, etc, (Rezende, 2010, pp, 234-241). Certos autores, viram na organização dessas bases o elemento de decisão para a guerra de guerrilha. Se a guerra de guerrilha não ë decisiva em si mesma, certamente pode-se notar que as guerrilhas fracassaram no Quénia e na Malásia, são justamente as que se encontravam isoladas, não obedeceram as teorias Machelistas, Guevarianas, Mao Tse-Tunguismo e de outras que ousaram alcançar a independência por esta via de”guerra de guerrilha”. Assim, julgamos ter vos dado nesta dissertação, os mínimos e variados conceitos sobre a “guerra”, a “guerrilha” e guerra de guerrilha”. Estes conceitos, confere a manobra dissertiva do nosso tema: “A guerra em Moçambique (1964-1974). O impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional”. Portanto, o valor operacional a que se confere a frente de Cabo-Delgado, na luta pela independência nacional, agrega ao que já se disse nesta discussão, sobre os conceitos aqui referidos, do seu papel-chave no domínio de liberdade de ação global em guerra de guerrilha dos combatentes da FRELIMO contra o exército português. Assim, se a guerrilha não é sufocada desde o inicio, existem as maiores probabilidades de um desfecho vitorioso. Na melhor das hipóteses, conseguir-se-á a renuncia à luta armada pelo adversário, por exemplo, Tunísia, Marrocos e Argélia, (Rezende, 2010,pp.99-126). Se a manobra exterior não consegue impedir a intervenção de outras potencias, chegar-se-á a uma solução de compromisso, sob a forma de uma partição, por exemplo, Israel, Indochina, (Rezende, 2010, pp.98-131). Se a manobra exterior não consegue alimentar suficientemente a acção interior e se o adversário se agarra, então chega-se ao fracasso, por exemplo, o caso de Quénia e Malásia. Porém, os germes semeados durante a luta guerrilheira, mais tarde se desenvolverão e, no mínimo, ter-se-á imposto ao inimigo um esforço considerável ao preço de meios irrisórios, (Rezende, 2010,pp.103-117). Como podemos perceber, a estratégia da guerra de guerrilha, visa manobrar o inimigo, por forma a não conseguir realizar as suas ações combativas, ficando assim encurralado num perímetro que não lhe favorece a continuidade da luta contra a guerrilha. A guerra em Moçambique (1964-1974), na frente de Cabo-Delgado, se caracterizava pela confinação ou encurralamento do exército português, pois, com a existência de zonas libertadas, o inimigo via-se constrangido para a sua manobra combativa contra os guerrilheiros da FRELIMO. Vejamos o quadro abaixo, de como Mao Tse-Tung detalha sobre a forma como a guerrilha deve estrategicamente combater o inimigo. Figura n° 1-Estratégia da guerrilha Fonte: ( Mao Tse-Tung 1961). Porém, a condução de uma guerra de resistência prolongada, depende de três factores, na opinião de Mao, (1961,pp123-137), a saber:”iniciativa, flexibilidade e planificação”. Todavia, a iniciativa é entendida como liberdade da ação, em contraste com a passividade imposta pela inferioridade de meios da situação guerrilheira. Para Mao, (1961,pp.124-141), uma liderança correta é capaz de obter a iniciativa na inferioridade, reduzindo um inimigo poderoso à passividade. Por seu turno, a flexibilidade é a expressão correta da iniciativa nas operações militares. Por exemplo, para um comando flexível é importante mudar de tática oportuna segundo as condições das tropas e do terreno, tanto do inimigo quanto as nossas, (Mao, 1961, pp.144-156). Assim, o planeamento deveria dar uma estabilidade relativa à condução da guerra, mas os planos devem ser capazes de sofrer adaptações para se ajustar às mudanças das circunstâncias e do decurso da guerra”, (Mao, 1961,pp.156-166). A discussão acima transcrita, nos faz lembrar a guerra em Moçambique (1964-1974), em que a guerrilha da FRELIMO, liderada por Samora Moisés Machel, teve um desempenho notável, no âmbito de “iniciativa, flexibilidade e planeamento dos combates”, chegando mesmo a enfraquecer as operações militares do exército português. Ainda assim, a teoria Maoísta, identifica três formas de luta: a guerra de movimentos; a guerra de guerrilhas e a guerra de posição. Neste caso, a guerra de movimentos seria aquela em que exércitos regulares realizam campanhas ou combates ofensivos de decisão rápida em linhas exteriores ao longo de amplas frentes e vastas zonas de guerra, (Mao, 1968,pp.175-188). Trata-se da defesa móvel, que se aplica em caso de necessidade para facilitar as operações ofensivas, (Mao, 1968,p.196). Continuando, Mao explica que, as características da guerra de movimentos são exércitos regulares, superioridade de forças em campanhas e combates, com caráter ofensivo e mobilidade estável, (Mao, 1968,pp.174-183). Por isso, em Mao, (1968,pp.177-191), a guerra de movimento era vista como a principal forma de luta no quadro de uma guerra de resistência, seguida em importância pela guerra de guerrilha. Daí a referir que, o desenlace da guerra dependeria essencialmente da guerra de movimento, na opinião de Mao, (1968,pp.174-176). Com efeito, para Mao, (1968,p.193), a guerra de guerrilha, teria um papel subsidiário, embora de importância estratégica para o quadro geral da guerra de resistência. Por isso, a guerra de guerrilha deveria evoluir progressivamente até transformar-se em guerra de movimento, exercendo um papel duplo: apoiar a guerra regular e transformar-se ela mesma em guerra regular, (Mao, 1968, 178-199). Ora, a proposta de tentar delimitar a “Guerrilha” em termos históricos e etimológico, foi inevitável. Segundo certos autores, isto se torna necessário para focalizar um pouco na actual discussão da natureza de guerra ou até mesmo, das tipologias da guerra, para se perceber melhor, se as mesmas existem ou não. Outrossim, postula-se que as actividades guerrilheiras dos séculos XX e XXI têm uma diferença fundamental da mesma que emanou o termo no século XIX. O factor ideológico foi o mais decisivo para que o conceito de “guerrilha” se transformasse:”Counterinsurgency became not so much the [U.S.]Army’s doctrine as the Army’s dogma, and stultified military strategic thinking for the next decade’because of the prevailing “myth” that guerrilha wars “were something unique in the annals of warfare”( Summers, 1982,pp.73-75). Summers, (1982), enfatiza dizendo: “isto porque, os Estados Unidos desenvolveram uma dotrina de contra insurgência para frear as “revoluções comunistas” no terceiro mundo, que obviamente, na maioria dos casos, eram guerras civis patrocinadas por potências, e não guerrilhas para defender uma nação contra um invasor externo. Um outro autor, afirma que é importante ressaltar que, apesar de esta doutrina ter sido esquecida no meio académico, especialmente após o fracasso dos Estados Unidos no Vietname, no início da década de 70, os atentados de 11 de Setembro de 2001 nas torres gêmeas dos Estados Unidos de América, estimularam os estudos da guerra da quarta geração, que só auxiliam a distorcer a terminologia refente à guerrilha, (Echevarria, 2007, pp.231-249). Focalizados aqui as teorias sobre o entendimento da guerra, da guerrilha e da guerra de guerrilha, na perspectiva de vários autores, resta-nos agora propor o nosso conceito de guerrilha, para a nossa dissertação, eís aqui: “a guerrilha é a conjugaçao de forças e meios disponiíveis para a manutenção de uma luta armada e combates contínuos contra o inimigo, visando o asseguramento politico-militar para a conguista da independência nacional”. Fazendo uma conclusão deste capítulo, do enquadramento teórico para a nossa dissertação, verificamos que o conceito de guerra, varia tanto dos objectivos que se pretende alcançar na mobilização de recursos e tanto como sobre o significado da “guerra”. Para muitos autores, o entendimento passa pela dinámica da capacidadede de conter a guerra, enquanto que outros apresenta uma perspectiva da quarta geração do conceito de guerra, em que, os governos não teriam nenhuma capacidade de auto-defesa e nem mesmo na almejada “defesa coletiva dos estados”. Quanto ao conceito da guerrilha e de guerra de guerrilha, notamos que os autores na sua maioria têm origens revolucionárias de movimentos independentistas. Focalizam no entanto, um conceito de antiguidade que vem se transformando, na tentativa de conciliar com as dinámicas das guerras. E também em virtude dos agressores pertecenrem origens diversas, quer em potencial bélico, económico, militar, etc. Para outros autores, só seria possível saber se se tratava de guerrilha ou guerra de guerrilha a partir do seu desfecho, ou seja, se aqueles chamados guerrilheiros tomaram o poder? Ou simplesmente dessistiram? Ou optaram por fazer negociações por forma a alcamnçar a sua independência? Com tanta contraversia sobre estes conceitos, nós propomos nesta dissertação os nossos conceitos, tanto da guerrra assim como da guerrilha, em geito de repetição conclusiva abaixo passamos transcrever: “A guerra é a capacidade de manobra temporal e danosa, fazendo o uso racional calculativo de recursos diponíveis, impondo o inimigo constrangimentos dolorosos que enfraqueçam a sua moral combativa, corte total da sua iniciativa belicista, imobilizando-o, recorrendo às táticas militares convencionais, eficazes e transversais”. “A guerrrilha, é a conjugação de forças e meios disponíveis para a manutenção de uma luta armada e combates contínuos contra o inimigo, visando o asseguramento político-militar para a conguista da independência nacional”. Dos aspectos levantados aqui sobre os conceitos acima referidos, refletem a realidade do “impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independencia nacional”. Dado que, a guerrilha da FRELIMO, primordialmente usava a tática de guerrilha, como uma forma de conjugação de forças e meios disponiveis visando o asseguramento politico-militar para a conguista da independência nacional. 2. Moçambique no contexto das guerras de libertação africanas Moçambique está localizado na costa oriental da zona austral do continente africano. Este território está definido entre os paralelos 10⁰ 27` e 26⁰ 52` de latitude sul e os meridianos 30⁰ 12` e 40⁰ 51` de longitude Este, a sul do Equador, (INAM, 2002,pp.75-89). O território Moçambicano tem uma extensão de costa com cerca de 2.470 quilómetros, banhado pelo oceano indico, desde a foz do rio Rovuma a norte e a ponta de Ouro a sul, (MAE, 2009,pp.47-57). Tem a sua menor largura interior na zona centro e norte (a costa desde Namaacha a Catembe, alto farol) com cerca de 47,5 quilómetros e uma maior largura interior a costa que vai da Península de Mussuril até à confluência entre o rio Aruângua com o rio Zambeze, (INE, 2001,pp.12-23). A superfície é de 799.380 quilómetros quadrados (786.380 para terra firme e 13.000 de águas interiores). A configuração física do território condicionou a luta de libertação nacional, (1964-1974), pois dificultou a ligação entre as suas várias partes, em especial na frente de Cabo-Delgado, como veremos no decurso desta dissertação. Assim, Moçambique tem como limites, a norte, a República Unida da Tanzânia, consistindo numa faixa que vai desde a foz do rio Rovuma até ao rio Messinge, prolongando-se até ao lago Niassa. A noroeste, faz a fronteira com o Malawi e a Zâmbia, a sul e a sueste é limitado pela África do Sul (província de Transval), a leste o país é banhado pelo Oceano Índico e limitado pelo Canal de Moçambique, (MAE, 2009,pp.42-49). Por fim a oeste, pela Suazilândia (província do Natal) e a república do Zimbabwe. Após o estabelecimento de limites fronteiriços, o território ficou dividido em onze províncias distintas, (antigos distritos coloniais), a considerar, de norte a sul: Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Tete, Zambézia, Manica, Sofala, Inhambane, Gaza, Maputo província e Maputo Cidade, (MAE, 2009,pp.45-65). A guerra colonial desenrolou-se nas colónias de Moçambique, Guiné e Angola, no período de 1961-1974. Estiveram em confronto as Forças Armadas Portuguesas e as forças guerrilheiras organizadas pelos movimentos de libertação nacional de cada uma daquelas colónias. Os primeiros confrontos ocorreram em Angola, na zona a que se viria chamar “Zona Sublevada do Norte”, traduziram-se, a partir de 15 de Março de 1961, em bárbaros massacres de populações brancas e trabalhadores negros oriundos de outras regiões de Angola, conforme referimos abaixo no desenrolar deste capítulo de dissertação. Portanto, nos três teatros de operações, Angola, Moçambique e Guiné, os efectivos do exército português foram aumentando constantemente em relação ao aumento das frentes de combate, atingindo-se, no inicio da década de 70, o limite critico da capacidade de mobilização de recursos da parte do exército português, (FRELIMO, 1977). Porém, pela parte portuguesa, a guerra era sustentada pelo princípio político da defesa daquilo que era considerado território nacional, baseado no conceito de “nação pluricontinental” e multirracial”, (Bernardo,2003,pp.56-59). Ora, pela parte dos movimentos de libertação ou movimentos independentistas, a guerra justificava-se pelo inadiável princípio de autodeterminação e independência, num quadro internacional de apoio ao incentivo à sua luta de libertação nacional. O estado novo, primeiro com Salazar e depois com Marcelo Caetano, manteve com grande rigidez o essencial da política colonial, fechando todas as portas a uma solução credível para o problema de qualquer dos territórios, conforme abaixo detalhado nesta dissertação. Ora, desde os princípios de 1964, a situação em Moçambique era de pré-insurreição. Ainda que formalmente não tivesse estabelecido o conflito contra o exército português. Os guerrilheiros da FRELIMO, vindos da Tanzânia, e que tinham recebido treino militar na URSS, na China, na Argélia, no Egipto, no Sreal, na Líbia, e outros países de pendor socialista ou não, entraram clandestinamente em Moçambique e começaram a preparar as províncias de Cabo-Delgado e de Niassa para a futura insurreição militar para a libertação nacional, (FRELIMO, 1977,pp.234-236). Portanto a sua ação, difundida pela própria organização (FRELIMO), era o inicio da luta armada, deu-se na noite de 25 de Setembro de 1964, com o ataque a um posto administrativo denominado Chai, da província de Cabo-Delgadio, no planalto dos Macondes. Esta localidade não fica tão distante da fronteira com a Tanzânia, o grupo era composto de 12 guerrilheiros, sob o comando do actual deputado da Assembleia da República Alberto Joaquim Chipande. Assim, embora se possa considerar que outras ações mais ou menos simultâneas ocorreram em outros locais do norte de Moçambique, tendo maior impacto o distrito de Mueda, a verdade é que a partir de então, os incidentes violentos não pararam de aumentar de proporções atacantes, (Correia, 1999,pp.34-69). Porém, dentro das boas regras da guerra subversiva, os guerrilheiros espalhavam insegurança na zona, tendo assim maior impacto a frente de Cabo-Delgado, em termos de guerra de guerrilha no campo militar contra o exército português. Estes envolvimentos, dificultavam a actividade rotineira da zona e pondo em causa a capacidade das autoridades para exercem o seu domínio colonialista e fascista. Na altura, eram ainda, acções de valor militar modesto, mas que criavam o ambiente de resistência popular que era apoiado em Moçambique, em especial no planalto de Mueda, (Lages, 1999,pp.51-57). Com efeito, a FRELIMO iniciou, ao mesmo tempo, uma campanha de divulgação junto das populações, dos objetivos da sua luta de libertação nacional. As primeiras ações diretamente contra as tropas portuguesas ocorreram ainda no ano de 1964, provocando as primeiras baixas em combate, contra o exército português, (Gomes, 2009,pp.49-71). Como devemos perceber pela história dos dois beligerantes, a partir do inicio da luta armada, em 1964, tanto a FRELIMO como o exército português, deviam ter definido uma estratégia militar atuante em Moçambique, em especial na frente de Cabo-Delgado. Contudo, neste período inicial das hostilidades, os objectivos da FRELIMO eram muito limitados, conforme Machel, (1977), em sua teoria de “estas são as armas”. Pois, as suas preocupações estavam sobretudo centradas na unidade e coesão das várias correntes que constituíam o movimento, no sentido de as disputas não colocarem em causa a sua própria sobrevivência, como aconteceu em Angola frente a MPLA, a UNITA e FNLA, que passaram se combater como guerrilhas inimigas. As condições eram bastante desfavoráveis para a FRELIMO, (Gomes, 2002,pp.102-107). Em primeiro lugar, opunham-se, no seu interior, grupos de origem e formação muito diferentes, entre quadros urbanizados e cultos, que entendiam Moçambique como um todo, nas suas fronteiras estabelecidas, sem valorização de sua pertença a qualquer grupo étnico, e muitos militantes também dirigentes, que provinham de estruturas mais tradicionais e que tendiam a valorizar as reivindicações dos povoados onde provinham, (Armindo, 1972,pp.24-31). Este conflito agudizou-se em torno da disputa do poder por Eduardo Chivambo Mondlane, representante do entendimento Moçambicano do papel da FRELIMO e Lázaro Kavandame, chefe Maconde, representante dos grupos étnicos do Norte de Moçambique, que se estendem pelo território da Tanzânia, (FRELIMO,1977,pp.145-167). No entanto, este conflito tão principal, só veio a resolver-se com a morte de Eduardo Chivambo Mondlane, assassinado em Dar Salam em 3 de Fevereiro de 1969, por uma encomenda armadilhada, acção levada a efeito pela PIDE e a consequente entrega voluntaria às autoridades portuguesas de Lázaro Kavandame, receoso de ser acusado do assassínio do presidente Eduardo Chivambo Mondlane, (Melo,1998,pp.29-44). A segunda questão essencial, tem a ver com a estratégia propriamente militar. Pela análise da situação, parece fácil compreender que a zona decisiva, tanto em termos político-militares, como do ponto de vista económico e social, era a zona central de Moçambique, na província de Manica e Sofala, corredor das relações com a Rodésia, actual Zimbabué, unilateralmente independente em 1965, tendo no poder uma minoria branca, e região de actividades económicas essenciais e de presença da comunidade branca. Uma parte desta região, significativamente designada por “corredor da Beira”, por assegurar as ligações do porto da Beira com a Rodésia, incluindo o caminho-de-ferro, a estrada e oleoduto, representava, em termos militares, a zona decisiva do conflito entre a guerrilha da FRELIMO e o exército português, (Pinto, 2001,pp.33-38). Porém, o comando militar português, embora ciente desta circunstância, nunca formulou com clareza esse entendimento tão estratégico. Por seu turno, a FRELIMO, sempre teve em mente este objectivo, mas as circunstancias e os factores de decisão só muito tarde lhe foram favoráveis, devido ao impacto da frente de Cabo-Delgado na sua luta pela independência nacional, que souber apertar e encurralar o inimigo no planalto de Mueda. Contudo, a FRELIMO, logo que dispôs das condições básicas da actuação combativa guerrilheira, que alcançou em 1972, aproveitou-as de forma decisiva que culminou com a derrota do colonialismo português em Moçambique, (Mauricio, 1994,pp.53-61). As décadas de 1950 e 1960, foram importantes para o continente africano, pois a maioria dos países conquistou a independência. Por exemplo, em 1960, 17 países das colónias francesas e inglesas obtiveram a independência pelos acordos pacíficos, diferentemente dos países colonizados pelo regime português, (Moiane, 2009,pp.18-27). Assim, pelas “ondas de libertação africana”, este ano ficou conhecido como ano de “libertação de África”. Enquanto as duas grandes potências coloniais (frança e Inglaterra), abriam a mão das suas colónias em África, Portugal se posicionava firme em permanecer com a sua politica colonial em Moçambique, Angola, São Tomé, Cabo-Verde e Guiné-Bissau, (Davidson, 1978,pp.99-102). Figura n° 2 -Mapa dos países de movimentos de libertação nacional Fonte: Guerra colonial/DN Por exemplo, em Setembro de 1956, criou-se o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC), dirigido por Amílcar Cabral. Estes nacionalistas começaram por lançar apelos pacíficos em que pediam modificações sociais, e apenas receberam como resposta o silêncio e uma repressão cada vez mais maior, (Davidson, 1978,pp.97-105). A luz das orientações do Cabral, em Janeiro de 1963, o PAIGC resolveu tomar outro rumo, o de revolta armada. Podemos aqui recordar alguns antecedentes sangrentos que culminaram com as guerras de libertação nos territórios da colónia portuguesa em África. Nos finais da década de 1950 do século passado, nos referidos territórios, como apontam Andrade (1973), Ignatiev (1975), Carvalho (2010), aumentavam-se insurreições e sangrentos massacres aconteciam contra os africanos que revoltavam, por exemplo: Em 1953, o povo de São Tomé revoltou-se, uma revolta que teve como resultado o massacre de mais de 1.000 santomenses, numa população de 60.000 penosas; A 3 de Agosto de 1959 em Bissau (Capital de Guiné-Bissau), deu-se a insurreição do Cais de Pindjiguiti, onde os colonialistas portugueses massacraram 50 trabalhadores guineenses em greve. Esta repressão é denominada “massacre de Pindjiguiti”, aconteceu numa altura em que os trabalhadores do porto reivindicavam melhores condições do trabalho e aumento salarial; Em Janeiro de 1961, o massacre da Baixa Cassange em Angola. É um dos mais violentos massacres perpetrado pelo sistema colonial. No dia 4 de Fevereiro de 1961, a invasão do presídio militar de Luanda liderada pelo nacionalista Manuel Mendes das Neves, na tentativa de libertar os presos políticos. Provocou a reacção portuguesa, tendo surgido um clima de grande tensão, com repercussões internacionais; Em 16 de Junho de 1960, “massacre de Mueda” em Moçambique, onde foram massacradas cerca de 600 moçambicanos; A 15 de Marco de 1961, o massacre dos colonos no norte de Angola, vítimas do ataque da UPA (União das Populações de Angola, liderado por A.Holdem Roberto, (Davidson,97-111). Podemos salientar que esses massacres, resultaram na antecipação do rebentar da guerra colonial portuguesa, por exemplo, em 4 de Fevereiro de 1961 em Angola; a 23 de Janeiro de 1963 para a Guiné-Bissau e a 25 de Setembro de 1964 em Moçambique, são as datas de inicio da luta de libertação nacional, (Carvalho, 2010,pp.46-81). Como era de esperar, realmente as reivindicações dos africanos, e o trabalho das suas organizações de resistência contra o opressor, obrigada à clandestinidade, originaram com isso, severas repressões, como temos vindo a referir nesta dissertação. Tudo isso se praticava, segundo Cabral (1978,pp.58-61), em nome da “civilização cristandade”, pelo mais retrógrado dos sistemas coloniais. Ademais, com relação à lei de civilização, Cabral (1978,p.59-63), ironizava afirmando que, “se Portugal conseguisse ter uma “influência civilizadora” sobre qualquer povo seria uma espécie de milagre, isto porque era um país subdesenvolvido com 40% de analfabetos e o seu nível de vida era o mais baixo de Europa. Ora vejamos, com a instalação da polícia política (PIDE) Policia Internacional da Defesa do Estado, nos finais da década de 1950, começou a caça aos nacionalistas africanos. Desde modo, a PIDE desencadeou uma onda de repressão que conduziu às mortes, às prisões políticas, (Davidson, 1978,pp.112-118). Sendo assim, milhares de nacionalistas estavam encarcerados nas prisões da PIDE pelo crime de quererem a liberdade do seu país, (Cabral, 1978.p.59). Será que querer liberdade é um crime? Questionavam os nacionalistas ao sistema fascista colonial do Salazar. Caça aos nacionalistas, de certa forma deu certo, pois Eduardo Mondlane, Amílcar Cabral, entre outros tombaram, forma executados, mas isso não impediu o avanço da luta pela libertação, tanto na Guine assim como em Moçambique. Perante esse cenário da postura severa do governo português, a FRELIMO, o MPLA, o PAIGC, e outros movimentos independentistas do jugo colonial português, tinham apenas duas opções: ou conformar-se com o sistema colonial fascista ou lutar pela independência nacional, (FRELIMO, 1977). Outrossim, mesmo conscientes de que o regime colonial português, pela sua característica, jamais aceitaria um acordo pacifico pela independência dos países em causa. Por isso, através de memorandos, notas abertas e outras formas de resolução pacífica, os nacionalistas faziam apelos para que o governo português resolvesse o conflito por via pacífica. Neste decurso, quando em 15 de Dezembro de 1960, na XV sessão da Assembleia Geral da (ONU) Organização das Nações Unidas, foi aprovada a Carta que reconhecia o direito de todos os países à autodeterminação, declarando que o governo português, de acordo com os estatutos da ONU, era obrigado a apresentar relatórios sobre a situação nos seus territórios coloniais. Assim, com intuito de ludibriar a comunidade internacional, Portugal apressou-se a modificar a sua Constituição, substituiu o termo “colónia” por “província ultramarina”, o que permitia afirmar que não havia colónias, visando defender os relatórios a apresentar na ONU sobre os “territórios africanos”, (Cabral, 1978, pp.57-59). Os movimentos nacionalistas africanos sob jugo colonial, conforme refere Ignatiev (1975,pp.149-153), enviaram às autoridades portuguesas memorandos, propondo o inicio imediato de conversações sobre a concessão das independências nacionais. Assim, os nacionalistas em referencia, afirmavam que “se o governo português insistisse em não reconsiderar a sua posição, cumpririam a sua missão histórica, desenvolvendo a luta de libertação nacional, respondendo com violência às forças colonialistas portuguesas e liquidando completamente, por todos os meios, a dominação colonial”, (Ignatiev, 1975, pp.149-157). Porém, a táctica geral desses nacionalistas, visava a obtenção da independência por vias pacíficas não trouxe os resultados esperados. Entre 1956 e 1964, os nacionalistas tentaram várias vezes uma saída negociada do colonialismo. Eduardo Mondlane e Agostinho Neto, afirmam que “fomos obrigados a optar pela violência, pois, se tivesse o governo de Salazar optado por uma negociação pacifica, a guerra dificilmente teria sido uma realidade, (Carvalho, 2010,p.174). Estes nacionalistas, entendiam que a violência deveria ser usada de forma racionalizada, controlada e direccionada. Estes concebiam o uso de violência como forma de resistência ao colonialismo português, uma vez que reconhecia no sistema colonial, uma forma permanente de violência institucionalizada contra o povo oprimido, (Carvalho, 2010,pp.176-189). Apoiando nos pressupostos dos nacionalistas em discussão, em Moçambique, durante a guerra de libertação nacional (1964-1974), os guerrilheiros da FRELIMO, durante os combates contra o exército português, não ousavam assassinar, maltratar, ferir, depois de capturar os soldados, oficiais ou sargentos do exército português, sempre eram tratados com dignidade humana, conforme recomendado no direito internacional humanitário, sobre o tratamento aos soldados capturados do inimigo, “Manual de direito de guerra”. É deveras importante começarmos agora a estudar nesta dissertação a posição de Moçambique dentro do contexto das guerras africanas para a aquisição da sua independência. Assim, na África, por exemplo, a sul do Shara, existia uma geração de lideranças africanas que parecia capuz de assumir o desafio de mudança e desenvolvimento dos novos países, no caso de Nkruma, Nyerere, Lumumba e Senghor, que constituíam a primeira geração dos movimentos de libertação. Paralelamente aos acontecimentos sobre os movimentos independentistas, também nas colónias portuguesas surgiram líderes de elevada capacidade técnica e intelectual, nomeadamente Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Eduardo Chivambo Modlane, Viriato da Cruz, os irmãos Pinto de Andrade, Aquino de Bragança, entre outros de pendor independentista. Muitos autores que estudaram sobre os movimentos libertacionalistas, afirmam que” o itinerário desta primeira geração começou com o movimento descolonizador”. Portanto, é uma geração que regressa a África, depois dos seus estudos na Europa e um pouco por todo o mundo, que tem maior consciência da exploração a que estavam sujeitas as populações africanas, que aspira a liderar os novos países que ela própria vai criar, (Aniceto, 2000,pp.52-61). Vejamos que esta geração de nacionalistas, portanto, herdeira das fronteiras estabelecidas na Conferencia de Berlim, acabou por ter de destruir as estruturas tradicionais dos povos africanos, talvez de forma ainda mais radical e violenta do que os europeus tinham feito durante a sua colonização. Ora, os novos dirigentes nacionalistas, não se integravam nas estruturas tradicionais dos povos, ou seja, já não possuíam laços orgânicos com os seus grupos originários e não podiam, por isso, aspirar a serem seus chefes nem estavam interessados nesse antiquado paradigma, a essência era combater os colonizadores. Porém, o seu programa cingia-se em criar um novo pais e integrar nele um novo povo, nisto é, um somatório de povos sem necessidade de cimento cultural comum. Por exemplo, em Moçambique, os Macuas combatiam na guerrilha em zonas dos Ajauas, dos Maroncas, dos Mazancanas, vice-versa. Portanto, o cimento ou alicerce mais evidente para uma construção credível, assentava precisamente na luta pela libertação nacional, a partir da unidade nacional. Por isso mesmo, Eduardo Chivambo Mondlane, Samora Moisés Machel, Armando Emílio Guebuza e Filipe Jacinto Nhussy, condicionaram todos os processos de harmonização de Moçambique, como sendo a “unidade nacional”. Foi o lema da luta armada pela independência de Moçambique contra o colonialismo português. Com efeito, o tribalismo era um perigoso inimigo concorrente para os novos nacionalistas, a quem disputava o “poder”. Podemos assim afirmar nesta dissertação, que o tribalismo é em si mesmo um tipo de nacionalismo, que muito foi usado para dividir os africanos, e se combatendo entre tribos, e tinha vantagem para o colonizador. Por esta razão, o tribalismo foi combatido pelos dirigentes dos movimentos de libertação, por considerarem contra os interesses dos povos e da sua libertação. Ou seja, na realidade, o tribalismo representava os tradicionais valores dos povos africanos, dai que os novos dirigentes dos movimentos independentistas, não puderam ultrapassar sem novos e intensos conflitos internos. O ideal, “construir uma identidade nacional”, foi e continua ser um dos maiores desafios da geração dos homens que levou Moçambique à independência, depois de dez anos da luta armada, que quão focalizamos neste capítulo e capítulos seguintes. Por exemplo, em Moçambique, o grupo de Samora Moisés Machel, que sucedeu Eduardo Chivambo Mondlane como presidente do movimento, irá conduzir a FRELIMO até a independência nacional, ultrapassando, através de lutas fratricidas todos os opositores. Tendo maior impacto na província de Cabo-Delgado, onde praticamente foi o centro de gravidade da guerrilha da FRELIMO contra o exército português. Como vimos nesta dissertação, o grupo Machelista pretendia iniciar uma revolução social, cujo paradigma de base era a luta de libertação nacional, mas sobretudo trazendo associado o fim de criar um “homem novo” em Moçambique. Muitos críticos e autores de estudos sobre movimentos independentistas, afirma que “tratava-se, em suma de levar à prática as teorias da guerra revolucionária, ou seja, de subverter a ordem colonial e de eliminar a influência ocidental em território africano, mediante a aplicação de influências ideológicas próximas ou quase do “marxismo-leninismo”. Podemos notar aqui que, a raiz, da construção do primeiro nacionalismo em Moçambique e da consequente identidade comum, está plenamente na guerra de libertação nacional, dirigida pela FRELIMO. Vejamos aqui algumas citações, por exemplo, das palavras de José Luís Cabaço, membro do governo de transição de Moçambique, na altura, por parte da FRELIMO, no período entre Setembro de 1974 e Junho de 1975, na sua tese de doutoramento, Mocambique-Identidade, Colonialismo e Libertação: “Opunham-se neste conflito da FRELIMO como poder tradicional, o protonacionalismo e a ideia da nação. Frente a frente foram-se polarizando dois planos de identidade colectiva: a) a concepção de uma independência confinada à própria região e comunidade etnolinguística (…); b) o processo prescritivo de uma nova identidade construída em torno da pertença a um território geográfico que aceitava as fronteiras coloniais, cuja identidade se devia ir estruturando pela participação numa tarefa comum, a luta armada, e pela identificação num objectivo comum, a independência, (…),o movimento de libertação como embrião do Estado”. Curiosamente, podemos aqui perceber melhor a noção da cultura com o outro autor, e disse: “a cultura revela-se como fundamento do movimento de libertação nacional, e só podem mobilizar-se, organizar-se e lutar contra a dominação estrangeira as sociedades e grupos humanos que preservam a sua cultura. Esta, qualquer que seja as características ideológicas e idealistas da sua expressão, é um elemento essencial do processo histórico. É nela que residem a capacidade ou a responsabilidade de elaborar e fecundar os elementos que asseguram a continuidade da história, assim como determinar as possibilidades de progresso ou regressão da sociedade. Pois, uma sociedade que se liberta verdadeiramente do jugo estrangeiro retoma a rota ascendente da sua própria cultura, que se nutre na realidade vivente do meio e nega tanto influencias nocivas como todas as formas de sujeição a culturas estrangeiras, a luta de libertação é antes de tudo o maior e significado acto de cultura”,( Cabral apud Lopes, 2004,pp.3-39). Estes aspectos, em Moçambique actualmente continuam a discutir-se, e pondo o problema, na consciência da sua importância para qualquer estratégia nacional. Por exemplo, no (PQG) Programa Quinquenal do Governo para o período 2010-1014, consta como objectivo central a” consolidação da unidade nacional” está definida da seguinte forma: “A unidade nacional, que foi um dos factores decisivos da vitória do povo moçambicano na luta contra a dominação estrangeira, constitui uma das prioridades centrais da acção política do governo, mormente na promoção da moçambicanidade, auto-estima individual e colectiva e da valorização da nossa diversidade e dos nossos heróis e talentos”, (PQG, 2010-2014). Ainda assim, os extraordinários sucessos políticos, militares e diplomáticos da luta de libertação dos nacionalistas, por exemplo, Moçambique, Angola e Guiné-Bissau, haviam colocado em 1973-1974, o intransigente regime de Lisboa num beco sem saída. Senão vejamos, estes movimentos independentistas, embora não fosse o seu objectivo principal, prestaram um contributo inestimável à luta pela deposição da burocrática ditadura de Portugal e à criação de uma sociedade democrática nesse país. No geral, as guerras coloniais, em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, constituíram a causa principal do colapso da ditadura salazarista, (Carvalho, 2010,pp.109-152). Vejamos aqui esta proposição Machelista, ainda que confiante sobre os movimentos independentistas em debate nesta dissertação,”se a queda do fascismo em Portugal pode não levar o fim do colonialismo português - hipótese que é, aliás, apresentada por alguns dirigentes libertacionalistas de pendor Machelista e da oposição portuguesa - temos certeza de que a liquidação do colonialismo arrastará a destruição do fascismo em Portugal. Com nossa luta de libertação das colónias portuguesas, contribuímos eficiente e eficazmente para a queda do fascismo português e damos ao povo de Portugal a melhor prova da nossa solidariedade” (Machel, 1977,pp.6-19). É interessante, como o Machel e os seus seguidores, (1977), argumentavam sobre a vitória dos movimentos independentistas, vejamos nesta proposição, “é necessário perceber a distinção entre o governo colonial fascista e o povo de Portugal, e apelavam para que os povos de Moçambique, Angola, Guiné e Cabo-Verde, não lutassem contra o povo Português, mas que lutassem até a vitória final contra os colonialistas portugueses”. Segundo Machel e seguidores, (1977),” a destruição do fascismo em Portugal deve ser a obra do povo português, a destruição do colonialismo português deve ser a obra dos nossos próprios povos”, (Machel, 1977,pp.7-14). Portanto, o colonialismo português em Moçambique foi derrotado em todas as frentes: militar, que teve maior impacto na província de Cabo-Delgado, sendo uma das frentes que mais contribui na edificação da guerra em outras frentes; política e diplomático. Por exemplo, no plano político e diplomático, o regime lisboeta foi completamente derrotado, através das denúncias e intervenções feitas por actores internacionais e dirigentes independentistas, por exemplo, Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Marcelino dos Santos, nas conferências internacionais, nas Comissões dos Direitos Humanos das Nações Unidas, no Congresso Americano, na IV Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas, (Davidson,1978,pp.104-118). O ano de 1970 pode ser considerado como um ano de mudança do contexto político de regime fascista português. Nesse ano, o fascismo português colocou-se num isolamento profundo no contesto internacional. Até mesmo uma serie de países ocidentais começaram a pedir contas ao regime de Lisboa. De 27 a 29 de Junho, do mesmo ano, realizou-se em Roma uma conferência internacional de solidariedade com os povos das colónias portuguesas. Este acontecimento teve uma grande importância para os movimentos de libertação nacional, pois, a Itália era um membro da (NATO) Organização do Tratado Atlântico Norte. E como se sabe, precisamente os países membros da NATO, acima de todos estava os (EUA) Estados Unidos da América, que prestavam apoio a Portugal fascista, graças à qual Lisboa podia manter As guerras coloniais em África, (Ignatiev, pp.189-193). Feito isso, graças à hostilidade do ambiente físico e do clima, à falta de recursos naturais e às prolongadas resistências das populações indígenas à colonização, os portugueses nunca conseguiram estabelecer um verdadeiro e extensivo domínio colonizador, nem em Moçambique, nem na Guine e Cabo Verde e nem Angola, ou outros locais afins, onde as contradições tribais e de classe eram por ventura menos pronunciada em situação de combate ao inimigo comum, o colonizador, (Woollacott, 1983,pp.1132-1134). Todavia, a principal razão do sucesso da FRELIMO, do PAIGC, do MPLA, deve imputar-se à qualidade das suas organizações politicas e das suas lideranças, e, em particular às extraordinárias capacidades do Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Samora Moisés Machel, (Woollacott, 1983,pp.1133-1139). Com tudo, os factores históricos e geográficos (geopolíticos), como diz Woollacott, (1983,pp.1133-1136), foram certamente mais favoráveis ao desenvolvimento da luta guerrilheira de libertação de Moçambique, Angola, Guine e Cabo Verde. Senão vejamos, a maior parte do interior desses países era inacessível aos portugueses, fornecendo um excelente terreno para o combate de guerrilha ou de guerra de guerrilha. Por exemplo, para o caso de Guiné-Bissau, a independência de Guine-Conacry em 1958 e do Senegal em 1960 proporcionaram ao PAIGC um refúgio seguro ao norte, ao leste e ao sul do país, bem como valiosas bases tanto para o treinamento militar como para fornecimento material bélico e emissões de propagandas, etc. No caso de Moçambique, os guerrilheiros da FRELIMO, tinham apoios nas suas fronteiras do norte, como fonte de alimentação guerrilheira em todos aspectos a partir de Tanzânia, na base de Nachingueia, indo para o nordeste, com Malawi e Zâmbia incluindo o Zimbabwe. Na qual a Zâmbia fazia acompanhamento em apoios aos guerrilheiros, embora Malawi indiferente, (Pelembe, 2012,pp.51-73). Por isso não era de esperar que o exército português tivesse uma capacidade combativa eficaz contra a guerrilheira, devido a infiltração em massa no seio dos postos inimigos e de combates inesperáveis e terror total no seio do exército português. A floresta Moçambicana é densa, com vários rios, ou seja, Moçambique é pais mais hidrográfico, exige de recursos para a locomoção do ponto para outro. Já Angola, tem ainda maior floresta, maiores rios, e muitos obstáculos naturais, os seus guerrilheiros, tiveram sempre vantagem nos combates contra o exército português, devido a sua natureza albufeira e hidrográfica, os autóctones tinham a vantagem do terreno sobre os invasores portugueses. Outrossim, se considerarmos que, no inicio de 1961, as tropas portuguesas totalizam cerca de mil homens e que o seu número vinte e cinco vezes, alem de não ter feito parar o avanço triunfante das guerrilhas nacionalistas, também não evitou situação difícil a que os nacionalistas os levaram, verificamos que a amplitude do impasse em que se encontrava as autoridades colonialistas, (Cabral, 1988,pp.5-9). No entanto, apesar dos grandes reforços das forças colonialistas vindos de Lisboa, que totalizam cerca de 25.000 homens no inicio de 1961, tropas de terra, mar e ar, polícia e corpos armados especiais e reforços materiais em toda espécie, nomeadamente bombardeiros americanos B26 e caças alemãs, a reacção fiat 91, para fazer face à intensificação da acção dos nacionalistas de Moçambique, Angola, Guine e Cabo-Verde, e suprir as pesadas baixas sofridas no decorrer da década de 1960, as autoridades coloniais portuguesas não tinham conseguido parar a marcha vitoriosa da luta armada dos nacionalistas, encontrando-se cada vez numa situação de impasse, (Cabral, 1988,pp.5-11). Assim, o fascismo português sofreu uma derrota não só no aspecto militar, mas também o factor moral na perspectiva do contexto internacional e interno. Em muitos países realizaram-se manifestações populares e comícios contra a atitude do colonialismo português. Por exemplo, os representantes das embaixadas portuguesas foram entregues notas em que se condenavam severamente os novos crimes hediondos dos colonialistas contra as populações indefesas. Paralelamente aos expostos acima, a 25 de Abril de 1974, o exército e o povo português, derrubaram o odioso regime fascista em Portugal. Isso significou o fim irrevogável da infame guerra colonial em África. Este acontecimento importante ficou conhecido como “Revolução dos Cravos”. Podemos dizer que Samora Moisés Machel, com toda a sua actividade incasável, de guerreiro e Marechal do Campo, não só conduziu o seu povo à independência, mas também contribuiu muito para a liquidação do regime fascista em Portugal, (Ignatiev, 1975,pp.196-198). Damos aqui uma síntese conclusiva sobre o capítulo debatido (Moçambique no contexto das guerras de libertação africanas). Procuramos enquadrar estrategicamente a guerra em Moçambique ao nível das descolonizações africanas, tecer considerações sobre a situação política em Portugal e focalizamos a realidade social moçambicana. Ora, o contexto da discussão sobre as guerras em África contra o regime colonial, sempre se mostrou favorável aos movimentos independentistas, pelos factores que vínhamos discutindo nesta dissertação: a situação geopolítica da África austral, coesão politico-militar da FRELIMO, MPLA, PAIGC, a situação historiográfica dos países colonizados, problemas multigeográficos e fisiológicos, fenotipo e morfologia natural destes países. Com o advento das independências verificadas nos países colonizados pelas potências francesas e inglesas, abriu-se um caminho para que o regime colonial fizesse o mesmo para as colónias portuguesas, embora renitente e pouco inteligente na sua postura governamental. Muitos outros factores favoreceram também o surgimento das guerrilhas e as derrotas vergonhosas do colonialismo português, conforme demonstrado neste capítulo durante o debate desta dissertação. Graças aos movimentos independentistas, a situação na África portuguesa ficou mais melhorada e desenvolvida, e o povo de Portugal goza de uma paz, liberdade e dignidade humana, que jamais ousaram gozar na era do fascismo, acompanhado de incertezas, devido a guerra em África. 3. A Frente de Combate de Cabo-Delgado na Luta de Libertação Nacional A frente de combate de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional, surge na sequência da guerra travada entre 1964-1974 contra o exército português em Moçambique. Essa frente, deu maior impacto, tendo desta forma culminado com as primeiras zonas libertadas em Moçambique, onde as autoridades coloniais não tinham nenhuma presença administrativa. A FRELIMO, usando a sua dinâmica mobilizadora no aspecto político-militar, impunha ao exército português limites geográficos dentro do território do distrito de Mueda, ou seja, planalto de Mueda, onde os macondes tinham maior apoio a favor da FRELIMO. Esta guerra era considerada como “subversiva” no panorama das autoridades portuguesas, e como “revolucionária” para a FRELIMO, pois, visava libertar o povo moçambicano do jugo colonial. Este antagonismo sobre o conceito de “guerra”, já discutimos no capítulo do enquadramento teórico, por isso, os movimentos independentistas, de Angola, Moçambique e Guiné, se consideravam revolucionários, e o governo português os considerava de insurgentes, terroristas, subversivos, etc…, na tentativa de enganar a opinião pública internacional. Por outro lado, se levarmos em conta o carácter táctico de emprego do tipo de meios, processos restritos com as forças ligeiras, dispersas e clandestinas, deve ser classificada como sendo uma guerra de guerrilha, (Gomes, 2000,pp.14-16). De facto, a frente de Cabo-Delgado, o seu maior impacto, foi por te sido uma estratégia da guerra de guerrilha bem aplicada contra o exército português, embora na altura com fortes bombardeamentos e combinação com as forças terrestres do exército português. O que é a guerra subversiva? No caso de alguns autores especializados em matéria, definem a guerra subversiva como sendo “uma luta conduzida no interior de um dado território por uma parte dos seus habitantes, ajudados ou não no exterior, contra as autoridades de direito ou facto estabelecido, com a finalidade de lhes retirar o controlo desse território, (Gomes, 2000,p.14-17). Se considerarmos esta definição como válida, então podemos afirmar que a guerra em Moçambique não era subversiva, pois não visava libertar uma parte e nem tirar controlo, mas sim, visava libertar totalmente o território Moçambicano contra o jugo colonial fascista português. No que tange à guerrilha, a FRELIMO usava-a na frente de combate de Cabo-Delgado, por meio de ataques de surpresa, fazendo ações de sabotagem rápidas e eficazes contra o exército português desorientado no terreno real das hostilidades. Por exemplo, estudos adquiridos em academias militares portuguesas não tinham valor aplicável no terreno da frente de Cabo-Delgado, quer seja em aspectos topográficos, companhias inteiras se perdiam na floresta densa da frente de Cabo-Delgado, e sendo eliminados facilmente pelos leões, cobras, abelhas, crocodilos, em fim pelos guerrilheiros da FRELIMO em missões combativas naquela frente invencível. Como tínhamos referido nos capítulos anteriores desta dissertação, que a táctica de guerrilha, era empregue pelos mais fracos contra os mais fortes, neste caso, a FRELIMO contra as tropas portuguesas. Sabendo-se muito bem os problemas da falta de meios e materiais para a guerrilha, compondo-se com uma força militar ligeira, faziam com que as tropas portuguesas aparentemente apresentassem um maior potencial de combate no terreno da frente de Cabo_Delgado. Outro aspecto que deu relevância a frente de Cabo-Delgado aos guerrilheiros da FRELIMO, revela-se no capítulo de “conhecimento do terreno” que é o elemento indispensável numa guerra de guerrilha. Como dissemos, nos capítulos a cima, sobre as condições morfológicas de Moçambique, em termos geofísicos e geohidrográficos, davam maior vantagem a guerrilha da FRELIMO, permitindo-lhe a ação espontânea, o apoio logístico limitado devido as condições de mobilidade na frente de Cabo-Delgado deixava em desvantagem o exército português. Ademais, a frente de Cabo-Delgado tinha um denominador comum, em termos de ajuda aos guerrilheiros da FRELIMO que vinha através da ajuda da sociedade quer interno e externo, atendendo a sua situação geofronteiriça, cuja zona era dominada pela Tanzânia, onde a FRELIMO se organizava e treinava os seus guerrilheiros, o que facilitava a sua infiltração no interior da frente de Cabo-Delgado, originando o desespero e a derrota do exército português, a favor da FRELIMO. Certos autores afirmam que os ataques dos guerrilheiros da FRELIMO, posicionados na frente de Cabo-Delgado, eram em primeira instância rápidos, para em seguida dispersarem, garantindo sempre que as forças do exército português nunca se organizassem para fazer frente aos combates, em situação de guerra de guerrilha, (Aniceto, 2000,p.23). Fica claro aqui, que a frente de Cabo-Delgado teve maior contribuição no alargamento das outras frentes, pois, acelerou os ânimos dos colonialistas, motivou aos guerrilheiros da FRELIMO prosseguirem a luta armada até a libertação do jugo colonial em Moçambique. 3.1. Análise sócio militar da Frente de Combate de Cabo-Delgado Vejamos a figura número 3, a disposição no terreno das forças guerrilheiras da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, na luta armada contra o exército português, na guerra em Moçambique (1964-1974). Figura n° 3-Disposição das Forças da guerilha da FRELIMO Fonte: Guerra Colonial/DN Numa análise geral sobre a disposição das forças guerrilheiras da FRELIMO no terreno, para facilitar as operações a nível da frente em referência, o DD (Departamento da Defesa) da FRELIMO, em 1967, decidiu criar 4 sectores militares operacionais na frente de Cabo-Delgado. Os setores militares para a FRELIMO, eram áreas geográficas delimitadas, que tinham sido convencionadas pela FRELIMO para facilitar as operações militares da frente em causa. Ora, com o avanço da luta armada, a FRELIMO viu-se na contingência de criar setores militares, com o objectivo de facilitar o comando das operações militares contra o exército português, na guerra em Moçambique (1964-1974). Portanto, esta configuração operacional no terreno da frente de Cabo-Delgado, pressuponha a existência de bases sectoriais. Assim, a frente de Cabo-Delgado, numa primeira fase, tinha 3 bases setoriais, a saber: base do primeiro, segundo e terceiro setores militares, e mais tarde é que foi criado a base do quarto setor. Estas bases setorias trouxeram uma dinâmica na luta armada contra o exército português. Pois, vejamos, com o desenvolvimento da luta armada na frente de Cabo-Delgado, (1964-1974), permitiu a criação de setores militares operacionais, porque era difícil, o comando provincial só por si, coordenar atividades a partir do Rovuma até ao rio Lúrio, sozinho, sem haver qualquer intermediário no meio, para controlar determinados alvos. Para criar um setor militar operacional, tinha que haver alvos no terreno do setor para abater definitivamente, (FRELIMO, 1977,pp.145-189). Assim, o primeiro setor militar da FRELIMO, tinha como função de reabastecimento dos guerrilheiros e também assegurar a intensificação das operações no segundo e terceiro setores. Por isso, se não existisse o primeiro setor militar, também deixavam de existir atividades nos outros dois sectores. Podemos notar que, o primeiro setor militar era estratégico, pois fazia fronteira a norte, com o rio Rovuma, e abrangia as regiões de Quionga, Nagade, Negomano, Mueda, Nairoto e limitava a sul com a estrada Mueda-Mocimbua da Praia. O primeiro setor militar operacional, tinha como base setorial a base Beira, (Vieira 2011,pp.87-143). Por seu turno, o segundo setor militar operacional, que concentrava grandes postos do exército português e com maior número da população local. Este setor militar, fazia a fronteira a norte com a estrada de Mueda-Mocimbua da Praia e Nairoto, a sul o rio Messalo e Nairoto e também a província de Niassa, a ocidente. Ainda assim, o terceiro setor militar operacional, era considerado pela FRELIMO como a base fundamental do desenvolvimento e consolidação da luta armada (1964-1974), no primeiro e segundo setores, ou seja, como a porta de entrada da luta armada para as outras frentes até então não afetadas pela guerra, por isso, era imperioso a intensificação das operações militares nas “zonas de avanço”, como a FRELIMO a designava, (Vieira, 2011,pp.109-168). Nesta perspetiva, o terceiro setor militar, tinha como fronteira, a norte, o rio Messalo e abrangia a região de Mariri, a sul, a estrada Montepuez-Pemba e também Mahate, Moja. Na parte ocidental, tinha como limite a província de Niassa. Em termos geográficos, o terceiro setor situava-se na região de Macomia e tinha como base setorial a sub-base Moçambique. Porém, cronologicamente, os primeiros três setores militares operacionais, tiveram a sua formação numa mesma altura, mas com algumas particularidades em termos de capacidade e possibilidade, do exército português fazer frente a guerrilha da FRELIMO (1964-1974), e a movimentação no terreno dos três setores em causa, (FRELIMO, 1960-1975,pp.70-106). É importante salientarmos que, a resistência por parte do povo moçambicano contra o jugo colonial, marcou sua presença já desde a I Guerra Mundial, por intermédio das acções das várias tribos, desde os macondes, os macuas, os ajauas, etc., opondo-se à mão-de-obra forçada (xibalo) e o pagamento obrigatório do tributo, (imposto de palhota), como referimos anteriormente. É deveras importante destacar aqui, no que toca às diferenças entre os setores militares operacionais e movimentação das tropas portuguesas, podemos notar que no primeiro setor da frente de Cabo-Delgado, era difícil o exercito português movimentar-se em relacao em relacao ao segunto setor. No segundo setor militar operacional da guerrilha da FRELIMO (1984-1974), o exército português, tinha muitos destacamentos perto um dos outros, por exemplo, entre lojas, missões, administrações, postos administrativos, que constituía zona de patrulha dos soldados portugueses. Esta condição piorou quando foi implementado o fracassado Nó Górdio do exército português, porque o inimigo criou mais posições, em pouco tempo recorde, (Vieira, 2011,pp.153-179). Ora vejamos, em Moçambique o desencadear de uma revolução no interior do território iria conduzir à formação duma frente de combate em Cabo-Delgado, no planalto de Mueda, onde em 1960 os makondes tinham sido massacrados pelas tropas portuguesas. Com o desenrolar da guerra em Moçambique (1964-1974), a frente de Cabo-Delgado tinha que exercer ações capazes de contrapor as tropas portuguesas que actuavam em Mueda, a fim de proteger a população local. Sendo assim, a população do planalto dos makondes, facilitaram a tarefa dos guerrilheiros, apoiando-os na frente de combate contra as tropas portuguesas. No que diz respeito à situação social do território da frente de Cabo-Delgado, durante a guerra em Moçambique (1964-1974), era insuportável, pois, o governo português implementou um sistema de culturas obrigatórias, aplicou um elevado imposto de palhota recorrendo ao trabalho forçado e bombardeamento maciço às populações indefesas. Ora, no terreno da frente de Cabo-Delgado, nenhum destes aspectos favorecia para as tropas portuguesas. É suposto que com estas ações cometidas pelo governo português, estavam reunidas todas as condições necessárias para o desenvolvimento de uma ação combativa popular, contra quaisquer políticas do governo português. Esse ódio ao colonialismo português, reforçou as políticas de continuidade da frente de Cabo-Delgado, na guerra em Moçambique (1964-1974), até a derrota total das tropas portuguesas no território moçambicano, (Pelembe, 2012,pp.77-142). De recordar que a frente de combate de Cabo-Delgado, para a guerra em Moçambique (1964-1974), era constituída por membros da guerrilha de origem moçambicana, sem distinção de etnia, sexo, lugar de domicilio ou crença religiosa. Essa frente correspondia as expectativas da FRELIMO, pretendia acabar definitivamente com o domínio colonial português em Moçambique, conquistar a independência imediata e completa do território moçambicano, defender e preconizar reivindicações de todo o povo moçambicano oprimido e explorado pelo regime colonial português, (FRELIMO, 1960-1975). Neste contexto, a frente de Cabo-Delgado, desencadeava a sua propaganda sustentada na necessidade de lutar pela independência, por outro lado, as ações politicas decisivas para a conquista de apoios nacionais e internacionais. Nesta análise, Machel, (1977,pp.18-20), defendia que a FRELIMO, é aquela ideologia política que surgiu do processo de luta interna entre as classes, o que permitiu interiorizar e assumir os fundamentos do socialismo científico. Já na perspectiva portuguesa, a FRELIMO era parte integrante de uma estratégia global comunista, induzida para um conflito a partir do exterior, (Garcia, 2003,pp.135-137). Durante os combates na frente de Cabo-Delgado, durante a guerra em Moçambique (1964-1974), as palavras de ordem eram “Estudar, Produzir e Combater”, sendo uma revolução caracterizada por uma ação consciente, resoluta e incisiva de massas populares, (Garcia, 2003,pp.135-139). Sendo assim, a revolução desenvolvida pela frente de Cabo-Delgado, na guerra de Moçambique (1964-1974) por guerrilheiros da FRELIMO, era uma revolução do povo para o povo, onde os militares que pertenciam aos quadros da FRELIMO, serviam de instrumentos armados contra o exército português. Em suma, a guerra de guerrilha do ponto de vista da frente de Cabo-Delgado, só podia ter sucesso através de uma mobilização política geral da população, por meio da propaganda, e a progressiva indução do povo no seu apoio com emprego total das suas energias e possibilidades contextuais independentemente das contingências. 3.2. Caraterização político-militar da FRELIMO Abaixo, podemos ver como era a organização político-militar da FRELIMO, cuja base combativa se mostrava quão consistente em termos de manobras de fogo combativo contra o exército belicista português, cuja frente, o exercito portugues saiu derrotado vergonhosamente com vários prisioneiros das suas tropas e deserções nas suas fileiras, dando vantagem a FRELIMO na frente de Cabo-Delgado na guerra em Moçambique (1964-1974). Observemos atentamente a figura número 4, que explana a organização política militar da FRELIMO enquanto guerrilha (1964-1974) na frente de Cabo-Delgado. Figura n°4-Organização Politica Militar da FRELIMO Fonte: Guerra Colonial/DN Para falarmos da caracterização político-militar da FRELIMO, é preciso considerar o importante acontecimento que desencadeou o inicio da luta armada no território moçambicano, trata-se do “Massacre de Mueda”. Nesse massacre ocorrido na província de Cabo-Delgado, distrito de Mueda a 16 de Junho de 1960, onde se reuniram vários populares como dissemos noutros desenvolvimentos, a exigirem ao governador da região, melhorias das suas condições de vida e uma provável criação de cooperativas em Mueda. Todavia, as tropas portuguesas, com recurso a armas, assassinaram cerca de 600 pessoas, ficando deste modo, marcado na história da sociedade makonde, já empenhada desde o inicio da luta armada contra a administração portuguesa. Desde modo, esses makondes vieram a construir a considerada coluna vertebral da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, planalto dos macondes, durante a guerra em Moçambique (1964-1974). Ora, quando se deu a vitória do liberalismo, o governo português tinha sob a sua alçada uma região na costa oriental de África, que ia desde a faixa que descia ao longo do litoral, desde a baia das ilhas Quirimbas, foz do rio Rovuma, ilha de Moçambique e costa fronteiriça até a boca do rio Zambeze, ao longo do qual penetrava até ao interior da frente de Tete, e volvia até ao Sul, numa faixa costeira de Sofala, Inhambane e Lourenço Marques, actual Maputo, (Gomes, 2002,pp.11-13). O sentimento nacionalista em Moçambique tem raízes após os movimentos anticolonialistas de 1956 que tinham influenciado a Tunísia, o Sudão e Marrocos, que conduziu também o Gana à independência nacional. No entanto, depois de vários países africanos se terem tornado independentes, restavam os territórios das colónias portuguesas, onde a entrega da liberdade territorial aos povos nativos era uma ideia impensável, pois, terminava em massacres contra os nativos, (Cann, 1998,pp.64-92). Podemos considerar que após a II Guerra Mundial, tinham sido criadas condições mais favoráveis para a luta de libertação nacional em Moçambique (1964-1974) contra o exército português. Por assim dizer, as potências europeias saíram muito enfraquecidas da guerra e não dispunham de força, nem de recursos para se envolverem em guerras de desgaste, por exemplo, na frente de Cabo-Delgado no planalto de Mueda em Moçambique (1964-1974). Conforme Garcia, (2003), as duas superpotências vitoriosas, os EUA e a URSS,”dois estados em movimento sem fronteiras definidas, não tinham interesse em manter o colonialismo: os EUA porque eram uma antiga colónia, e URSS porque dispunha de recursos naturais suficientes para desenvolver a sua indústria, (Garcia, 2003, pp.52-59). Com efeito, é de notar que, tanto para os EUA e tanto para a URSS, a África passava a ser não só um espaço de exploração de riquezas, mas também um espaço de afirmação estratégica. Cada uma das super-potências vai disputar em África zonas de influência. Portanto, é esta busca justifica a politica de alianças quer os EUA, quer a URSS fazem com alguns dos movimentos de libertação, pois estes vão procurar nestas duas super-potências os seus apoios para a luta de libertação nacional. A China entrará mais tarde nesta luta pela influência em África apoiando os movimentos independentistas. Ora, a criação da NATO, foi a grande aliança politico-militar em tempo de paz, (Garcia, 2003), implementada por parte dos EUA. Por seu turno a URSS criou o Pacto de Varsóvia, a 14 de Maio de 1955, de modo a estabelecer-se um equilíbrio de forças entre estas duas superpotências, o que veio a encorajar a FRELIMO para a guerrilha contra o exército português. Podemos notar que o continente africano serve de complemento ou fonte de rendimento da Europa e a Europa podia ser batida em África, pela integração dos seus territórios no respectivo quadro de responsabilidades geoestratégicas, (Garcia, 2003,p.53). Ora, desenvolvendo esta atitude em relação a África, Garcia (2003), afirma que no período da guerra fria, foram desenvolvidos variados conflitos regionais em que os adversários se enfrentavam em regiões com interesse estratégico e económico para a Europa (caso de África), acontecimento esse que já se havia desencadeado com a Guerra civil na Grécia. Estas zonas de disputa serviam também de periferias de desempate, sendo Cuba o primeiro exemplo da confrontação directa, (Garcia, 2003,pp.53-63). Assim, o continente africano durante o período do pós II Guerra Mundial, viveu um momento da sua história marcado pelas guerras coloniais, que afectou a sua politica e a sua sociedade. Durante o período entre 1961-1974, destacaram-se as guerras travadas nas antigas colónias portuguesas: Angola, Guiné e Moçambique, foi nesta onda que a FRELIMO inicia a sua luta pela independência nacional, na frente de Cabo-Delgado. No entanto, como referimos nesta dissertação, o povo Moçambicano sempre resistiu a exploração colonial, no princípio de uma forma mais passiva até que a certa altura a revolta culminaria com emprego da guerra de guerrilha, primeiro na frente de Cabo-Delgado e, depois Moçambique em geral (1964-1974). Como acima nos referimos, isso aconteceu quando a diplomacia deixou de ser uma opção para o alcance da liberdade da população moçambicana. Contudo, a luta pelo controlo económico no território moçambicano por parte da minoria branca do (regime colonial), deu origem a demanda de revoltas subversivas, devido a insatisfação da população moçambicana, tendo assim a FRELIMO desencadeado a luta de libertação nacional (1964-1974). O exército português, para contrapor essa situação da guerrilha da FRELIMO, adoptou na medida de contra guerrilha como forma de tentar acalmar os ânimos em Moçambique, em especial na frente de Cabo-Delgado, planalto de Mueda, (Moreira,2001). Todavia, no que diz respeito à guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, preconizava ataques por meio de surpresa, ações de sabotagem rápidas, manobras combinadas atacando colunas ou quartéis e explodindo minas ou outros materiais de guerrilha contra o exército português. A guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, tinha como propósito instalar um mecanismo de eliminação total da circulação do exército português no planalto de Mueda, semeando terror e insegurança ou pânico as tropas convencionais do exército português. A mobilidade dos guerrilheiros da FRELIMO da frente de Cabo-Delgado, dava sempre vantagem sobre o exército português instalado em Mueda. Alguns autores que tratam de teorias de guerrilha, afirmam que a táctica de guerrilha empregue pela FRELIMO na frente de Cabo-Delgado (1964-1974), tem a sua origem nos princípios de Sun Tsu, exposta na sua obra “Arte da Guerra”. Curiosamente, esta táctica, como tínhamos referido noutros desenvolvimentos desta dissertação, era empregue pelos mais fracos contra os mais fortes, por exemplo, a guerrilha da FRELIMO contra o exército português. Pois, isto se traduz a partir dos problemas de falta de meios materiais para a guerrilha e sua força viva, fazia com que as tropas portuguesas apresentassem um maior potencial de combate nalguns casos onde o terreno era-lhes conveniente por meios belicistas. Incluímos neste caso, o conhecimento do ambiente, do terreno, formas de camuflagem, atitude de acção espontânea e psicológica, o apoio oportuno do sector logístico, podem ditar de facto a vitória no campo de batalha a favor da guerrilha da FRELIMO. Neste decurso, a URSS apoiou e incentivou o espírito dos países reivindicadores das suas intendências, por exemplo, Moçambique, pois, nas disputas entre as superpotências estava em causa o objectivo final desses países, as posições estratégicas, e o acesso a matérias- primas e aos mercados internacionais. Como nos referimos anteriormente, o governo Salazarista saiu da II Guerra Mundial com uma imagem de neutralidade entre os aliados, apesar de ter sido excluído da reorganização do novo sistema internacional. Por isso, Portugal não foi convidado a participar na conferência de São Francisco em 1945 a sua candidatura às Organizações das Nações Unidas foi vetada pela URSS e obrigado a abdicar do “plano Marschall”, devido às influências dos EUA. Por exemplo, devido à natureza ditatorial do regime Salazarista, Portugal não participou no processo de unificação europeia, mas mais tarde com o desenvolvimento da Guerra Fria, Portugal foi convidado a fazer parte dos membros da NATO, em certa parte devido ao interesse geoestratégico dos Açores para os norte-americanos. Nestes termos, segundo Pinto, (2001), o colonialismo português do pós-guerra, na alçada de um escudo protector do Império Francês e Britânico em África, destacou-se por ser dominado por um sistema político ditatorial, apesar de ser atrasado cultural e economicamente. Portanto, durante o período da Guerra Fria, com a ascensão do terceiro mundo, destacaram-se vários protagonistas, a ter em conta: o Coronel Gamal Nasser, o Marechal Tito e Pândita Nehru. Estes líderes procuraram com maior ou menor sucesso estabelecer alguma distância política e estratégica com os EUA e a URSS, passando a designar-se como Movimento dos Não Alinhados. Ora, na realidade, os Não Alinhados estiveram sempre mais próximos da URSS do que dos EUA. Sendo assim, o neutralismo africano, foi fruto da transposição da ideologia do terceiro mundo para a prática da acção, estabelecendo-se assim o anti-colonialismo. O neutralismo permitia com que os países tomassem, em cada situação e ocasião uma posição que lhe favorece-se e conviesse segundo os seus interesses, em que a moeda servia de troca por concessões que se iam extorquir, (Garcia, 2003,p.54-56). Por exemplo, os objectivos da primeira conferência do Terceiro Mundo sustentavam-se na afirmação da independência das colónias, o que indicava uma tomada de consciência do valor da população asiática e reconhecia a solidariedade para com os povos africanos. Por isso, havia a necessidade de se ajudar todos os povos dependentes das suas potências coloniais a alcançarem a sua própria soberania. Ademais, nesta conferência temos vindo a citar, conclui-se que o colonialismo era um mal que se devia por término, pois a violação dos direitos humanos subscritos na Carta das Nações Unidas, e a declaração Universal dos Direitos do homem tinham sido violados com a exploração dos povos estrangeiros. Com efeito, esta conferência permitiu que a URSS estabelecesse contactos permanentes e passivos entre os países comunistas, anticomunistas e neutros, e puderam influenciar directamente o comportamento dos países colonizados consoante os seus interesses. Assinalou-se também nesta conferência o regresso da China à cena asiática, como maior parceiro dos países africanos. Como se pode imaginar, o fim desta conferência criou um ambiente anti-ocidental que previa a realização da conferência de Cairo que permitiu a Nasser desenvolver e reforçar a sua actividade de liderança sobre os Árabes. Na opinião de Garcia, (2003), Bandung será um marco do aparecimento formal do terceiro mundo como unidade ideológica. Todos estes factores geopolíticos que temos vindo a descrever, caracterizam a visão político-militar ou cosmopolitica da FRELIMO em especial da frente de Cabo-Delgado, onde recebia apoios de múltiplas origens, conforme a possibilidade de cada ator internacional ou interno. Vejamos, com a administração Kennedy, no poder dos EUA, houve uma pressão ativa sobre o governo Português, principalmente para a descolonização de Angola, que foi diminuindo com as administrações que se seguiram. Como podemos notar, na verdade, a guerra colonial portuguesa passou a ser olhada com alguma neutralidade e a receber o apoio, embora mitigado, de alguns aliados de Portugal, especialmente na França e da Alemanha. Entretanto, o encerramento dos contatos com os movimentos independentistas das colónias portuguesas, por parte da administração norte-americana, fortaleceu ainda mais a política portuguesa e sem com isso afetar a FRELIMO na sua luta armada para a independência de Moçambique (1964-1974). Contudo a ditadura Salazarista era um aliado da NATO defendendo o Ocidente e os seus flancos africanos, dai que a presença portuguesa em África, convinha bastante às outras potencias da NATO, isso não intimidou os movimentos independentistas, por exemplo a FRELIMO, (Pinto, 2001,pp27-.31). Em suma, os motivos que justificaram o embate da FRELIMO para uma guerra de guerrilha contra o exército português, prendem-se pelo inalienável principio da autodeterminação e independência de Moçambique, (Gomes, 2000,p.39), num quadro internacional de apoio e incentivo à sua luta pela liberdade. Para isso, a situação política militar na frente de Cabo-Delgado, começou a modificar-se nessa região, com inicio de ataques assaltos nos acampamentos militares dos soldados português. Ora, logo em 1968 foi introduzida nova estratégia de guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado que consistia em cada base ou destacamento da guerrilha realizar por mês três operações planificadas obrigatórias contra os quartéis militares do exército português. Na opinião dos antigos combatentes por nós entrevistados, afirmaram que esta estratégia se mantinha até ao fim da luta de libertação nacional em 1974. É preciso perceber que o inimigo dispunha de um efectivo muito superior ao dos guerrilheiros da FRELIMO, com uma grande mobilidade, resultante de meios modernos de guerra, gozando todavia, numa confrontação frontal, de superioridade estratégica e tatica. Sendo assim, a estratégia da FRELIMO era destruir as bases fracas que rodeavam as grandes bases, enfraquecendo-as, e deste modo, tornando-as alvos susceptíveis de serem atacados, como veio acontecer durante o desenvolvimento da guerra em Moçambique (1964-1974). Neste decurso da guerra em Moçambique (1964-1974), a estratégia de atacar e recuar, e, se possível assaltar temporariamente, inserida no principio da “guerra de guerrilha” defendida pelos guerrilheiros da FRELIMO, entrou em choque com a visão de Lázaro Nkavandame, secretário provincial de Cabo-Delgado, que defendia a visão segundo a qual os guerrilheiros, os milicianos e as forças locais de todos os destacamentos e bases e comunidades, bem como os meios materiais militares disponíveis na frente de Cabo-Delgado, fossem colocados à disposição para que, em pouco tempo, se atacasse, assaltasse e ocupasse o quartel do exército português em Mueda, e em seguida ele ali se instalasse como chefe, o que daria assim, por terminada a luta de libertação na frente de Cabo-Delgado. Era esse o sonho do Lázaro Nkavandame, mais tarde considerado colaborador do exército português, ou seja, reaccionário e grande traidor para a FRELIMO. Em termos de avanços da guerra em Moçambique (1964-1974) na frente de Cabo-Delgado, o ano de 1968 tem marco de expansão de trabalhos intensivos de reconhecimento para as “zonas de avanço”, que se situavam entre o terceiro e quarto setores militares da guerrilha da FRELIMO, (Machungo, 2010,76-143). Segundo fontes da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, no primeiro semestre de 1968, foram visualizados dados sobre o ponto de situação dos efectivos militares e armamento da guerrilha na frente de Cabo-Delgado. Porém, os efetivos e armamento em Maio de 1968 era o seguinte: efetivo total dos soldados:2916; efetivo dos armados:2355; efetivo dos desarmados:561; efetivo das forças locais:1506; armas da FRELIMO perdidas na frente de Cabo-Delgado, entre 1964-1968:153; armas capturadas ao exército português:156; efetivo dos falecidos: 171, (FRELIMO, 1960-1975). Continuando nos detalhes sobre a guerra em Moçambique (1964-1974) na frente de Cabo-Delgado, no decurso de 1968, a FRELIMOn dispunha na altura em termos de armamento contra o exército português: Mauser (Bulgaro); metralhadora, peças semi-automaticas, automáticas, morteiro 60 mm, todos de fabrico chinês; anti-aérea 12.7 mm, cano de anti-aérea 12.7 mm de fabrico russo; metralhadora 7.62 mm; matt 9 mm de fabrico francês; mauser 7,62 mm de fabrico russo; automática 9 mm de fabrico alemão, papachá “sete-sete”, (FRELIMO, 1960-1975). No que tange ao material de sabotagem para a frente de cabo-Delgado na guerra em Moçambique (1964-1974), destacavam-se granadas para defensiva e ofensiva de fabrico chinesa; explosivo TNT de fabrico russo; marcha lenta de fabrico chinês; detonante de fabrico chinês; radar de canhão de fabrico chinês; carregador de PM de fabrico chinês; defesa de anti-mão de fabrico russo; tripés de anti-mão de fabrico russo e rodas de anti-mão de fabrico russo, (FRELIMO, 1960-1975pp.89-121). Há de notar que, os comandantes de guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, durante a guerra em Moçambique (1964-1974), tinha um armamento especial, a partir de chefe de pelotão possuíam a pistola da marca Tula Tukarev. Como podemos perceber, a guerrilha dispunha de armamento que naquela circunstância, podia combater o exército português. Dai com a teoria Machelista de “estas são as armas”. Ora vejamos, as primeiras informações sobre a preparação da operação Nó Górdio começaram a chegar à guerrilha da FRELIMO, em Cabo-Delgado, a partir de 1967, contudo, foi em 1970 que foi posta em prática a referida operação. Sendo assim, outras características marcaram em particular a situação militar na frente de Cabo-Delgado, no período que antecedeu a operação Nó Górdio, com enfoque para o período 1968-1969, na guerra em Moçambique (1964-1974), (Machungo, 2010- 59-197). Certos dados da guerrilha da FRELIMO, que atuaram na frente de Cabo-Delgado, afirmam que, no período 1968-1969, se traduziu de vários combates contra o exército português, acima de tudo, havia uma nova componente, pois, foi a introdução da artilharia. Havia portanto, a combinação entre a artilharia e a infantaria da guerrilha da FRELIMO da frente de Cabo-Delgado, ou seja uma espécie de guerra de movimento em que havia uma certa elasticidade em manobras do campo combativo. Para um combate, por exemplo, fazendo uso da artilharia, concentravam-se efetivos que vinha das várias bases, levava-se algum armamento de artilharia e realizava-se o bombardeamento, nalguns casos era uma operação só de artilharia e a infantaria fazia a proteção. Estas ações combativas envolvendo artilharia, contra o exército português, eram de grande envergadura, porque envolviam quartéis com edifícios, com sistema de arame farpado e muitas infra-estruturas e que era defendido por companhias independentes com cerca de 180-200 homens da tropa portuguesa. Esta estratégia obrigava o inimigo a ser confinado nas trincheiras e tinha medo de sair no seu perímetro ou dentro dos quartéis. Por seu turno, segundo a guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, o exército português, no decurso de 1968-1969, começou atacar as principais bases do primeiro setor da FRELIMO, isto era feitio uma vez por ano, fazendo uso da sua força aérea apoiados por comandos, tropas especiais, e que somente vinham cumprir aquela missão e depois regressavam para a Ilha de Moçambique. Com esta dinâmica de ataques contínuos da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, contra os soldados portugueses, o governo português e seu exército, reflectiu melhor e achou melhor dispor de um grande plano que dispusesse a FRELIMO fora do combate e não só na frente de Cabo-Delgado, mas na totalidade das frentes em combate. Com efeito, dados da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, na guerra em Moçambique (1964-1974), apontam que, no último trimestre de 1969, o general português Kaúlza de Arriaga, começou a avaliar a situação militar na frente de Cabo-Delgado, tendo como pano de fundo a ideia de lançamento de uma ofensiva de grande envergadura, apoiada por fogo de artilharia e aviação, envolvendo para o assalto as forças especiais, nomeadamente, comandos, pára-quedistas, fuzileiros navais, desta maneira para vencer a FRELIMO, ou seja acabar com a luta armada em todas as frentes militares desse movimento independentista. Ainda segundo fontes da guerrilha da FRELIMO, afirmam que a escolha da frente de Cabo-Delgado, por parte de Arriaga, era estratégia militar, precisamente para decapitar o apoio dado à FRELIMO pela população makonde, considerada forte apoiante desse movimento de libertação na área da frente, ou seja, como a principal base de apoio da FRELIMO, quer na frente de Cabo-Delgado, quer em todas outras frentes de combate. Como podemos imaginar, em Dezembro de 1969, no dizer da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, Kaúlza de Arriaga, na sua qualidade de comandante das forças do exército português, apresentou a composição dos participantes nestes moldes que achava inteligente: exército, marinha e força aérea e criou o Comando das Forças de Intervenção (COFI), incluindo a ação psicológica tinha apoio de aviões fazendo propaganda que induzia a guerrilha e as massas populares para se renderem, artilharia, forças de assalto, engenharia e transmissões, tendo como sede em Nampula, seu Quartel-General, a nível da zona norte. A operação Nó Górdio do exército português, tinha como cerco, norte e sul de Moçambique. Em contrapartida, a FRELIMO neste decurso na frente de Cabo-Delgado, a guerra em Moçambique (1964-1974), no seu relatório de progresso, indicava que até Dezembro de 1969 para diante, a guerrilha da FRELIMO tinha conseguido fazer certos avanços nessa frente, através de ataques feitos contra o exército português indo até nas mediações de Porto Amélia e tinha também penetrado na região do rio Montepuez alcançando a vila de Montepuez e também no distrito de Balama. Os guerrilheiros da frente de Cabo-Delgado, nos seus depoimentos, referem que foi no período de 1969 que a estabilidade nas zonas libertadas de Cabo-Delgado se alastrou quão, também atribuem esta estabilidade devido a pesadas baixas e derrotas infligidas aos soldados portugueses no terreno da frente de Cabo-Delgado, na guerra em Mocambique (1964-1974). Podemos debruçar nesta dissertação, a título de exemplo, trazer o depoimento desta situação proferido por um soldado português, desertor, Américo Neves de Sousa, que concedeu uma entrevista no Jornal “Luso-Canadiano,” no dia 22 de Setembro de 1969. Eis aqui, o depoimento De Sousa: “Em Nampula todos falavam de Mueda. De lá chegavam, todos os dias, soldados feridos, gravemente estropiados, numerosos mortos. Chegou a minha vez no dia 12 de Maio, de conhecer Mueda. Guerra, não sabia contra quém, falava-se de Tanzânia, os oficiais diziam que era contra a Rússia. Alguns dias depois encontrei um soldado com as mãos todas sujas de sangue. Perguntei-lhe de onde vinha e ele tinha atacado uma aldeia lá, e tinha morto toda a população, velhos, mulheres, e crianças. A repugnância dominou-me, não podia suportar aquela ideia. Desertei quando me convenci de que a guerra era desumana e de que não temos o direito de lutar contra um povo que só quer a sua liberdade”. Aparentemente, de acordo com as afirmações De Sousa, transparece a ideia de que os soldados portugueses tinham medo de ir combater na frente de Cabo-Delgado, em especial no planalto de makondes em Mueda. Ademais, as ações levados acabo pelo exército português, tinham ultrapassado o âmbito militar, atingindo as populações indefesas, violando os direitos humanos. Desta feita, no decurso de transição de 1969 para 1970, a FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, cjhegou a perceber que o exército português nesta altura não circulava, ficando quase confinados nos seus quartéis. Tendo desta maneira, no capítulo das operações militares contra os soldados portugueses, a FRELIMO introduz a arma de artilharia GRADE P em 1972 para fazer fase o alcance total das aglomerações dos soldados portugueses nessa frente.Ora, fazendo um estudo minucioso sobre o avanço da guerra em Moçambique (1964-1974), na frente de Cabo-Delgado, no período transitório como referimos acima, 1969-1970, aventou-se a hipótese seguinte na visão da FRELIMO: Dado a intensidade das operações e sucessivas derrotas contra o exército português, se Moçambique fosse Cabo-Delgado, a FRELIMO teria proclamado a independência do território. Em Cabo-Delgado, a guerra estava tão avançada, pois, já não era simplesmente a guerra de guerrilha, era guerra de movimento, assaltos aos acampamentos militares dos soldados portugueses. Há guerrilheiros da frente de Cabo-Delgado, que afirmam em seus depoimentos dizendo que:”nós já estávamos independentes em Cabo-Delgado, por isso se diz que, se Cabo-Delgado fosse Moçambique já teríamos proclamado a independência nacional antes do dia 25 de Junho de 1975. Os sistémicos ataques e assaltos à acampamentos e aos quartéis do exército português, perpetrada pela guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, então em 1970 se coloca em prática a operação Nó Górdio dos portugueses contra a ofensiva da guerrilha da FRELIMO. Note-se que há uma antinomia dos conceitos dos dois beligerantes na guerra em Moçambique (1964-1974), por exemplo, os portugueses designaram de “Nó Górdio” a sua operação ofensiva contra a FRELIMO, por seu turno, a FRELIMO apelidou a sua ação contra a operação Nó Górdio de “Contra-Ofensiva”. 3.3. Organização do Exército Português e metodologia de emprego de forças A ocupação no norte de Cabo-Delgado faz-se tardiamente, nos finais do século XIX. Os primeiros comandos militares, os antepassados das administrações coloniais transformadas em conselhos em 1894, foram criados no Ibo, em Quissanga, Mocimbua da Praia e em Tungui. Esses conselhos coexistiam com as capitanias-mores, entidades que tinham à cabeça capitães-mores, autoridades locais tradicionais naquela época. Porém, essas unidades mais tarde mudaram de nome, formam a criação inicial de um projecto de ocupação territorial posto em prática no momento da instalação da companhia de Niassa. Portanto, em 1886, foi criado o comando militar da baia de Tungui, transferido, alguns meses mais tarde, para Palma. No entanto, já antes, tinha havido uma presença militar portuguesa em Mocimbua da Praia. Em tempos posteriores, a organização estrutural do exército português em Cabo-Delgado, passou a consistir de Comando Territorial Norte (CTN), que abrangia os então Distritos de Moçambique, Cabo-Delgado e Niassa, com sede em Nampula. Em seguida, cada um dos Distritos tinha um Comando Setorial (CS). Cabo-Delgado tinha como sub-setores: Mueda, Porto Amélia, Macomia e Montepuez. Por exemplo, a marinha consistia de uma fragata, em Porto Amélia, comandada por Capitão de Fragata. Quanto à aviação, o exército português possuía em Moçambique diversos tipos de aviões. Na organização militar do exército português, a província de Cabo-Delgado pertencia ao sector “C” do Comando Territorial Norte, com sedes em Porto Amélia e Nampula. Assim, o setor “C”tinha como principais quartéis operacionais situados em Mueda, Nangade, Mocimbua da Praia, Macomia, Montepuez e Porto Amélia. Ora, para além dos quartéis acima descritos, existiam também várias guarnições militares em aldeamentos. Nesses aldeamentos, a Organização do Povo Voluntário (OPV), milicianos e outras forças paramilitares eram normalmente comandadas por um Alferes Miliciano. Por exemplo, em Mueda existia um aeródromo “base 3” e uma esquadrilha mista da força aérea, constituída por Fiat G91. Mueda tinha ainda batalhões dos comandos, de caçadores, de artilharia, de engenharia e das comunicações. Em Porto Amélia, existiam batalhões de artilharia e de caçadores e uma base naval e a unidade da logística, (Pimenta, 1999,pp.59-95). Por seu turno, em Montepuez, havia para além do batalhão de comandos, também batalhão de caçadores e de artilharia. O quartel de Mueda era comandado por um Tenente-Coronel. Em Nangade, Macomia e Mocimbua da Praia, existiam batalhões de caçadores. Em cada quartel e guarnição militar havia aeródromo, num total de 27, para além de pistas locais com pequenas dimensões noutras guarnições, (Pimenta, 1999,pp.53-59). Em geral, o setor “C” era caraterizado por existência de várias guarnições militares ao longo da fronteira de Cabo-Delgado com Tanzânia, com uma extensão de 253 quilómetros. Entre as guarnições ou quartéis do exército português ao longo dessa fronteira distanciavam-se entre si ate 26 km, constituindo assim uma das barreiras que impedia o acesso do exterior para o interior de Moçambique, (Vaz, 1997,pp.69-123). Ainda assim, nas vias principais, nomeadamente, de Mocimbua da Praia a Mueda; de Mueda a Montepuez; de Mocimbua da Praia a Macomia; de porto Amélia a Montepuez, etc., existia uma fila constante de quartéis que protegiam essas vias. Porém, ao longo das Margens do rio Montepuez, havia numerosas guarnições, que impediam a travessia dos guerrilheiros da FRELIMMO na frente de Cabo-Delgado, no seu avanço para além de Montepuez. Os aeródromos eram localizados em: Mocimbua da Praia, Nangade, Nyika, Quionga, Palma, Ulumbe, Diaca, Mueda, Muidumbe, Mecufi, Mapate, Nangololo, Quiterajo, Namimba, Chai, Macomia, Ibo, Bilibiza, Xitashi, Balama, Montepuez, Meluco, Chiúre, Ancuabe, Porto Amélia, (Machungo, 2010,pp-86-149). O território moçambicano apresentava uma estrutura subordinada a um governo-geral que controlava as suas províncias através de governos subalternos, e, por vezes, a existência de capitanias irregulares e não uniformes. Portanto, o exército português, sempre procurou manter o controlo das regiões e continham no seu contingente um número reduzido de negros alistados à força e alguns voluntários. O primeiro efectivo de tropas portuguesas chegou a Moçambique em 1864, destinados às campanhas do Zambézia, de seguida em 1869, um batalhão de caçadores manteve o seu aquartelamento na ilha de Moçambique, que estava dividido num contingente para a companhia de Cabo-Delgado e outro para as campanhas de Angoche. Assim, no território Moçambicano, a presença portuguesa limitava-se ao controlo das regiões do vale do Zambeze até ao Zumbo, ilha de Moçambique e a faixa costeira do território Moçambicano, (FRELIMO, 1960-1975). Contudo, o fenómeno colonial português foi também fruto da ocupação efectiva após a partilha do mundo na conferência de Berlim, em que as regiões da África austral ficaram sob o direito do governo português. Como dissemos, nos capítulos anteriores desta dissertação, o isolamento progressivo do governo de Salazar marcava decisivamente a história da resistência portuguesa perante a descolonização, pois havia algumas potências da Europa que já ensaiavam alternativas de resistência à descolonização. Por exemplo, o império passou a Ultramar e as colónias a Províncias, que como parte integrante do Estado, eram solidárias entre si e com a Metrópole, (Garcia, 2003,p.77), o que permitiu a consumação da integração do “acto colonial”, que segundo as ideologias de Marcelo Caetano tinha como objectivo fundamental, a afirmação do estado pluricontinental e pluriracial, e a guerra sem outra perspectiva que não fosse a manutenção do status quo belicista. A questão colonial foi o centro da política de Portugal desde o final do século XIX ate ao 25 de Abril de 1974. Primeiro com a Monarquia, depois com a 1ª Republica e por fim com o regime do Estado Novo, as colónias foram o elemento determinante da política portuguesa. Portanto, as colónias representavam a grandeza de Portugal, e a defesa das colónias como parte integrante de Portugal representou para o regime de Salazar e de Caetano a possibilidade de sobrevivência política e económica. Assim, um conjunto de razões de ordem histórica, política e económica fazem com que o regime de Salazar não possa aceitar negociar a independência das suas colónias e tenham optado por defendê-las mesmo à custa de uma longa e desgastante guerra e contra a opinião dos seus aliados tradicionais. Quando a guerra começa em Angola em 4/2/1961,havia militares do exército português que se opunham contra a política de guerra nas colónias do regime Salazarista. Pois, estes militares estavam convencidos da impossibilidade de uma solução militar, chegam mesmo a fazer uma tentativa de golpe de Estado, por exemplo, o caso do general Júlio Botelho Moniz, (Lages, 1999,pp.59-83). Contudo, o regime endurece as suas posições belicistas, mantêm-se surdo e mudo. Apesar disso, as Forças Armadas portuguesas, dispondo na altura de efectivos reduzidos e meios obsoletos, não tinham capacidade de resposta as guerrilhas das colónias portuguesas, em especial a frente de Cabo-Delgado no planalto de Mueda, conduzida pela FRELIMO em guerra de guerrilha. Inicialmente, o regime tenta minimizar os acontecimentos e falava de “acções de polícia” para manter a ordem. Mas enquanto a guerra de Angola ganhava terreno territorial, desenvolvida a norte pelo UPA depois passou a designar-se FNLA de Holden Roberto, e a leste pelo MPLA de Agostinho Neto. A UNITA de Jonas Savimbi só aparece em 1966. O PAIGC inicia a luta armada na Guiné nos finais de 1962, e seguidamente a FRELIMO em Moçambique desencadeia também a sua luta armada de libertação nacional em 25 de Setembro de 1964, ( Davidson, pp.99-149). Podemos aqui fazer uma reflexão sobre este exemplo do exército português de como despendia as suas forças: no final de 1960, o dispositivo militar em Angola limitava-se a três regimentos, Luanda, Nova Lisboa/Huambo e Sá da Bandeira/Lubango, dois batalhões de caçadores, Cabinda e Carmona/Uige, um grupo de reconhecimento e um batalhão de Engenharia, num total de 6.500 militares, dos quais 1.500 metropolitanos. Segundo relatos escritos pelos autores sobre a guerra colonial, um ano depois 33.000 efectivos, número que foi subindo sempre até 1965, ano em que se cifra em 57 mil homens. No ano seguinte, baixou, e com algumas oscilações, por exemplo, 55 mil, em 1970, foi o mínimo, ultrapassou os 60 mil em 1971, atingindo o valor mais alto 65 mil homens em 1973. Na Guiné, de cerca de 5 mil homens, passando para 9 mil em 1963, número que cresceu sempre, até atingir 32 mil dos efectivos do exército português, dez anos depois. O efectivo em Moçambique, começou a ser reforçado logo em 1961, foram embargados para Moçambique 11 mil homens do efectivo do exército português, tendo aumentando até 1973, ano em que se cifra em 51 mil homens. Desta mobilidade, feitas as contas, os efectivos do exército português nas três frentes de guerra, em 31 de Dezembro de 1973, totalizavam cerca de 149 mil homens. A campanha Africana começara em 1961, quase 13 anos de sofrimento do povo português. A mobilização dos efectivos para Moçambique se mostrava tão importante, devido a relevância da sua forma de luta armada, com maior impacto na frente de Cabo-Delgado, como centro de gravidade das hostilidades da guerrilha da FRELIMO contra o exército português, (Pinto, 2001,pp.29-64). O armamento e equipamento do exército português no inicio da década de 60 decorria de três períodos bem distintos: por exemplo, material adquirido no final da década de 30, perante a situação criada pela guerra civil espanhola e pelo inicio da Segunda Guerra Mundial, era essencialmente de origem alemã, espingarda Mauser, metralhadoras ligeiras Dreyse e Borsig, obuse de 10,5 cm e de origem italiana, metralhadoras Breda, obuses de 7,5 cm, (FRELIMO, 1960-1975,pp.93-141). Ainda outros calibres, nomeadamente o 7,92 mm ou 7,9 das armas ligeiras, material recebido durante a II Guerra Mundial, sobretudo de contrapartidas da utilização dos Açores. Era principalmente pesado, por exemplo, obuses de 8,8cm e 14 cm, peças de 11,4 cm, peças de AA de 4 e 9,4 cm. Os calibres eram essencialmente Ingleses, material recebido após a entrada na NATO e destino essencialmente à 3ª Divisão, canhões sem recuo de 57 mm, 75mm e 106mm, metralhadoras de 12,7mm, morteiros de 60mm, 81 mm e 107 mm, viaturas blindadas e carros de combate, (FRELIMO, 1977,pp.123-141). Seja como for, o desencadear das hostilidades guerrilheiras, revelou logo de inicio, quer em Moçambique, Angola e Guiné, ou seja, em qualquer dos três campos de teatro combativo, a falta de uma arma automática de base que fizesse frente aos guerrilheiros da FRELIMO, MPLA, PAIGC. Por exemplo, em Angola, os ataques em massa dos guerrilheiros contra o exército português, não podiam ser eficazmente contrariados com espingardas de repetição, na Guiné e em Moçambique, os guerrilheiros da FRELIMO e do PAIGC, dispuseram desde o princípio, de armas automáticas que lhe davam nítida vantagem sobre o exército português. Por exemplo, na frente de Cabo-Delgado, era clara o avanço guerrilheiro e dando maior impacto o desenvolvimento da manobra de guerra a favor da FRELIMO. Assim, frustrado o exército português, a prioridade em 1961, foi a obtenção imediata de armas automáticas, mas tendo em atenção a necessidade de garantir o fluxo de abastecimento de munições e sobressalentes, o que só poderia ser plenamente conseguido através do fabrico a partir do exército português, ou seja, local, (FRELIMO, 1977,p.172). Sendo assim, duas armas pareciam corresponder as expectativas das tropas portuguesas, tais foram: a FN, de origem belga, e a G-3, de origem alemã. Em relação as munições, não havia escassez, pois, o cartucho de 7,62 já era fabricado em Portugal e exportado em larga escala, sobretudo para a (RFA) República Federativa da Alemanha. Neste decurso, o exército português para fazer confrontos com superioridade bélica, foram adquiridas com dificuldades, como veremos durante esta dissertação, dois lotes destas duas armas achados eficazes contra a guerrilha da frente de Cabo-Delgado, no planalto de Mueda: FN:3.835 sem bipé e 970 com bipé; G-3:2.400 sem bipé e 425 com bipé. Figura n° 5-Armamento do exército português Fonte: Guerra colonial/DN Segundo fontes do exército português (guerra colonial), afirmam que antes de adopção do G-3, a distribuição prevista de armas automaticas era a de FN para Moçambique e de G-3 para Angola, mas problemas politicos levaram a que em certo periodo, a G-3 fosse mantida fora das vistas de Angola. Portanto, o total de armas adquiridas, antes do fabrico local, foi de 8.000 G-3, 12.500 FN belgas e de 14.500 FN alemãs, repartidas pela metropole, Guine, Angola, Mocambique e Timor, (FRELIO,1977,pp.115-182). Neste confronto, em termos de superioridade em equipamento automático, como dissemos, a guerrilha da FRELIMO, logo no inicio ousou usar metralhadoras automáticas contra o exército português. Isso dignificava bastante o movimento libertador de Mocambique, dado que, tinha o tiro automático, rápido e certeiro, lembrando a teoria de guerra prolongada de Mao Tse-Tung, cuja estratégia era: um por dez e dez por um. Logicamente esta inferencia tem valor assertório, se aplicado com armamento automático, com os guerrilheiros bem treinados e conhecedores do inimigo. Na optica do governo colonial, em termos de armamento, a produção julgada necessária em Junho de 1961 era de 105.000 armas, sendo 75.000 para a metropole e 30.000 para o ultramar. O conceito inicial era de manter na metropole o número de armas destinadas a instruçãao e ter em deposito as necessarias para equipar as unidades mobilizadas para a frente de combate, mas o futuro se encarregaria de inverter esta distribuição. Por exemplo, é curioso notar que só por despacho de 18/9/65 do CEMGFA a G-3 foi considerda “arma Regulamentar”. Esta visão desiludor do exército português, perante o teatro das acções combativas, acabava dando maior vantagem a guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, uma vez que o exército português até então se mostrava com imensas dificuldades no capitulo organizacional em termos de estratégia militar no campo real. Por exemplo, o emprego eficaz dos morteiros, como o caso da artilharia, pressupõe bom suporte cartográfico e a observação do tiro certeiro. De notar que durante todo o tempo da guerra contra a guerrilha da FRELIMO, nenhum destes métodos foi plenamente atingido, por isso o apoio próximo das tropas não foi eficientemente conseguido, (Gomes, 2009, pp.28-59). Vejamos por exemplo, os morteiros de maiores calibres, em especial de 81 mm, e mais tarde de 120 mm, foram essencialmente empregues em flagelações e reações aos ataques a aquartelamentos supostamente de gurrilha ou simplesmente vitimando populações inocentes no lugar de aniguilar guerrilheiros da FRELIMO. Neste exercicio, há um contraste, por exemplo, pelo contrário, os morteiros de 60mm seriam largamente utilizados, sobretudo no apoio imediato das tropas, colmatando assim a falta já assinalada de um lança- granadas eficaz contra a guerrilha da FRELIMO. Vimos por exemplo, que os morteiros eram transportados pelos grupos de combate do exército português sem tripé, nem prato-base, baaseando-se a pontaria na experiência do apontador das tropas portuguesas. Estes constrangimentos traziam vantagens para a guerrilha da FRELIMO, reconhecendo-se também, sobretudo as dificuldades do terreno em termos de mobilidade das tropas portuguesas, no campo da frente de Cabo-Delgado, aumentando assim a manobra efectiva da guerra de guerrilha a favor da FRELIMO. Pois, estes eram constituitos pelos autoctónes que bem conhecia o horizonte geográfico da frente de Cabo-Delgado, evitando sempre as armadilhas e perigos eminentes da floresta do planalto de Mueda, conhecido por planalto dos Macondes. Figura n° 6- Artilharia do exército português usada contra a guerrilha da FRELIMO Fonte: Guerra Colonia/DN Ora bem, senão vejamos, a artilharia existente em África, em especial na frente de Cabo-Delgado, de inicio, composta pelos mateiais antiquados e de menor calibre, de dificil integração e problemática para a obtenção de munições, mesmo a NATO não a aceitava. Para a politica militar colonial, a solução foi o aproveitamento desses materiais até ao esgotamento dessas munições e depois tardiamente sua substituição. Mesmo assim, os primeiros obuses 10,5cm m/941/62, seriam testatados opeacionalmente em Angola em 1968. Por exemplo, na Guiné, a situação em 1966, era a utilização dos obuses de 8,8 cm por pequenas unidades com 9 pelotões a duas bocas de fogo cada, mas a partir de 1968 passaram a existir meios mais modernos e mais potentes, nomeadamente: 19 obuses de 10,5 cm correspondente a três baterias; 6 obuses de 14 cm, correspondente a uma bateria; 6 peças de 11,4 cm, correspondendo a uma bateria. Como se pode perceber, as estruturações do exército português foram demasiado ineficazes e muito tardias, pois, a guerrilha da FRELIMO já estava desenvolvida em temos de experiência combativa, e tinha também aumentado a sua capacidade estrutural quer em termos de fogo no terreno, quer em mobilização de massas, era deveras dificil fazer parar a FRELIMO neste angulo guerrilheiro já maduro na frente de Cabo-Delgado, cada vez mais edificado, o campo de manobra combativa. Assim, os movimentos de libertaçào nacional utilizaram armamento e equipamento de diversas proveniencias, mas a grande maioria do seu material de guerra de guerrilha, tinha origem em paises do bloco socialista, onde tinahm sido treinados os seus guerrilheiros, (FRELIMO,1977,pp.49-139). Damos maior enfase a URSS e os seus aliados como os principais fornecedores das forças de guerrillhas da FRELIMO, MPLA e PAIGC. Os tipos de armas individuais e colectivas, ligeiras ou pesadas, eram os mesmos, embora por vezes os modelos mais antigos do que aqueles que equipavam os respectivos paises, por exemplo, a China, a Coreia, etc. Há de salientar que, ao longo da guerra entre a FRELIMO e o exécito portugues, e sobretudo no seu inicio, surgiram armas e minas de paises ocidentais, nomeadamente pistolas-metralhadoras Thompson, minas italianas e inglesas e metralhadoras alemas, sendo algumas destas armas também utilizadas pelo exército português na sua campanha na frente de Cabo-Delgado, (Gomes, 2002, pp.87-99). A FRELIMO e os movimentos de libertação em geral que lutaram contra o exército português, apesar de algumas dificuldades em armar e equipar as suas guerrilhas, dispuseram de modo geral, de armas mais adeguadas à guerra do que os soldados portugueses. Neste campo, como no da organizacao, instrução e capacidade para combater, o PAIGC foi o movimento que dispôs de melhor e mais moderno material, cobrindo toda a sua faixa de meios, desde o armamento ligeiro para a infantaria aos morteiros, lançadores de foquetes e obuses de artilharia, armas antiaérea, incluindo misseis, e viaturas blindadas, que utilizou no inicio de 1974, no Sul da Guiné, no ataque à guarniçao de Bendanda. Portanto, estava prestes a dispor de aviões, contando já com os respectivos pilotos. Na frente de Cabo-Delgado, a guerrilha da FRELIMO, tinha evoluido muito rapidamente na capacidade para operar armas mais capazes e em grande quantidade e qualidade, para operar armas mais eficazes, preparando-se para o emprego em 1974, tendo já elevado a capacidade para usar minas, (Aniceto,2000, pp.65-82). A titulo de exemplo, o MPLA, após vários anos de grandes dificuldades de acesso ao fornecimento de material de guerra, que reflectia a indefinicao dos seus apois politicos, melhorou rapidamente o potrencial militar a partir da instalacao Zambia, o que lhe permitiu obte hegemonia no Leste de Angola. A FNLA, recebeu sempre apoio do Congo-Zaire e do seu exeréito, mas empregou as suas capacidades, propriamente, no combate a MPLA e em disputas internas, enquanto a UNITA se defrontou com carencia de toda ordem, sendo o movimento mais fracamente armado, (Davidson, 1978.pp.124-137). Como podemos perceber, a organizacao do exército português estava a quem das expectativas de enfrentar militarmente a frente de Cabo-Delgado, cujos guerrrilheiros dispunham de uma vontade politica-militar, cuja audacia lhe levou a conquistar o terreno no campo de batalha contra as tropas portuguesas. Figura n° 7- Armamento usado pela guerrilha da FRELIMO contra o exército português. Fonte: Guerra Colonial/DN No entanto, estas batalhas eram acompanhadas com tipos de armas que se achasse mais eficiente para a eliminação do exército português, sendo que os seus danos eram nefastos. Outro grupo de armamento mais temido pelas tropas portuguesas, foram as minas que enfrentaram na frente de Combate de Cabo-Delgado. Nesta frenta, os guerilheiros da FRELIMO usavam as minas de forma isolada e conjugava com as emboscads, esta táctica limitava seriamente a mobilidade das tropas portuguesas, quer em accoes tacticas e logisticas, quer seja apeadas ou em viaturas, (Pimenta, 1999, pp.42-165). Verificamos também que na frente de Cabo-Delgado, dirigida pela FRELIMO, as minas trouxeram vários constrangimentos para o exército português, por exemplo, atraso nos reabastecimentos por destruições de veiculos, e, acima de tudo se registava uma elevada percentagem de baixas. Certos autores que relatam sobre a frente de combate de Cabo-Delgado, afirmam que estatisticamente, no minimo 50 por cento das baixas portuguesas, entre mortos e feridos, foram provocadas por engenhos explosivos contra as tropas portuguesas. Este tipo de guerra, era altamente compensador para os guerrilheiros da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, cujos objectivos eram apresentados do seguinte modo, na opinião de Machel, (1977, pp.6-19), “realizar a guerra de guerrilha de destruiçãao e de minas para fazer obstáculo atrás do inimigo, para aniquilar as suas armas, ameaçá-los e paralisá-los constantemente”. Com efeito, a utilizacao das minas na guerra na frente de Cabo-Delgado, não foi exclusivo dos guerrilheiros da FRELIMO, pois, as forças portuguesas também fizeram bastante o emprego delas e de outros engenhos explosivos. Por exemplo, usando na defesa das suas instalacoes para proteger as tropas em operacoes e para provocar baizas a guerrilha da FRELIMO. Veja-se que ao contrário dos guerrilheiros da frente de Cabo-Delgado, dirigidas pela FRELIMO, recorreram maioritariamente às minas anti-pessoais, anti-carros e às armadilhas com granada explosiva de fragmentaçao e rebentamento instantâneo, detonada através de arame de tropeçar. Outro elemento que tanto foi usado pela frente de Cabo-Delgado, chamado “fornilhos” quase sempre constituidos granadas da mão, de morteiro e de artilharia, não rebentadas, e bombas de aviao conjugadas com explosivos e accionadas por mecanismo de explosao – detonador electrico ou pirotécnico. Desta feita, os “fornilhos” eram colocados nos itinerários e conjugavam o efeito das minas anti-carros com as minas anti-pessoais. Na frente de Cabo-Delgado, o aparecimento de engenhos explosivos começa em 29 de Maio de 1965, incluindo a frente de Niassa. Portanto, a primeira mina anti-pessoal (A/P) surge em 14 de Junho/1965 e primeira mina anti-carro (A/C) em 10 de Outubro/1965 na estrada Mueda Mocimbua da Praia. O exército português reconhece que ao longo dos anos da guerra, a utilização de minas por parte dos guerrilheiros nos três teatros de operaçoes, nomedamente Angola, Moçmbique e Guiné, teve a máxima expressão em Moçambique. Primeiramente nas zonas de Niassa e da frente de Cabo-Delgado em Mueda e posteriormente em Tete/Cahora Bassa. Conforme credibilizam os autores, reforçam que Moçambique reunia as condições ideias para a utilização deste tipo de arma por parte da guerrilha da FRELIMO, pois, as vias de comunicação indispensaveis às tropas portuguesas eram extensas e más, não existindo nas zonas de guerra estradas alcatroadas. Por seu lado, os guerrilheiros dispunham da vantagem de acções belicas se desenrolarem relativamente proximo das suas bases logisticas, o que facilitava o transporte do grande volume de cargas que a guerra de minas exige numa frente de combate. Não podemos admirar pois, que em Moçambique, os principais itinerarios de restabelecimento das tropas portuguesas se tenham tgransformado em verdadeiros campos minados. Por exemplo, no inicio dos anos 70, na frente de Cabo-Delgado, da luta pela independencia Nacional, o percurso de cerca de 200 quilometros entre Mueda e Mocimboa da Praia, chegou a demorar 11 dias, quando habitualmente era percorrido entre quatro a seis horas, e num só quilometro de estrada encontraram-se, frequentes vezes mais de 70 minas contra as tropas portuguesas, (FRELIMO, 1977, pp.59-175). Podemos dar aqui um exemplo da frente de Niassa, nas estradas desde Lichinha, na altura Vila Cabral, para Metangula, as minas associadas à quase inexistencia de vias, ao clima chuvoso e ao terreno ravinado junto ao lago Niassa, transformaram os movimentos necessarios à sobrevivencia das tripas e ao seu emprego em combate em operacoes de grande duracao e desgaste, que esgotavam só por si as suas capacidades e lhes retiravam a iniciativa. Afirma-se também que foi em Moçambique que se registou o maior emprego de minas por parte das tropas portuguesas. O general Kaúlza de Arriaga, em carta dirigida ao ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, em 29 de Janeiro de 1973, solicitou o fornecimento de 150.000 minas anti-pessoais para a frente de Tete (Cahora Bassa), um milhão para interdicao da fronteira, junto ao rio Rovuma, na frente de Cabo-Delgado, (Machungo,2010,pp.156-189). Exemplos concretos sobre o alargamento da luta armada a partir da frente de Cabo-Delgado, num ponto de situação feito ao comandante-chefe, em Lichinga, foi referido que na zona de Niassa, em 1972, os guerrilheiros da FRELIMO haviam realizado 412 accoes, das quais 223 foram colocacao de engenhos explosivos, 54 por cento do total. Destas, 78 foram accionadas pelas forcas portuguesas, que sofreram 43 mortos, 51 feridos graves e 151 feridos ligeiros, (Machungo,2010, pp.169-214). Assim, de 1964 a Junho de 1970, foram detectadas pelas nossas tropas 5.290 minas e engenhos explosivos, das quais 1894 accionadas por militares ou viaturas. Sendo que em Moçambique a situação se alastrava, por exemplo, nas linhas ferreas da Beira e de Nacala foram implementadas minas, que dificultaram o transporte de mercadorias e reabastecimentos, obrigando a complexas e desgastantes operações de escolta constante. Figura n° 8- Minas usadas durante a guerra de libertação nacional. Fonte: Guerra Colonial/DN Vejamos aqui a morfologia das minas, que de certa forma as armas mais terriveis na frente de Cabo-Delgado, encontrando-se ate hoje em certas zonas onde as populacoes coexistem com as minas. Elas são constituidas em geral por tres partes: caixa, pode ser de madeira, de plastico ou de metal, carga explosiva e espoleta para accionar. Porém, o seu efeito pode ser por sopro ou pela sua conjugação com os estilhaços provocados pela explosão e a pressão sobre um prato, foi a forma mais comum de accionamento dos que foram utilizados durante a guerra de libertação nacional. As minhas enriqueceram as esperancas dos guerrilheiros da FRELIMO, pois, elas têm com finalidade, a eliminacao da força viva do inimigo assim como contra viaturas do inimigo. Por exemplo, as minas anti-pessoais têm carga explosiva que varia desde cem gramas, por exemplo, a Encrier, às quatrocentas gramas da chamada Viuva Negra ou da PMD-6 sendo reguladas de modo a que o peso de um homem faça accionar a espoleta. Por seu turno, as minas anti-carros, podem ter cargas explosivas de alguns quilos, dependendo do tipo de viaturas que se pretende atingir e variando as pressoes de acordo com essa perspectiva em guerra. Por esta razão, durante a guerra pela independência nacional (1964-1974), foram utilizadas, quer pelas tropas portuguesas quer pelos guerrilheiros da FRELIMO, na frente de combate de Cabo-Delgado minas que ceifaram vidas humanas. Portanto, havia combinações de minas anti-pessoais e anti-carros com outros tipos de explosivos e materiais destinados a provocar estilhaços ou a propagar fogo, assim como técnicas de armadilhar minas, colocando-lhes por baixo, ou em zona próxima, engenhos que rebentavam quando essas minas eram levantadas. Figura n° 9 - Explosão de uma mina na frente de Cabo-Delgado. Fonte: Guerra Colonial/DN As minas usadas com maior frequência, em quase todas frentes de teato da guerra, Moçambique, Angola e Guiné, tinham proveniencia em paises de bloco de leste, embora aparecessem algumas francesas e italianas. Desesperadamente, as tropas portuguesas utilizaram ao longo da guerra na frente de Cabo-Delgado, todos os meios conhecidos de deteccao de minas e explosivos, destacando-se a “picagem”, cuja morosidade apenas permitia o seu emprego em área limitada, por exemplo, os pesquisadores das tropas portuguesas, não eram eficazes levavam tanto tempo, por medo. Os rebenta minas, habitualmente utilizados nas colunas motorizadas, que podiam ajudar a progressao da coluna, não eram tambem confiaveis. Ainda asssim, a coluna um a um, em fila indiana ou em bicha de pirilau, foi a formacao de combate mais utilizada pelos militares portugueses nas suas deslocacoes apeadas pelas matas da frente de Cabo-Delgado, no planato de Mueda. Forçosamente seguir por trilho já aberto na floresta ou avançar corta-mato era dificil opção a tomar em cada momento da progressão. Abrir caminho na floresta densa ou na savana de arbustos e ramos entrançados e espinhosos era mais seguro, mas constituia esforço tremendo que os esgotava em pouco quilómetros, enquanto que aproveitar trilhos já batidos pelas populações ou abertos por outros militares permitia avançar com maior facilidade, mas representava risco acrescido de enfrentar uma emboscada ou mina. Ademais, optar uma ou outra das soluções resultava da análise da situação no terreno da guerrilha da FRELIMO, mas era sempre jogo perigoso. Quando havia que chegar rapidamente aos objectivos e as tropas julgavam que a sua presença não fora ainda detectada pela guerrilha da FRELIMO da frente de Cabo-Delgado, escolhia-se marchar pelos trilhos e confiava-se na sorte. Portanto, o soldado número um da formação da coluna, procurava ler o terreno onde lia os pés e ver para além das árvores que se encontrava diante de si, de modo a evitar as minas e a estar preparado para reagir a alguma emboscada da guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado. Essencialmente, as Forças Armadas Portuguesas, em especial o ramo do exército, por ser o ramo que mais efectivos mobilizou para guerra em Moçambique (1964-1974), com mais impacto na frente de Cabo-Delgado. Assim, o dia-a-dia dos militares portugueses nos quarteis do mato da frente de Cabo-Delgado, passava-se entre tarefas de segurança, as operações e a rotina dos longos dias, exceptuando-se nas guarnições sujeitas a grande pressão dos guerrilheiros da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado. Em geral as tropas portuguesas durante a guerra na frente de Cabo-Delgado, cumpriam as suas tarefas em contacto com as populações locais, nas visitas nos bares, na correspondência com as familias portuguesas, na prática do desporto, por vezes na caça sem limites. Ora, a ideia prevalecennte na maioria dos militares era de que a comissão durava duas vezes 365 dias. Porém, a partir da data do embarque, iniciava-se a contagem decrescente até ao regresso a Portugal. Neste caso, a partir do local onde se encontrava o soldado português, ele media a distância a que estava da casa. Os quarteis portugueses na frente de Cabo-Delgado, reproduziam a cultura de origem dos ocupantes, sendo vulgar organizarem-se pequenas explorações agrícolas, onde se cultivavam produtos metropolitanos que melhoravam a dieta da alimentação das tropas portuguesas. As relações com a população local, eram regra geral, fáceis e traduziam-se na troca de serviços, dos domésticos aos sexuais, por algum tipo de remuneração, alimentos e tratamento sanitário, (Reader, (2002, pp.96-139). 4. Duas vontades em confronto – Descrição analítica do desenvolvimento da guerra Mediante o desaire do exército português na frente de Cabo-Delgado, em resposta das ações permanentes da guerrilha da FRELIMO, naquela frente, em 1970, em plena Luta de Libertação Nacional, viveu uma das maiores ofensivas militares levadas a cabo pelo exército colonial português, modernamente mais bem equipado em termos de armamento e em vantagem numérica no que toca aos recursos humanos, então em luta contra a guerrilha da FRELIMO, que em comparação dispunha de meios militares menos sofisticados e reduzidos efectivos em termos de guerrilheiros no terreno da frente de Cabo-Delgado. Portanto, aquela que foi considerada como a maior operação militar levado a cabo pelo exército português na frente de Cabo-Delgado, fez confluir para o planalto dos makondes, uma quantidade enorme de meios humanos e materiais belicistas, nunca vistos antes, com o objectivo de dar golpe à FRELIMO e assim pôr fim à guerra em Moçambique. Neste reportório, a FRELIMO se propunha a trazer uma estratégia no campo de batalha contra os soldados portugueses, a qual se denominava “contra-ofensiva” que visava diminuição de alvos a abater e atuar em pequenos grupos de guerrilheiros para não dar alvo ao inimigo, que consistiu em: dispersar os guerrilheiros, não só na base central, mas em todos destacamentos. Os destacamentos da guerrilha que não eram alvos, as suas forças vinham engrossar em sítios pertinentes para fazer ataques, contra a tropa portuguesa. Não se percebe de facto qual das versões são certas, dos acontecimentos de 1970, para os soldados portugueses, os marcos cronológicos da operação Nó Górdio situam-se entre 1 de Julho a 6 de Agosto de 1970, (FRELIMO, 1960-1975,pp.96-186). Assim, reparando para as balizas cronológicas da versão portuguesa, podemos concluir que ela se refere somente à fase principal da operação Nó Górdio, que consistiu no assalto à base central Moçambique, aos destacamentos de artilharia Gungunhana e também ao destacamento Nampula, no segundo setor militar. Excluiu-se assim, os ataques do exército português à base Beira e ao destacamento de segurança Limpopo, todos da FRELIMO, no primeiro setor militar em Junho de 1970. Neste contexto, fazendo referencia dos acontecimentos da guerra em Moçambique (1964-1974) e o seu impacto na frente de Cabo-Delgado, os estrategas militares da guerrilha da FRELIMO, situam operações inseridas no âmbito da operação Nó Górdio, a partir de Abril de 1970, distinguindo duas fases bem diferentes: a da pré-operações “Doninha” contra a base Beira, concretizado a 8 de Junho de 1970, inseridas na operação Nó Górdio secundária no primeiro sector militar onde se registou bombardeamento com aviões GENO 21 e FIAT 21, e a da Nó Górdio propriamente dita, principal, ocorrida no segundo setor militar. Para este debate, sobre o limite de atuação de Nó Górdio, o Chipande, antigo guerrilheiro da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, relata que: “os marcos cronológicos situados entre 1 de Julho a 6 de Agosto de 1970, tinham sido convencionados pelos estrategas militares portugueses, e a eles convinham, porque dependiam da NATO, todo apoio militar era da NATO, por isso a NATO é que ordenava e mandou parar, todas despesas eram pagas pela NATO”. Em contrapartida, enquanto o exército português ia retirando as tropas nas zonas de conflito, por considerar o fim da operação Nó Górdio, a guerrilha da FRELIMO da frente de Cabo-Delgado, intensificava cada vez mais a sua “Contra-Ofensiva”, provocando pesadas baixas ao exército colonial nessa frente. Na verdade, a guerrilha da FRELIMO nunca parou de atacar os soldados portugueses, mesmo depois de recuarem, eram perseguidos e eliminados ou capturados. Para melhor detalhe sobre essa operação, podemos geograficamente localizá-la, ela incidia na zona baptizada pelos soldados portugueses por “Núcleo Central do Planalto dos Makondes” na frente de Cabo-Delgado. Este perímetro, correspondia ao centro do planalto de Mueda, no segundo setor militar da guerrilha da FRELIMO, onde se localizava as principais bases militares operativos da FRELIMO, nomeadamente, base central Moçambique, destacamento de artilharia Ngungunhana e destacamento Nampula, alvos de assaltos pelos soldados portugueses na sua intenção da operação Nó Górdio. Como nos referimos acima nesta dissertação, a fase principal da operação Nó Górdio, foi precedida por 3 pré-operações, a saber, Doninha, Rodovia e Dureza e a que devia ser da zona dos Paus, no primeiro setor militar da guerrilha da FRELIMO, as quais culminaram com ataque à base Beira e com a captura do destacamento de segurança Limpopo em Junho de 1970, de acordo com as fontes dos combatentes daquela frente. Sendo assim, a operação Nó Górdio incidiu sobre o primeiro e segundo setores militares da guerrilha da FRELIMO, tendo contudo, a sua ação irradiado para além desses sectores, atingindo até o terceiro setor militar da FRELIMO em Macomia, e tendo mesmo influenciado a “zona de avanço” da guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado. Neste caso, das proposições da guerrilha da FRELIMO, da frente de Cabo-Delgado, afirmam que os soldados portugueses tinham limite no seu orçamento para a operação Nó Górdio, tinham que prestar contas, o estado português não tinha condições financeiras, também dependia da NATO, por isso tinham que convencionar datas para dar término a operação Nó Górdio que mais prejudicou o estado português nas guerras ultramarinas, (Moreira, 1979,pp.69-98). A operação Nó Górdio consistiu no cerco descontínuo, do que os estrategas militares portugueses chamaram de “Núcleo Central do Planalto dos Makondes” na frente de Cabo-Delgado, por meio de emboscadas montadas pelas unidades de caçadores do seu exército, envolvendo patrulhamentos pelos itinerários, utilizando dois esquadrões de reconhecimento ao longo de 140 km, tendo como alvo principal a base central Moçambique e os destacamentos Gungunhana, de artilharia e Nampula, como referimos acima nesta dissertação, (FRELIMO, 1960-1975,pp.79-169). Ainda assim, podemos focalizar a outra ideia que estava por detrás dessa operação, era a abertura de picadas e itinerários táticos, para garantir ou permitir a aproximação das unidades de assalto, mas a condição geográfica da vegetação não deu ocasião para a penetração completa no terreno da frente de Cabo-Delgado. Na época a vegetação do planalto dos makondes, dificultou sobremaneira a marcha dos soldados portugueses, rumo às três bases alvo, fazendo com que o exército português tivesse que recorrer aos “Bulldozers” para poderem infiltrar-se nesses três locais, através de abertura de novas picadas e organização de dois agrupamentos: um de comandos e outro de pára-quedistas, tendo como primeira fase, tomar de assalto a base central Moçambique e destacamento de artilharia Gungunhana; a segunda fase consistiria no assalto ao destacamento Nampula, envolvendo destacamentos de fuzileiros especiais, (Machungo, 2010,pp.145-197). Portanto, alguns guerrilheiros da FRELIMO que participaram na frente de Cabo-Delgado, na guerra em Moçambique (1964-1974), apontam que o Nó Górdio, foi uma estratégia de cerco e batida, empregando grandes meios e procurando isolar o planalto dos makondes, para o posterior assalto e destruição das bases Gungunhana, Moçambique e Nampula respectivamente. Estes objectivos alcançados a 6, 7 e 15 de Julho de 1970, encontravam-se abandonados, já que a FRELIMO tinha todas informações sobre as movimentações do inimigo e da sua operação Nó Górdio através da midia, com um afectivo de cerca de 8.000 homens só na frente de Cabo-Delgado e 22.000 homens para todo território de Moçambique,(Mauricio,1994,pp.39-79). Situação minimizada pelo exército português, dado que a operação não fora desencadeada de surpresa. Pelo contrário, o aviso fora claro a todas as populações e guerrilheiros, numa tentativa infrutífera de efectuar a recuperação de ambos com o mínimo de derrame de sangue. Como temos vindo a tecer esta discussão sobre o impacto da frente de Cabo-Delgado na guerra em Moçambique (1964-1974), do conjunto de medidas do impacto imediato tomadas pela FRELIMO, para contrariar a intenção da Nó Górdio, destacam-se: a reestruturação do Comando Provincial de Cabo-Delgado; a descentralizacao da base central Mocambique e dispersao dos destacamentos e sua organizacao em pequenos grupos para que se evitasse que, em caso de qualquer situação, os guerrilheiros fossem apanhados em unidades maiores, visto ate antes da operacao Nó Górdio, eles viviam em grandes unidades nos destacamentos e na base central Moçambique. Como estratégia, foi então que a base central foi subdividida em quatro partes, nomeadamente: Moçambique “A”; Mocambique “B”; Moçambique “C” e Mocambique “D”. porém, em Mocambique “A” passou a funcionar o comando da base central, era a chefia do comando militar provincial; em Mocambique “B”, concentrava-se o comando do II setor; em Moçambique “C” fora colocada uma companhia para impedir os soldados portugueses de chegarem à direcção do comando da província, para além de controlar a estrada Mocimbua da Praia a Chai e Ntadora em Awasse; em Moçambique “D”, estavam os considerados infractores, traidores e desertores, (FRELIMO,1977,p.268). No entanto, essa subdivisão, fora montada com a intenção de desnortear o inimigo, para que o inimigo não soubesse em que parte do planalto dos Makondes se encontravam os elementos do comando provincial, que eram os principais alvos a abater. Portanto, era necessário fazer essa subdivisão para descongestionar as bases e destacamentos porque, por exemplo, os efectivos de um batalhão, que eram de mais de 300 guerrilheiros, viviam numa só base. A medida de espalhar os efectivos para reduzir o alvo surgira exactamente quando se descobriu que o inimigo ia invadir as bases e destacamentos com cerrados bombardeamentos em artilharia e força aérea. Tendo em conta a situação política militar da frente de Cabo-Delgado, no contexto da operação Nó Górdio, uma especial atenção foi dada em relação ao destacamento de artilharia Ngungunhana, considerado um das bases importantes imediatamente a seguir à base central de Moçambique,(FRELIMO,1977,pp209-275). A situação do destacamento Gungunhana devia ser revista urgentemente. Assim, seguindo o mesmo princípio o de descentralização, a base de artilharia provincial, Gungunhana, foi também sub-dividida em três partes: Gungunhana “A”; Gungunhana “B” e Gungunhana “C”. Assim, o abandono de todos os destacamentos e bases e transferência dos paióis que existiam para outras zonas; divisão de efectivos em pequenas unidades e sua colocação em zonas bem definidas e estabelecer um aspecto de comando de coordenação local. No entanto, os destacamentos foram dispersos e constituídos em pequenas unidades, como dissemos acima nesta dissertação, (FRELIMO,1977,pp.298-307). Outrossim, as transferências de bases dos locais onde a FRELIMO previa que os soldados portugueses deviam ter reconhecimento do terreno já realizado. Foi então, nesse contexto que todas as bases foram instruídas a se transferirem para novos locais. Ainda outro factor, era preciso o reforço do abastecimento do material militar, transferir uma boa parte de munições e armamentos a partir do exterior ou do interior, em todos os sectores militares para evitar que, em caso de uma grande ofensiva, não escasseasse o material militar. Era também necessário efectuar o reforço do reconhecimento na frente de Cabo-Delgado, para o interior do inimigo, a FRELIMO enviava agentes reconhecedores para os quartéis dos soldados portugueses, e introdução de elementos da população para descobrir o segredo do inimigo e dessa maneira operacionalizar a estratégia dos assaltos nos seus quartéis, (FRELIMO,1977,pp.211-274). Nesta ordem de ideias, era preciso fazer o reforço dos ataques em redor dos aquartelamentos portugueses, atacando as suas patrulhas de ronda, de modo a obrigá-los a sair dos seus acantonamentos. Mesmo assim, os soldados portugueses mantinham-se encurralados em trincheiras na frente de Cabo- Delgado. Para isso, a FRELIMO usou a estratégia de minar picadas para que, em caso de tentativa de qualquer acção, o inimigo encontrasse as picadas todas minadas. Nesta acção a população participava abrindo grandes buracos ao longo das picadas e estradas. Também se plantava estacas de mandioca e bananeiras ao longo das estradas com finalidade de criar obstáculos para dificultar o avanço da tropa portuguesa,FRELIMO,1977,pp.209-247). Perante este cenário, a FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, intensificara a mobilização de guerrilheiros e da população explicando-lhes o que é que se esperava naquela altura, para se precaver da situação da operação Nó Górdio. Isso significava, moralizar a todos no sentido de que nos próximos tempos iria viver-se uma situação difícil. Continuando com esta discussão sobre o impacto da frente de Cabo-Delgado, na guerra em Moçambique (1964-1974), no primeiro trimestre de 1970, a situação começaria, de repente a modificar-se, sendo caracterizada por muita agitação do lado do exército português. No meio do mês de Maio, de 1970, o trabalho de reconhecimento levado a cabo pela guerrilha da FRELIMO, descobriria o seguinte segredo dos portugueses: que o exercito português estava a concentrar grandes efectivos nos seus quartéis, principalmente em Mueda. Esta confirmação teria vindo de um soldado negro, desertor da tropa portuguesa. Esse desertor confirmaria o reforço de aviação para atacar as bases. Diariamente o exército português enviava reforço para Mueda, através de aviões Nordtias. Por exemplo, uma coluna portuguesa que tinha saído de Mocimbua da Praia, abrindo nova picada com Bulldozers, protegida por canhões e morteiros e aviação, tinha feito um grande reforço de armamento em Mueda no primeiro semestre de 1970. Assim, os destacamentos da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, que já estavam descentralizados, começaram a provocar os soldados do exército português, atacando aqui e acolá, nos acampamentos e aquartelamentos, apesar de ser em pequenas unidades. Em Maio de 1970, uma grande força do exército português, dirigiu-se para o primeiro setor da guerrilha da FRELIMO, (Correia, 1999,pp.281-308). Nesta marcha, os soldados portugueses pretendia fazer diversão, abrindo uma grande picada em direcção à base Beira, para no seu avanço, os soldados portugueses se movimentarem com Bulldozers, canhões, morteiros para além da tropa de infantaria que servia de protecção da artilharia. No ar, destaca-se aviões do tipo Haward, FIAT G91. Como vínhamos debatendo nesta dissertação, a estratégia dos panificadores da tropa portuguesa da operação Nó Górdio, assentava em cercos, sendo no total dois, a saber: cerco norte e cerco sul. O cerco norte com o comando em Sagal, Mueda, tinha duas companhias de caçadores, duas companhias de artilharia e duas companhias de cavalaria. O cerco sul, com comando em Nangololo, tinha quatro companhias de caçadores, duas companhias de artilharia e uma companhia de cavalaria. Para a concretização da operação em causa, no triângulo constituído pelas três bases da guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, alvo dessa operação, designadamente, base central Moçambique, destacamento de artilharia Gungunhana e destacamento Nampula, foi necessário o exército português mobilizar um efectivo militar de 8.000 homens, como acima referimos, (FRELIMO, 1977,pp.204-256). Importa salientar que, os 8.000 homens não eram soldados quaisquer, mas todos eles soldados especiais, por exemplo: comandos, pára-quedistas, fuzileiros navais, caçadores. Por isso a criação de condições através de abertura de estrada Mueda-Mocimbua da Praia com o objectivo de garantir a vinda de efectivos militares provenientes directamente de Portugal, através de navios militares ou mercantes. Também a ampliação do aeródromo de Mueda, em 1970, para 400 m da área asfaltada inseria-se no contexto da preparação da Nó Górdio, era para permitir a aterragem e descolagem de aviões, para, duma só vez, descolar um par de FIAT G91, os Havards e os Allouettes, como já tínhamos referido neste debate. Para este efeito operativo, da estratégia do exército português, na sua intenção da Nó Górdio, compreendia: 7 companhias de comandos operacionais; 14 comandos de caçadores; 2 destacamentos de fuzileiros; 5 companhias de comando; 4 companhias de pára-quedistas; 4 grupos especiais; 2 esquadrões de reconhecimento; 1 companhia de morteiros; 3 baterias de artilharia; 2 companhias de engenharia, (Machungo,2010,pp.75-169). Ainda assim, os meios utilizados pelo exército português, na frente de Cabo-Delgado, a guerra em Moçambique (1964-1974), a nível da força aérea, para a Nó Górdio, foram: 25 aviões Dornier; 3 aviões que localmente eram chamados Namanyalomba; 4 aviões FIAT G91; 4 aviões a jacto; 7 helicópteros Allouettes; 2 Nordtlas e 1 avião DC 3. Todos esses meios aéreos foram utilizados na frente de Cabo-Delgado contra a guerrilha da FRELIMO durante a operação Nó Górdio. Estima-se em 18.000 homens o reforço do exército português, em força aérea para os combates na frente de Cabo-Delgado, (FRELIMO,1977,p.209). O jornal notícias de 18/07/1970, cita o general Kaúlza de Arriaga que anunciou os objectivos da operação Nó Górdio como sendo: a eliminação dos últimos redutos da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado e o encerramento das suas linhas de infiltração em todas as frentes da guerra em Moçambique (1964-1974). Neste âmbito, era necessário vir a Moçambique o general Kaúlza de Arriaga, no contexto da mesma operação, cujos objectivos resumia-se em: chegar em Moçambique e acabar com a guerra em todos os aspectos, quer político, tanto militar; acabar com a FRELIMO no interior; no exterior nada mais se falar da FRELIMO. É neste contexto que, a tropa portuguesa, ao atacarem a base Beira na operação Nó Górdio, na frente de Cabo-Delgado, usaram uma grande quantidade de armamento e efectivos, entre os dias 9 a 16 de Junho de 1970, nomeadamente: 5 aviões bombardeiros; 3 aviões a Jacto; 6 Helicópteros; 1 Dakota, propaganda; 1 avião de reconhecimento. Total: 16 aviões. O transporte realizou-se 13 vezes em grupos de 6 Helicópteros cada. Efectivos: 1 Batalhão,(FRELIMO,1960-1975,pp.79-99). Nisto, com o fim da pré-operação Doninha contra a base Beira, começou a segunda pré-operação, baptizada de Rodovia e Dureza pelos portugueses. Ora, esta acção tinha sido dirigida contra o destacamento de segurança Limpopo, que servia para depósito de material de guerra da FRELIMO, nesse destacamento o exército português capturou muito material militar da FRELIMO. A maior parte do material militar capturado era de reserva para o resto da frente de Cabo-Delgado. Ainda sim, as acções militares não terminaram com a pré-operação Rodovia e Dureza, visto que dias depois, o exército português abrira uma outra estrada, desta feita, a partir da zona de Nula, nas zonas de Bomela, passando por Nandimba em duração na Ngangolo, uma antiga base que já tinha sido abandonada pelos guerrilheiros da FRELIMO, tendo ai acampado a três quilómetros da base da guerrilha da FRELIMO. Presumisse que essa operação devia ter ocorrido na zona dos Paus, a terceira, depois das pré-operações Doninha, Rodovia e Dureza. Em consequência das operações militares entre a guerrilha da FRELIMO e soldados portugueses na frente de Cabo-Delgado, na fase das três pré-operações dirigidas à base Beira e destacamento de Segurança Limpopo, no primeiro sector militar, o balanço em vitimas humanas situou-se em sete mortos no seio dos guerrilheiros da FRELIMO, quatro dos quais através de minas e três por baleamento. Para fazer fase aos ataques da tropa portuguesa contra a guerrilha da FRELIMO, o Estado-Maior da FRELIMO fez contactos no exterior, para aquisição do novo armamento, por exemplo, a Tanzânia, China, Rússia e outros que eram amigos da FRELIMO. Esses países forneceram morteiros para a guerrilha da FRELIMO: morteiro 61, morteiro 60, 81 e 82; canhões 75 e B10. A maioria dos guerrilheiros aprenderam a manejar para combater o exército português, (Pelembe,2011,pp.93-179). Durante os debates nas nossas entrevistas para esta dissertação, alguns antigos combatentes da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, afirmaram que, a artilharia desempenhou um papel muito importante nessa frente. O inimigo não tinha espaço de manobra, porque constantemente era bombardeado por lançamento de obuses enquanto a forca guerrilheira da infantaria o cercava. Dessa intensidade de ataques de artilharia da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, o exército português, foi obrigado a desfazer os cercos, saindo no terreno derrotado e totalmente desmoralizado e desorganizado, com índice de deserções muito maior. Destaca-se também o grande desempenho da sede do comando militar central da FRELIMO em Nachingwea, que se mostrou eficaz e eficiente, no fornecimento de reforços cruciais em guerrilheiros e armamento, bem como a solidariedade das Forças Armadas Tanzanianas, que chegaram mesmo a apoiar a guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, em armamento durante a operação Nó Górdio. Reflectindo racionalmente sobre o móbil para o ataque das três bases da guerrilha da FRELIMO no segundo setor da frente de Cabo-Delgado, nomeadamente, a base central Moçambique, destacamento de artilharia Gungunhana e o destacamento Nampula, supõe-se as razões seguintes: a base central Moçambique por ser a base provincial, era ai onde se encontravam os membros da estrutura do comando militar provincial, o cérebro do comando militar provincial, residia nesse local; destacamento de artilharia Gungunhana, por se base de artilharia da província, tudo o que era artilharia estava relacionado com essa base, o ataque com artilharia era a responsabilidade dessa base; destacamento Nampula, por estar perto de Mueda, era alvo principal, porque impedia a movimentação do exercito português, tornou-se alvo por causa de Mueda e Sagal, incluindo a estrada que liga Mueda a Sagal, (Armindo, 1972,pp.45-59). Uma das outras razões do ataque às três bases principais da guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, na guerra em Moçambique (1964-1974), na região baptizada por “Núcleo Central do Planalto dos Makondes” era para os planificadores estratégicos do exército português nessa operação,”atacar a base social”, para enfraquecer a frente em debate, como dissemos anteriormente nesta dissertação. Algumas opiniões guerrilheiras da frente de Cabo-Delgado, afirmam que o fracasso dos portugueses nas suas operações contra a guerrilha da FRELIMO, pode em parte ser explicado pela prepotência dos próprios soldados portugueses que, no seu avanço eram incapazes de fazer um movimento silencioso. No seu avanço para atacar a guerrilha da FRELIMO, por exemplo, avançavam com canhões, ou com aviões, helicópteros em cima, e isso permitia aos guerrilheiros da FRELIMO verem a direcção que estava sendo visada por eles. Por isso, quando avançassem para uma determinada direcção, a sua retaguarda era atacada pelos pequenos grupos de guerrilheiros formados para o efeito. Realça-se também a acção das minas, por exemplo minas anti-tanque e minas anti-pessoais, os guerrilheiros colocaram minas até na zona de profundidade, onde o exército português fazia vasculha. Maior número de mortes do efectivo do exército português era causada pelas minas dos guerrilheiros da FRELIMO, isso desmoralizou os soldados portugueses na frente de Cabo-Delgado, (Moiane, 2009,pp.132-167). Há uma controvérsia a cerca dos efectivos mortos durante os conflitos na guerra em Moçambique (1964-1974). Enquanto os então militares do exército português atribuem o maior número de vítimas mortais à FRELIMO durante a operação Nó Górdio, em contrapartida, antigos guerrilheiros desse movimento independentista, que combateram na frente de Cabo-Delgado, lembram que contrariamente, a essa informação, notava-se que eles, os portugueses, para além da complicada gestão da situação militar, sofriam pesadas perdas humanas no terreno, por isso a guerrilha rechaçou o Nó Górdio. Sendo assim, podemos notar nesta dissertação, que o cenário militar da ofensiva Nó Górdio e contra-opfensiva da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, conduziu às seguintes consequências no terreno combativo: a guerrilha se restaurou estrategicamente e se adequo as exigências da operação Nó Górdio; conseguiu desnortear os objectivos da operação Nó Górdio; os soldados portugueses atacaram bases e destacamentos da guerrilha da FRELIMO, estrategicamente abandonados havia três meses; como acima referimos, em Junho de 1970, o destacamento de segurança Limpopo da FRELIMO, cira nas mãos do exército português, passando a ser conhecido pela designacao de “base Omar”. Base Omar, era o local de reserva de armamento para toda a frente de Cabo-Delgado, com a sua captura, significou perda de grande vulto em material militar, configurando assim, uma situação de dificuldades para a guerrilha da FRELIMO naquela região. A situação obrigou a guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, a desenhar estratégias de introdução de armamento, bem como de evacuação de feridos de guerra, do interior para Tanzânia e vice-versa. Há vários fatores estratégicos, em cenários de conflito, quer da FRELIMO como dos portugueses. Por exemplo, o destacamento provincial de artilharia, Gungunhana, abandonado estrategicamente pela guerrilha da FRELIMO antes da Nó Górdio, foi ocupado durante 33 dias pelos soldados portugueses, período durante o qual se travaram renhidos combates para e reversão do mesmo a favor da guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado. No dizer de alguns combatentes da guerrilha da FRELIMO, da frente de Cabo-Delgado, nos ataques a ambas direcções, no primeiro e segundo setores militares operacionais, da guerra em Moçambique (1964-1974), houve fatalidades, traduzidas em mortos e feridos, sendo, no entanto, mínima do lado da guerrilha da FRELIMO e com maior índice do lado do exército português. Nesta análise pela importância da frente de Cabo-Delgado, na guerra em Moçambique (1964-1974), podemos realçar que, a captura de muito material da FRELIMO nessa frente pelo exército português durante a operação Nó Górdio, não significou o fim de introdução de material militar para a guerra desse movimento independentista em Cabo-Delgado. Este factor, pelo contrário, constitui-se em desafio convertido em oportunidades para a intensificação de uso de vias alternativas para o transporte de transporte de material e outras necessidades. Salientasse que o primeiro sector tinha outro material e o comando desse sector organizara elementos do destacamento feminino para transportar o armamento e outros materiais, do primeiro sector para o segundo sector, passando entre Diaca e Mocimbua da Praia, por um lado. Por outro lado, a introdução do material na frente de Cabo-Delgado, fez-se utilizando Nachingwea, por via da fronteira da zona de Sindano. Ainda assim, pode-se reconhecer que o uso de via alternativas pela guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, embora se mostrasse vantajoso, acarretou esforço humano redobrado por parte dos respectivos carregadores, sobretudo elementos do destacamento feminino, para alcançar Cabo-Delgado, marchando dias-a-fio, e em condições difíceis, com material na cabeça, (Vaz,1997,pp.123-202). Mesmo assim, durante a contra-ofensiva da guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, nas direcções secundária e principal, o exército português sofreu baixas, tanto humanos, como materiais. É neste contexto, que até Novembro de 1970, na frente de Cabo-Delgado, o exército português tinha retirado, de forma vergonhosa, os seus soldados das zonas das bases de guerrilha da FRELIMO, exceptuando Omar, outrora destacamento de segurança de Limpopo, no primeiro setor militar, base que permaneceu durante quatro anos sob alçada do exército português, e cuja retirada se concretizou por rendição do exército português, pois, todos efectivos que estavam na Omar, se renderam sem troca de tiros. Dessa forma, o exército português não atingiu o seu objectivo na frente de Cabo-Delgado, consubstanciado na ideia de acabar com a FRELIMO, através de liquidação das forcas vivas da guerrilha desse movimento independentista, (Alves,2001,p.171). Com a complicada situação na frente de Cabo-Delgado, o exército português, não conseguiu ter as populações das zonas libertadas de Cabo-Delgado do seu lado, apesar de toda manobra nesse sentido, incluindo o uso da forca e a utilização de bombas napalm, com intuito de eliminar a forca popular com o colonialismo português. Alguns dos entrevistados da parte da guerrilha da FRELIMO, da frente de Cabo-Delgado, nesta dissertação, afirmam que: não é a FRELIMO que se proclamou vencedora da operação Nó Górdio, mas sim, o mundo, é que reconheceu a vitória da FRELIMO, por isso, o mundo apoiou totalmente a FRELIMO. Portanto, os guerrilheiros da FRELIMO, afirmam que, foi a capacidade da FRELIMO em manter as coisas e continuar a presença física, e continuar a atacar os soldados portugueses com mais violência e com maior racionalidade combativa. Da versão do exército português sobre os combates na frente de Cabo-Delgado, contra a guerrilha da FRELIMO, referem que: existência de desarticulação da guerrilha da FRELIMO, face às destruições provocadas pelo potencial e espírito ofensivo das tropas portuguesas, desmoralização da guerrilha pela carência de toda ordem e prestigio perante as populações, que apresentaram acentuado desequilíbrio psicológico. Sendo assim, para o comando português, a operação Nó Górdio na frente de Cabo-Delgado, atingira os objectivos que haviam sido fixados e se projectou muito para além dos mesmos, podendo os soldados portugueses deslocar-se para onde, como e quando quisessem nessa frente. Face esta situação, visando dar continuidade a contra-ofensiva da guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, em 1971, a FRELIMO introduziu nas frentes de combate, o sistema táctico regular, houve pois condições para isso, tais como, o aumento de efectivos militares, boa operacionalidade dos meios de comunicação para eficiente combinação entre infantaria e artilharia, (Davidson,1978,pp.91-148). A frente de Cabo-Delgado, com a sua guerrilha, foi capaz de introduzir o sistema táctico regular que consistia em: atacar por muito tempo, e, à mesma hora, os alvos militares portugueses que se encontravam em varias frentes, com recurso às comunicações, Era assim possível, atacar com mais efectivos, mais armas, mais meios, por exemplo, a mesma hora, atacar Mueda, atacar Negomano, atacar Macomia, Ngapa,Tete, Chingodzi, Nangade, etc., tudo era feito com sistema de comunicação mais rápido e eficiente, por exemplo, (rádios), (FRELIMO, 1977,pp.139-179). Os guerrilheiros da FRELIMO, por nós entrevistados na frente de Cabo-Delgado, realçam que a introdução do sistema táctico regular no período pós operação Nó Górdio, não significou o fim da guerra de guerrilha, os dois métodos coexistiam, com a diferença de que, enquanto ao táctico regular se recorria, de tempos a tempos, o baseado em guerra de guerrilha, era permanente, diário, o mais usado. Nesta onda de desespero do exército português, na frente de Cabo-Delgado, apareceu um novo fenómeno, principalmente nas zonas libertadas, notou-se o lançamento de produtos com teor químico, que eram essencialmente do tipo herbicida. Contrariamente à bomba napalm, que já era usada pelos portugueses, nos inícios da luta de libertação nacional (1964-1974). Os produtos do tipo herbicida foram lançados pela aviação do exército português, depois do fracasso da Nó Górdio, contra as machamabas das populações, fazendo apodrecer todas culturas,(FRELIMO,1977). Com efeito, é quase que uma crença popular quando as populações do planalto dos makondes, se referem ao fenómeno de produtos químicos. Uma grande parte da população dessa região, crê que hoje se produz pouca quantidade de castanha de caju na maior parte da zona planáltica devido à ação de algum produto com teor químico. Pois, antes da luta de libertação nacional, a província de Cabo-Delgado produzia grandes quantidades de castanha de caju. Há uma certa relação entre os produtos químicos, a bomba napalm, lançados pelos soldados portugueses e a produtividade de castanha de caju em Cabo-Delgado, (FRELIMO,1960-1975). Desta feita, no seio da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, havia a possibilidade da utilização de mascaras anti-química, já se aventava na presença de uma guerra química em Cabo-Delgado, devido o desespero do exército português. Com a evolução do cenário da guerra na frente de Cabo-Delgado, a guerrilha da FRELIMO, introduziu as armas estratégicas mais eficazes, por exemplo, GRADE P e STRELA 2M, foram as últimas armas que a guerrilha usou contra os soldados portugueses, 1972 até 1974. Essas armas eram usadas para atacar em grandes distâncias, por exemplo, podia a guerrilha atacar Porto Amélia, Montepuez, etc.,(FRELIMO,1977,p.95). Com uso dessas armas pela guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, o exército português viu-se obrigado a evitar o uso de aviação, porque facilmente era abatido, e tinha efeito desmoralizador pelo seu impacto no terreno. Neste contexto, o alcance da ofensiva militar generalizada pela guerrilha da FRELIMO, o comando geral desse movimento, orientava que: usando a artilharia moderna, o inimigo devia ser atingido cada vez mais nos seus interesses vitais, a extensão da luta a novas zonas para que a correlação das forças se estabeleça definitivamente a favor do povo moçambicano para apressar assim o desmoronamento do colonialismo português e do imperialismo e prosseguir a construção de um Moçambique livre, próspero e forte, pelo qual todo o povo anseia. Foi sempre notório, a dor e o desgaste, consequentes do peso da guerra no terreno da parte dos soldados portugueses. Por exemplo, num ataque da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo- Delgado, contra o posto militar português em Quiterajo em 1973, os guerrilheiros encontraram, entre outros documentos capturados uma carta escrita por um militar português, com a patente de Capitão, para a sua mãe, em Portugal, dizia: “Mamã, aqui morre-se! Aqui morre Capitão, aqui morre Alferes, aqui morre Sargento! Só não morre o Major porque ele fica lã em cima a comandar as operações”! Estes avanços da guerra na frente de Cabo-Delgado (1964-1974), é assinalada com a chegada a Dar es Salam de armas mais potentes que o foguetão 122 mm, admitindo-se que possam ser os mísseis Strela, hipótese depois confirmada. Há aliás, notícia de que membros da FRELIMO e do MPLA, alunos da Escola Militar da Crimeia, na União Soviética, tinham sido treinados no manejo dos “Strela”,(FRELIMO,1977,p.239). Os guerrilheiros da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, afirmam que, nós (guerrilheiros da FRELIMO) tínhamos Degtyares 12,7 e ZPU de 14.5, tendo sido atingidos e abatidos vários DO-27, T-6e ALL III. Sublinham ainda que, quando o PAIGC começou a ter mísseis Strela do tipo SAM-7, fabrico russo, a reacção da força aérea portuguesa fora péssima, pois tinham abatido três FIAT, dois DO-27 e um T-6. Dessa feita, com a introdução na guerrilha do SAM-7, a FRELIMO tinha armas mais potentes do que o exército português, (De Almeida, 2001,pp.69-94). Enquanto a guerrilha da FRELIMO introduzia o míssil portátil, Strela, na frente de Cabo-Delgado na guerra em Moçambique (1964-1974), no primeiro trimestre de 1974, em Portugal estava-se nas vésperas da revolução de Cravos, de 25 de Abril de 1974, como referimos nos capítulos anteriores nesta dissertação. É de salientarmos que, a revolução de 25 Abril de 1974, em Portugal, não significou o fim da guerra na frente de Cabo-Delgado. Sendo assim, a guerrilha da FRELIMO continuou com as operações militares com eficácia nessa frente. Nesta altura, as autoridades militares portugueses, consideravam a situação militar portuguesa em Moçambique, preocupante. Portanto no inicio de 1974, a situação na frente de Cabo-Delgado, era francamente preocupante. Segundo um relatório da 3ª Repartição do Quartel General da Região Militar de Moçambique, em 1974, a situação seria a seguinte: em Cabo-Delgado, as acções bélicas tinham crescido ligeiramente, no aspecto quantitativo, e mais sensivelmente no aspecto qualitativo, ataques aos aquartelamentos eram em elevado numero, alguns de grande envergadura, tendo começado a ser usados mísseis terra-ar. Porém, o aparecimento do míssil portátil Strela 2M, da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, e o impacto por si criado em 1974, no cenário da guerra em Cabo-Delgado, constituiu novidades e feitos de peso nesse ano do fim da luta de Libertação Naional. Estes aspectos não passaram despercebidos aos olhos de alguns estudiosos mundiais dizendo que: o míssil terra-ar fez a sua aparência dramática na guerra na frente de Cabo-Delgado, pois, um avião português de transporte de marca Dakota, de fabrico dos Estados Unidos de América, transportando adidos militares provenientes da Grã-Bretanha, Estados Unidos, África do Sul e Brasil, fizera aterragem forçada durante a viagem de Nangade a Nampula, depois de ter sido abatido por um míssil. Enquanto isso, uma circular do Quartel General do exército português, datada de cinco de Junho de 1974, reconhecia que o crescendo das operações militares da guerrilha da FRELIMO incidia, sobretudo, em duas vertentes: a de implantação de engenhos explosivos nos itinerários mais frequentemente utilizados pelas tropas portuguesas e a de ataques a guarnições militares, especialmente na frente de Cabo-Delgado, como sendo o de maior impacto nessa guerra de (1964-1974). Sendo assim, revista a situação do decurso da luta armada pelo seu impacto na frente de Cabo-Delgado, foi nesta óptica que o comando militar central da guerrilha da FRELIMO, decidiu levar a cabo, com o maior sigilo, a maior operação militar contra o exército português, com o objectivo de tirar a companhia portuguesa que se encontrava em Omar, Namatil, região que era conhecida popularmente por Nambiliau. Há muitos destaques sobre a frente de Cabo-Delgado, na guerra em Moçambique (1964-1974). Por exemplo, o assalto e a captura de 137 soldados portugueses na base Omar, em Namatil, ou Nambiliau, que a guerrilha da FRELIMO considerou como sendo uma batalha que foi ganha sem nenhum disparo, (FRELIMO,1977,pp.205-274). Segundo depoimentos de certos combatentes da antiga guerrilha da FRELIMO, que participaram nessa batalha, a tomada de Omar foi, acima de tudo, uma autêntica humilhação militar, política e diplomática para Portugal. Ainda assim, o assalto e a captura da base Omar, na frente de Cabo-Delgado, não significavam o fim das operações militares levadas a cabo pela guerrilha da FRELIMO contra os postos militares do exército português, situados ao longo da fronteira Moçambique-Tanzânia. Assim, do ocidente para o oriente, ao longo dessa fronteira, eram seguintes os quartéis do exército português: Nengomano- Nazombe-Mocimbua do Rovuma-Omar/Namatil-Nangade-Pundanhar-Palma. Neste decurso, os quartéis acima descritos tinham sido reconhecidos para posteriores ataques e assaltos dos guerrilheiros da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado. Porém, com as aproximações dos acordos de Lusaka, acto que legitimou o fim da guerra em Moçambique, não houve necessidade de atacar mais o exército português. Na frente de Cabo-Delgado,a retirada de soldados portugueses no terreno, não se processou duma única vez. Dados da guerrilha da FRELIMO na frente de Cabo-Delgado, afirmam que: 4 de Agosto de 1974, foi a retirada dos soldados em Nangololo; 8 de Agosto de 1974, retirada dos soldados portugueses em Sagal; 8 de Agosto de 1974, retirada dos soldados portugueses em Mueda. A assinatura dos acordos de Lusaka, na Zâmbia, a 7 de Setembro de 1974, entre a guerrilha da FRELIMO e o governo Português, pondo fim aos dez anos da luta de libertação de Moçambique, significou para as frentes em luta, o cessar das operações militares no terreno. Dos detalhes aqui trazidos nesta dissertação, em discussão sobre a guerra em Moçambique (1964-1974), impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional, podemos concluir que o processo da luta armada com paradigma de guerra de guerrilha, foi deveras complicado, porque as contingências eram adversas no campo de batalha para os dois beligerantes. 4.1. Análise e discussão de dados O trabalho do campo, foi efectuado no período entre o segundo trimestre do mês de Maio até nos princípios do mês de Julho do ano em curso, na região da frente de Cabo-Delgado, nos distritos de Mocimbua da Praia e Mueda, focalizando-se o centro dos antigos combatentes em Magaia, adjacente ao Município de Mocimbua de Praia, na província de Cabo-Delgado. Após a realização das entrevistas e os inqueritos, a partir dos antigos guerrilheiros da FRELIMO, soldados, sargentos, oficiais e civis, que participaram na guerra em Moçambique (1964-1974), contra o exército português na frente em discussão nesta dissertação, nos remete a seguinte tabela dos resultados. Tabela n° 2. resultados dos inquiridos sobre o impacto da frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional (1964-1974) 1,2,3,4,5 Número Percentagem Apoios a FRELIMO Número Percentagem Obs Concordo totalmente 18 25.7 Concordo totalmente 41 58.5 Concordo parcialmente 6 8.6 Concordo parcialmente 2 2.9 Outras 1 1.4 Outras 2 2.9 Subtotal 25 35.7 Subtotal 45 64.3 Total 70 100 Fonte: Dados recolhidos pelo autor durante a pesquisa Como podemos constatar, a tabela 2, em relação ao impacto da frente de Cabo-Delgado, na guerra em Moçambique (1964-1974), que detalham a tendência modal dos inquiridos, sobre o decurso da luta armada contra o exército português. Podemos notar que 35.7% concordam sobre o impacto da frente de Cabo-Delgado na sua contribuição para a derrota do exército português nessa frente. Do grupo dos antigos guerrilheiros da FRELIMO, em batalhas na frente de Cabo-Delgado,25.7% referiram que foi graças a frente de Cabo-Delgado que a luta armada de libertação nacional teve avanços significativos, contribuindo para a abertura das outras frentes e o apoio interno e externo a favor da FRELIMO nessa frente, facilitou a manobra da guerrilha para a derrota do exército português nessa frente. Por seu turno, 8.6% dos guerrilheiros inquiridos, apontam que o uso da estratégia da guerra de guerrilha prolongada, terá contribuído para o alargamento da frente de Cabo-Delgado contra o exército português, nesse domínio, contrariava-se a ideia do Lázaro Kavandame que propunha naquela frente para cercar os soldados portugueses em menos de 24 horas, capturá-los, expulsá-los e ele tornar-se líder naquela frente. Prestando ainda maior atenção a tabela em referência, podemos constatar que 58.5% dos inquiridos apontam os grandes apoios internos e externos que a FRELIMO gozava, ficando numa situação de vantagem em termos de resultados no terreno combativo da frente em discussão nesta dissertação. Cerca de 2.9%, constitui o universo dos antigos guerrilheiros da FRELIMO, inquiridos que defendem a tendência parcial e outras situações do decurso das hostilidades contra o exército português, sobre o impacto da frente de Cabo-Delgado na guerra em Moçambique (1964-1974). Portanto, desses resultados, traduzidas a partir dos inquiridos que participaram na frente de Cabo-Delgado, como guerrilheiros da FRELIMO, realçamos que de facto, a frente de Cabo-Delgado teve maior impacto na contribuição para a libertação de Moçambique em 25 de Junho de 1975. Tabela n°3. opinião dos entrevistados, antigos guerrilheiros da frente de Cabo-Delgado. A frente de Cabo-Delgado Número Percentagem Limitações do Exército Português Número Percentagem Eficácia e Eficiência 44 62.8 Isolamento Interno e externo 26 37.2 Subtotal 62.8 26 37.2 Total 70 100 Fonte: Dados recolhidos pelo autor durante a pesquisa Dos entrevistados, todos participaram activamente na guerrilha da frente de Cabo-Delgado, têm uma longa experiência sobre o processo da guerra de libertação nacional (1964-1974). Questionados sobre a eficácia e eficiência da guerrilha da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado, do seu impacto na guerra em Moçambique (1964-1974). Segundo a tabela acima, 62.8% responderam que o seu enquadramento com o paradigma da guerra de guerrilha, lhe facilitou ter uma boa mobilidade no terreno, usando tácticas de guerra de guerrilha, por isso, era notório a sua eficácia e eficiência em combates contra o exército português. Outros antigos guerrilheiros do universo de 37.2%.,defendem que, foi notório o isolamento interno e externo do exército português durante a luta armada de libertação nacional nessa frente. Foi com este factor que quão contribuiu a desmoralização das tropas portuguesas na frente de Cabo-Delgado durante a guerra em Moçambique (1964-1974). Especificando a tabela acima transcrita, diríamos que os 26 dos inquiridos, 13 são oficiais, 11 são sargentos e 2 são soldados, que realçam que as tropas portuguesas sofreram um enorme isolamento quer interno e externo, devido a sua politica desumana e hedionda perpetrada na frente de Cabo-Delgado durante a luta armada de libertação nacional (1964-1974). Portanto, durante a entrevista com os antigos guerrilheiros da FRELIMO, na frente de Cabo-Delgado fizemos menção que os entrevistados nos falassem dos níveis de envolvimento na conjuntura das duas forças em confronto (a guerrilha da FRELIMO e o exército português). Em resposta, disseram que, sendo o período de guerra que envolvia todo o território Moçambicano, era de esperar que os portugueses não teriam nenhuma capacidade de defender todo o território. Aliás, Portugal já suportava três guerras nas suas colónias ultramarinas, por isso, tinha somente pontos fracos, e não podia conseguir atingir os seus objectivos, sendo que o “centro de gravidade da guerra de guerrilha” era o planalto dos makondes, aqueles que o governo português massacrara em 1962. Conclusão Analisando o decurso da correlação de forças dos dois beligerantes, entre a guerrilha da FRELIMO e o exército português, na guerra em Moçambique (1964-1974), na frente de Cabo-Delgado, diríamos que foi deveras importante esclarecermos certos aspectos nesta dissertação, embora de forma parcial, por limitação de recursos financeiros para aquisição de instrumentos potentes, rigorosos que permitam trazer resultados fiáveis em situações holísticas deste género. No aspecto da guerrilha da FRELIMO, nessa frente, tinha sido delineado um plano fortemente colectivo para chegar ao estado final das operações da guerra vencida contra o exército português, cujo centro da gravidade das hostilidades viria a ser no planalto de Mueda ou planalto dos makondes, como preferirmos, senão vejamos: a preparação para o inicio da luta armada foi precedida por um intenso trabalho de mobilização às populações da frente de Cabo-Delgado, desse modo a guerrilha da FRELIMO era como “peixe na água”, enquanto que, o exército português era como “peixe fora da água”. Na nossa discussão sobre o conceito de guerra, da guerrilha, da guerra de guerrilha e da subversão ou insurgência, notamos a situação polissémica em todos estes conceitos, por isso, nesta dissertação deixamos o nosso paradigma do conceito de guerra e de guerrilha. Apesar disso, demonstra-se claramente que, o paradigma da guerra de guerrilha foi tanto usado para fazer frente exércitos belicistas, para desorientá-lo numa luta armada prolongada como defendem certos estudiosos no âmbito da guerra e paz. Assim, a FRELIMO, inteligentemente percebeu que fazer confrontos directos com os soldados portugueses seria fatal em termos do alcance do objectivo de libertação nacional. Portanto, dada a brutal actuação do regime colonial, alguns populares mostravam-se cépticos quanto à vitória da guerrilha da FRELIMO, questionando: será que, com o armamento que o exército português tem, com a máquina tão brutal de que dispõe na sua actuação, a FRELIMO conseguirá vencer a luta armada? No entanto, a resposta a esta inquietação ia sendo dada no decurso do desenvolvimento da guerra em particular na frente em debate nesta dissertação. Ora, desde a idealização da luta armada, desde da sua preparação, inicio, desenvolvimento e até o seu estado final, podemos concluir que a luta de libertação nacional na frente de Cabo-Delgado, passou pelos vários estágios, que quão fizemos referência nesta dissertação, que culminou na sua materialização substantiva até a independência nacional em 1975. Um outro factor que pode ter corroborado para os resultados negativos da parte do exército português é a falta de atenção nas suas políticas incoerentes, desumanos contra a população Moçambicana em geral, também aliado pelo isolamento na arena internacional e a revolução do povo revolucionário de Portugal que combatiam o regime fascista do Salazar e do Caetano e seus lacaios da máquina colonial. Ademais, a presença das zonas libertadas na frente de Cabo-Delgado, condicionou a confiança das populações aos guerrilheiros da FRELINO nessa frente, ao contrário do exército português que bombardeava as populações, com a bomba napalm e outros produtos químicos mais violentos, acelerou o ódio das populações contra os soldados portugueses. Quanto a caracterização dos inquiridos, os resultados da pesquisa realizado no terreno através de inquéritos e entrevistas, mostram que na sua grande maioria, dão maior ênfase na coerência dos objectivos da FRELIMO, que levaram o estado final da sua vitoria total contra as tropas portuguesas. Revelam ainda que, a concentração de maior esforço na frente de Cabo-Delgado pelos dois beligerantes, culminou com o desaire dos soldados portugueses, cuja estratégia mostrou-se ineficaz na frente de Cabo-Delgado, pelo menos para as tropas portuguesas era visível o seu desgaste e imobilidade no terreno. Respondendo a nossa pergunta de partida, “ durante a luta armada de libertação nacional, que impacto teve a frente de Cabo-Delgado, no contexto da guerra de guerrilha perpetrada pela FRELIMO (1964-1974) contra o exército português”? Torna-se claro que a frente de Cabo-Delgado, durante a guerra em Moçambique (1964-1974), em todos seus setores e destacamentos da guerrilha, contribuíram tanto para o desenvolvimento da guerra e alicerçou o avanço das outras frentes para a contra-ofensiva aos soldados portugueses. Uma questão revelante, se coloca com referêrncia ao factor político, ou seja a racionalidade política perpetrada pela FRELIMO, que culminou numa linha tão inteligente, cujo lema ou palavra de ordem era”Estudar, Produzir e Combater”, dai que na teoria Machelista que culminou em mobilização das massas populares cujo ideial foi”fazer da escola como a base para o povo tomar o poder”. Assim, consoante essas noções, incluindo a de unidade nacional, formulando um nacionalismo forte e um movimento independista alicerçado nas massas populares, a FRELIMO logrou a vitória dos 10 anos de luta armada, vencendo o exército português em todas frentes de batalha no território Moçambicano. Este debate acaba de mostrar mais uma vez, que não se pode vencer um povo unido por simples poder belicista, mas sim, fazendo dialógica inteligente, cooperando com as perpectivas, as expectativas sociais e a vontade do povo, para dessa forma ganhar confiança nesse povo. Assim, a declaração geral da luta armada a 25 de Setembro de 1964, é o primeiro acto público de guerra contra o sistema colonial e belicista português, legitimando as ações subsequentes de natureza politico-diplomatico. Porém, na essência, este ato de grande significado histórico, teve eco positivo em Moçambique e na arena internaciol, pois, materializava o direito de autodeterminacao de moçambicanos, plasmado nas diversas resoluções da ONU. Nisto, a FRELIMO mostrava ao mundo a determinação em conduzir a luta pela emancipação politica do povo moçambicano. Ademais, o anuncio de hostilidades militares contra potencia colonizadora resulta da constatação de que a recusa sistemática o desrepeito pelas normas do direito internacional pelo regime português não mudariam por via pacifica, mas sim, por via armada. Como dissemos nesta disssertação, o anúncio da inssureição geral armada é o culminar da maturidade da consciência colectiva ou seja, inteligência colectiva dos moçambicanos, que determinava a tomada de atitude crucial para derrubar o sistema colonial, pois esse sistema nunca iria satisfazer os anseios moçambicanos. Em relação à resposta das nossas hipóteses da pesquisa, comecemos pela primeira que questionava se” a frente de Cabo-Delgado durante a guerra de guerrilha contra o exército português, teve influência significativa no alargamento das outras frentes”? Durante o debate sobre as contribuições dessa frente, na guerra de guerrilha da FRELIMO, confirmamos que “sim”, pois, pela escalada de derrotas contra o exército português, a guerrilha da FRELIMO reforçou as suas bases e destacamentos, abrindo assim a oportunidade do desenvolvimento da luta armada de libertação nacional (1964-1974). Foi nessa frente que a grande operação militar designada Nó Górdio ocorreu, sendo considerando como o “centro de gravidade das hostilidades” na guerra contra os soldados portugueses. A nossa 2ª hipótese procurava saber se “o grande esforço multisectorial do exército português, em combate contra a guerrilha da FRELIMO no planalto de Mueda, estava na origem do seu desempenho nessa frente”? A resposta é” não” , verificamos que o exército português apesar de ter feito grande esforço na abertura de estradas, manutenção de pistas de aeródromos, introdução de infrasetruturas para a guerra, tentativa de propaganda nas populações e no seio da guerrilha, nada lhe serviu. Mesmo assim, a sua intervenção não consistia apenas em áreas de guerra, mas também em áreas sociais que visavam fortificar o controlo da máquina repressiva colonial, por isso, o seu esforço era visto e traduzido como a continuidade da política opressiva contra o povo moçambicano. A 3ª hipótese da pesquisa, procurava saber se “ existem contributos de atores internacionais para a guerra em Mocambique”? Respondemos esta questão que “sim”, pois existem claras evidências que a guerra em Moçambique (1964-1974), tinham origem por apoios das organizações internacionais, por exemplo, da parte da FRELIMO, tinha sido apoiado em larga escala pela ONU, pelos países de pendor socialista, o bloco da Varsóvia e muitos outros movimentos independentistas de todo o mundo. Nessa ordem de ideia, a FRELIMO recebia apoios em armamento e formação dos guerrilheiros a partir de países socialistas ou de outros paradigmas independendistas. A luta diplomática da FRELIMO, consistiu na realização de um conjunto de actividades, dando maior ênfase às tarefas de negociar, informar e representar a organização junto do movimento mundial de solidariedade. A FRELIMO desempenhou esta função através de seus representantes permanentes destacados no exterior e por meio de seus enviados especiais a eventos internacionais, por exemplo, conferências e simpósios. O conceito de luta armada revolucionária, por definição é teórico e empiricamente difícil de distinguir com clareza as linhas divisórias que descrevem os “meios pacíficos e violentos”. Na prática, os dois campos interagem entre si e se reforçam mutuamente, pois deve haver a combinação de acções políticas, diplomáticas e militares. Neste contexto, a FRELIMO afirma que “a experiência mostrou que era necessário agir de forma integrada, combinando a ação da frente diplomática, política com o esforço militar, com paradigma de guerra de guerrilha”. Por seu turno, o exército português, recebia os seus apoios a partir de países de pendor imperialista, essencialmente pela NATO e os Estados Unidos da América e outros com essa visão. Este resultado vem corroborar as previsões de certas teorias de guerra e paz, em especial o esforço da teoria de guerra de guerrilha com paradigma “de guerra prolongada”, usado em larga escala pelos movimentos inpendendistas para atingir as independências das suas nações, como reza a resolução 1514 da ONU de 1960. A doutrina do alcance da “Paz através da força”, foi muito bem interpretada pela direção da FRELIMO e outros movimentos independendistas. Esta doutrina, embora atribua primazia ao poder militar, constitui a essência do princípio segundo o qual “se queres a paz, prepara-te para a guera”. É neste contexto que, ao fazermos este debate, sobre o impacto da frente de Cabo-Delgado, procuramos dimensões proceduais sobre os processos de guerra, as suas motivações. Não é apenas uma aventura, dizermos que não há nenhum estado que tem capacidade de se defender sozinho, mas sim, com a defesa colectiva, popdemos ir longe e evitarmos ataques de surpresa e ciberguerra. Em termos gerais, a guerra em Moçambique (1964-1974), constituiu uma esperança para o alcance da inpendência nacional e o fim do jugo colonial em Moçambique, por um lado, e por outro, o alcance da democracia em Portugal, pois, o inimigo da FRELIMO nunca foi o povo português, mas sim, a máquina colonial e os seus lacaios. Bibliografia ANICETO, Afonso; GOMES, Carlos de Matos (2000) ˗ “Guerra colonial”. Lisboa: Editorial Notícias. ARMINDO, Martins Videira (1972) ˗ ” Relatório da Acção número 01”. Lisboa. ARON, Raymond (2002) ˗ “ Paz e Guerra entre as Nações”. São Paulo. ARRIAGA, Kaúlza de (1987) ˗ “Guerra e política. Em nome da verdade os anos decisivos”. Amadora: Ed. Referendo. ALVES, Ulisses, (2001) ˗ ”Operação Nó Górdio”- Descrição Operacional. Lisboa. ASPREY, Robert.(1975)- War in the Shadows: the history of guerrilla. Garden City, New York: Doubleday, BARROSO, Luís (2012) ˗ “Salazar, Caetano e o Reduto Branco”: A Manobra Político-Diplomático de Portugal na África Austral (1951-1974). Lisboa: Fronteira do Caos. BERNARDO, Manuel Amaro (2003) “Combater em Moçambique. Guerra e Descolonização 1964-1974”. Lisboa: Prefácio. BOBBITT, Philip (2003) ˗ “A Guerra e a Paz na História Moderna”. Rio de Janeiro: Editora Campus. CLAUSEWITZ, C. Von.(1997)- On war. Ware: Wordsworth. CARVALHO, Hermenegildo (2010)- Revisitar Amilcar Cabral, Fundamentos da sua liderança. Disponível em http://pro-africa.org/revisitar-amilcar-cabral-fundamentos-da-sua-liderança/.Consultado em 4/02/2015 CABAÇO, José Luiz (2010) ˗ Moçambique: identidade, colonialismo e libertação. São Paulo: UNESP. CAETANO, Marcello (1972) ˗” Progresso em Paz”. Lisboa: Editora Verbo. CALVÃO, G. Alpoim e PEREIRA, Sérgio A. (1994) ˗ “Contos de Guerra”. Lisboa. CANN, John (1998) ˗ “Contra-Insurreição em África 1961-1974. O Modo Português de Fazer a Guerra”. São Pedro do Estorial: Edições Atena. CORREIA, Pedro Pezarat (1999) ˗ “Descolonização. Do Marcelismo ao fim do Império, Revolução e Democracia”. Lisboa. CABRAL, Amílcar(1975)-. Arma da Teoria: unidade e luta. In ANDRADE, Mário (org). Portugal: Seara Nova. DAVIDSON, Basil (1978) ˗ A política da Luta Armada: Libertação Nacional nas Colónias Africanas de Portugal. Lisboa. DE ALMEIDA, Pires (2001) ˗” Nó Górdio- Análise Operacional”. Lisboa. FRELIMO.De 196 a 1975. 3ª Edição. Maputo. FRELIMO, (1977) ˗ “História da FRELIMO”. Maputo: Edição do Departamento do Trabalho Ideológico. GARCIA, Francisco Proença, (2003) ˗ “Análise Global de Uma Guerra (Moçambique 1964-1974) ”. Lisboa: Prefácio. GOMES, Carlos de Matos; AFONSO, Aniceto (2009) “Os anos da guerra colonial, 3º volume, 1962. Optar pela guerra”. Lisboa: QuidNovi Edições. GOMES, Carlos de Matos (2002) ˗ “Moçambique 1970: operação «Nó Górdio»”. Lisboa: Prefácio. GUEVARA,Ge, (1982);Guerra dse Guerrilha. Havana. INAM,(2002)-Serviços de Meterologia. Maputo. INE, (2001)-Dados Estatisticos. Maputo LAGES, José Manuel (1999.) ˗ ” Guerra Colonial” – Uma História por contar. Lisboa. LOUSADA, Abílio Pires (2013) ˗ “Da Guerra de África 1960-1975. Análise Estratégica e Militar”, in Da História Militar e da Estratégia. Estudos de Homenagem ao General Loureiro dos Santos, Lisboa, Exército Português/Estado-Maior do Exército, 2013. MAZRUI, Ali A e WONDJI, C. (2010) ˗ “África desde 1935”. São Paulo: UNESCO, vol. VIII. MAO TSÉ-TUNG(1961) -Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária da China. In Mao Tse-tung:Obras Escolhidas, Vol 1. Tradução de Renato Guimarães. MONDLANE, Eduardo (1975) ˗ “Lutar por Moçambique”. Lisboa: Editora Sá da Costa. MACHUNGO, Afonso Cornélio A. (2010) ˗ ” Planalto de Mueda: Seu papel na Luta de Libertação Nacional. Pemba. MELO, João de e VIEIRA, Joaquim, (1998) ˗” Os Anos de Guerra 1961-1975. Os Portugueses em África”. Crónica, Fição e História, 2 vols. Lisboa: Publicações Dom Quixote. MACHEL, Samora, (1977) ˗” O Processo da revolução democrática popular em Moçambique”. Maputo. Ed. FRELIMO. MOIANE, José P.(2009) -Memorias de um guerrilheiro. Maputo MOREIRA, Adriano (1979) ˗” Ciência Política” – Salazar in Guerra Colonial, Lisboa. MONDLANE, Eduardo (1968) ˗ “Lutar por Moçambique”. Maputo. MAURÍCIO, Jorge (1994) ˗ “A guerra colonial”, os deficientes das Forças Armadas Portuguesas e a “ADFA”. Lisboa. MOREIRA, Dores (2001) ˗ “Nó Górdio- Análise Politico Estratégico”. Lisboa. MAE,(2009)-Administracao Estatal. Maputo. Memórias da Revoluço (1962-1974), “Coletânea de Entrevistas de Combatentes da Luta de Libertaçao Nacional”. Maputo. PELEMBE, João Facitela (2011) ˗” Lutei pela Pátria”. Maputo. PIMENTA, Gustavo (1999) ˗” Sairòme M – Guerra Colonial,”. Porto: Palimage Editores. PINTO, António Costa (2001) ˗ “O Fim do Império Português”. Lisboa: Livros horizonte. READER, John (2002) ˗ “África. Biografia de um Continente”. Mem Martins: Publicações Europa-América. REZENDE, André (1996)- As Antiguidades da Lusitânia. Ed. de R. M. Rosado Fernandes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. SPINOLA, António de (1974) ˗ “Portugal e o futuro: Análise da conjuntura nacional”. Lisboa: Arcádia, 3ª edição. VIEIRA, Sérgio (2011) ˗ “Participei, por isso testemunho.” Maputo. VAZ, Nuno Mira (1997) ˗ “Opiniões Públicas durante as Guerras de África 1961/74”. Lisboa: Quetzal/ Instituto da Defesa Nacional. RAWLS, John, et al (2000) ˗ “Uma teoria da justiça”. São Paulo: Martins Fontes. ZIPPELLIUS, Reinhold (s/d) ˗ “Teoria Geral do Estado”. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Apendice 1 - Corpo de Conceitos Guerra - Segundo Aron, (2002,p.71), “a guerra é um ato de violência destinado a obrigar o adversário a realizar nossa vontade”. Guerra – é a “violência organizada entre grupos politicos, em que o recurso a luta armada constitui pelo menos, uma possibilidade potencial, visando um determinado fim politico, dirigida contra as fontes de poder do adversário e desenrolando-se segundo um jogo contínuo de probabilidades e azares”, (Couto, 1988, pp.148-153). Segundo o dicionário Porto Editora, (1979), “a Guerra é a Luta mão armada entre nações ou partidos”. Para H.Bull, (1977), “a Guerra é a violência organizada e levada a cabo entre unidades politicas”. Na acepção de Malinowsky, (1968), “a Guerra é contenda entre unidades politicas independentes através de força militar organizada, para atingir objetivos da tribo ou da politica nacional”. No continente Europeu, o fundador da Polemologia, o francês Gaston Bouthol, entende a Guerra como “la lutte armee et sanglante entre mouvements organises”, (Bouthol, 1991, pp.35-41). Na definição mais clássica de Clausewitz (1976), considera que a Guerra, “não é somente um ato politico, mas um verdadeiro instrumento politico, uma continuação das relações politicas, uma realização destas por outros meios”, acrescentando este autor que , apenas uma parte das relações politicas, e por conseguinte de modo algum qualquer coisa de independente”e destina-se a forçar o adversário a submeter-se a nossa vontade”,(Clausewitz, 1976,pp.73-97). Assim, nesta dissertação, propomos o nosso conceito de “guerra”. Para nós, dissertentes “a Guerra é a capacidade de manobra temporal e danosa, fazendo o uso racional calculativo de recursos disponiveis, impondo o inimigo constrangimentos dolorosos que enfraquezam a sua moral combativa, corte total da sua iniciativa belcista, imobilizando-o, recorrendo às táticas militares convencionais, eficazes e transversais”. Guerrilha - Vejamos aqui, da sua origem etimológica, Guerrilha (em espanhol: guerrilla, que significa,”pequena guerra”) é um tipo de guerra não convencional, no qual o principal estratagema, é a ocultação e extrema mobilidade dos combatentes, chamados de guerrilheiros, incluindo os civis armados, não se limitando apenas a civis armados ou irregulares”, (Rezende, 2010,pp.76-123). Segundo Asprey, (1975,pp.161-167), “a Guerrilha, trata-se de levar um adversário, por muito mais forte que seja, a admitir condições frequentemente muito duras, não engajando contra ele senão por meios extremamente limitados”. Guerrilha- é preciso um trabalho popular intensivo, explicando os motivos da guerra de guerrilhas, os fins desta mesma guerra, disseminando a verdade, de que não se pode vencer o povo de maneira definitiva, (Guevara, 1982,pp.20-29). Mao Tse-Tung (1961,pp,136-148), apresenta-nos a “Guerrilha como sendo uma guerra prolongada”, que deve ser defendida como estratégia defensiva de longa duração, conduzida em flagrante inferioridade de forças e sob cerco estratégico do adversário, ou seja, em linhas interiores”. “A guerrrilha, é a conjugação de forças e meios disponíveis para a manutenção de uma luta armada e combates contínuos contra o inimigo, visando o asseguramento político-militar para a conguista da independência nacional”. Colonialismo - é a política de exercer o controlo ou a autoridade sobre um território ocupado e administrado por um grupo de indivíduos com pode rmilitar, ou por representantes do governo de um país ao qual esse território não pertencia, contra a vontade dos seus habitantes que, muitas vezes, são desapossados de parte dos seus bens, como terra arável ou de pastagem e de eventuais direitos políticos que detinham, (Rawls, 2000,pp. 123-134). Neocolonialismo - é o processo de dominação política e econômica estabelecido pelas potências capitalistas emergentes ao longo do século XIX e início do século XX esse processo mostra claramente as consequências da colonização feitas pelas metrópoles, pois as antigas colonias passam a vender matéria prima e a comprar o produto industrializados das potencias, que acarretam um capital imenso e passam a emprestar para as nações emergentes (antigas colonias) que passam a dever e mesmo depois de independentes podem ser consideradas "colonias" das nações com grandes poderes económicos, (Rawls, 2000,pp.123-139). Estratégia - Segundo Tavares, (2002,p.97), “consiste no conjunto de decisões e directrizes que permitem definir um campo de actuação para a instituição e uma orientação de crescimento”. Programa Quiquenal do Govero – é um documento orientador aprovado pela resolução número 16/2005, de 11 de Maio da Assembleia da República, cujo objectivo é o combate a pobreza absoluta e desenvolvimento económico sustentável e social. Anexos Anexo A – questionário PROPOSTA DO QUESTIONÁRIO INICIAL PARA O TEMA:” A GUERRA EM MOCAMBIQUE (1964-1974). O IMPACTO DA FRENTE DE CABO-DELGADO NA LUTA PELA INDEPENDENCIA NACIONAL” A pesquisa tem objectivos puramente académicos, qualquer dúvida contacte o pesquisador através do celular +258827138340-ISEDEF, Email:dr.anly1962@gmailcom i. Dados dos inquiridos: Sexo________________, Idade__________Tempo de serviço no MDN________, Categoria________________Patente_____________se civil que função ocupa ou ocupava____________________________________________________________ ii. Instruções Este questionário consiste num conjunto de afirmações sobre os sentimentos que as pessoas manifestam relativamente à Frente de Cabo-Delgado durante a Luta Armada de Libertação Nacional. Considere somente o que sente sobre “a guerra em Moçambique (1964-1974), o impacto da Frente de Cabo-Delgado na luta pela independência nacional”. Por favor, leia cada afirmação e depois, para indicar a sua resposta, use a seguinte escala: 1.Discordo totalmente 2.Discordo parcialmente 3.Não concordo nem discordo 4.Concordo parcialmente 5.Concordo totalmente Perguntas Categorias 1 2 3 4 5 i. Foi graças a Frente de Cabo-Delgado que a Luta Armada de Libertaçào Nacional teve avanços significativos, contribuindo para a abertura das outras Frentes? ii. O apoio externo e interno a favor da Frente de Cabo-Delgado durante a Luta Armada de Libertaçào Nacional, facilitou a manobra para a derrota do Exército português? iii. O uso da Estratégia da guerra de guerrilha prolongada, terá contribuido para o alargamento da Frente de Cabo-Delgado contra o Exército Português? iv. O Exército Português, até entào, tinha moral combativa na Frente de Cabo-Delgado? v. O Exército Português colaborava com a guerrilha? vi. A guerrilha e o Exército Português já não queriam mais fazer a guerra como continuidade da Politica Colonial? vii. Mesmo se o Exército Português quisesse continuar com a guerra, seria muito difícil sair vitorioso, devido a pressão internacional? Anexo B Guião de Entrevista para a Frente de Cabo-Delgado i. CARACTERIZAÇÃO DO ENTREVISTADO: Nome: ___________________________________________________________________ Cargo/Funçao_____________________________________________________________ ii. OBJETIVOS: 1) Conhecer e compreender o impacto da Frente de Cabo-Delgado durante a Luta Armada de Libertação Nacional bem como os respectivos domínios de actuação no campo de Batalha. 2) Conhecer e compreender as estruturas e arte militar dos dois beligerantes da Frente de Cabo-Delgado. 3) Conhecer e compreender os procedimentos da contribuição da Frente de Cabo-Delgado para o alargamento da luta Armada de libertacao Nacional, conhecer da existência, ou não, das limitações da guerrilha e do Exercito português. 4) Perceber a existência, ou não, de factores que possam contribuir a vitória da guerrilha e os aspectos positivos e negativos do Exército português. Blocos Questões Observações / Notas Legitimação da Entrevista Esclarecer sobre o propósito da entrevista; Agradecer a disponibilidade e garantir a confidencialidade; Solicitar autorização para gravar a entrevista. Informar o entrevistado sobre os objetivos da entrevista; Motivar o entrevistado; Garantir a confidencialidade da informação; Solicitar permissão para gravar a entrevista. A actividade da Frente de Cabo-Delgado Pedir ao entrevistado que se refira quanto às actividades da Frente de Cabo-Delgado e respectivos domínios de actuação. Procurar obter informação que caracterize os cenários susceptíveis do impacto da Frente de Cabo-Delgado. Procurar obter informação que permita perceber melhor a Frente de Cabo-Delgado. A actividade do Exercito Português na Frente de Cabo-Delgado Pedir ao entrevistado que se refira as actividades operacionais do Exército português.. Pedir ao entrevistado que se refira quanto às estruturas militares do Exército Português.. Pedir ao entrevistado que se refira quanto ao processo do alargamento de outras Frentes de Combate.. Pedir ao entrevistado que se refira quanto as motivações morais do exército português. Procurar obter informação que caracterize a pressao interna e externa, com propósitos de guerra de guerrilha e prolongada. Limitações e constrangimentos do Exercito português Pedir ao entrevistado que se refira quanto aos desvios e insuficiências (pontos fracos) do Exercito português na Frente de Cabo-Delgado. Procurar obter informação sobre elementos que permitam esclarecer a operacionalidade da Frente de Cabo-Delgado. Final da entrevista e agradecimentos Perguntar ao entrevistado se tem mais alguma informação que queira acrescentar acerca do tema e dos assuntos até então abordados, e agradecer a sua colaboração, e referir que esta foi importante para o trabalho. Colocar o entrevistado à vontade, para falar abertamente do que achar conveniente sobre a matéria. Maputo, 05 de Maio de 2015 Pesquisador: Maj Silva Anli-ISEDEF